sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Furo no Zé Simão

Atenção atenção! Direto do país da piada pronta! Mais um exemplo irado de tucanês!! É que o Eduardo, dirigindo em BH, deu de cara com a propaganda da loja MULTIFORM- Moda Corporativa. Tucanaram o uniforme!! E quem disse que a copeira e o pedreiro não podem estar na moda em pleno serviço? Tá certíssimo!!!

Hoje só amanhã. Que eu vou comer pão de queijo com leite de soda!!

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Campus é campus

Pense numa ECA (Escola de Comunicações e Artes) misturada com a FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) e com o Instituto de Psicologia, da Universidade de São Paulo. Aqui na Universidade Federal de Minas Gerais, todas essas escolas estão reunidas num só lugar, a popular Fafich, ou Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Dá para imaginar a loucura?

Mesmo sem conhecer o dia a dia do campus, já me senti em casa. O oásis de verde e ar puro na cidade esconde cenas muito familiares para quem freqüentou a velha USP por cinco anos. Há ali o Movimento dos Sem Carro pedindo carona, o banheiro estilo Bagdá sem tranca e sabonete, a cantina com atendentes mal pagos e de mau-humor, a biblioteca anos 70 com quadros de reitores na parede e alguém batendo a cabeça de sono na mesa de estudos.

O “DataCartaz” me informou que a Fafich está em fase de campanha para as eleições do Diretório Acadêmico, ali chamado de “DA”. Foi divertido ver como os companheiros da classe internacional dos estudantes de universidades públicas vive dramas parecidos. Seguem algumas reivindicações. Os destaques são meus.

CHAPA 3 – “MUDANÇA DE ATITUDE”: Contra a apatia e a omissão

Frases do jornalzinho: A última gestão foi marcada por várias sabotagens internas aos que queriam realmente fazer um DA diferente. Duas consepções foram colocadas em jogo (...) (Assim mesmo, com erro de ortografia. Alguém da oposição grifou em amarelo todas as “consepções” do texto.)

Propostas: Contra o amento de preço do bandeijão. Pelo meio passe. Defesa do milharal. (?) Luta na justiça contra taxas. I Olimpíada da Fafich.

CHAPA 2 – “BARRAGEM”

Frases estampadas em duas folhas sulfite amarela: Pela revitalização da sinuca!!! Por Calouradas de arromba! Vote: chapa 2

CHAPA 1 – “MuD.A.”

Propostas em letras minúsculas no cartaz amassado: Preservar o milharal. Regulamentação do buteco da Fafich.

Ao que parece, a coisa anda disputada. Como correspondente em MG, tentarei cobrir os desdobramentos da eleição. Ou ao menos descobrir que milharal tão importante é esse.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Não tem japonês trás de mim

Minas não foi a terra eleita pelos orientais que aportaram no Brasil. Não há bairros ou comunidades de japoneses ou chineses. A cena de uma turma de Exatas no cursinho Etapa, na Vergueiro, é inimaginável por aqui. Uma visita ao bairro da Liberdade deve ser, por esses motivos, imperdível aos mineiros turistas em Sampa.

Entre os poucos orientais que dizem “uai”, está a família responsável pelo disputado restaurante San Ro, no bairro Funcionários. Os sites de Guia de BH dizem que a casa é “especializada em culinária taiwanesa”, mas aposto que os donos não se incomodam em ampliar o menu com itens como creme de abóbora com milho, arroz integral, salada, frango xadrez, sushi...

O fato é que a visão do dragão feito com cenoura crua somada ao paladar a la shoyo, ao cheiro de chá de jasmim e à música instrumental satisfazem plenamente os sentidos de uma paulista ávida por olhinhos puxados.

sábado, 24 de novembro de 2007

Outros quilombos

São 17h de mais uma sexta-feira. A rua Iraí fica tomada por filas de meninos e meninas – dos pitocos aos adolescentes. São quase todos negros. Ou quase pretos, de tão pobres. A aula acaba e o formigueiro de camiseta azul explode em trilhas para os quatro cantos da cidade. Ocupam as calçadas e um pedaço do asfalto numa euforia cheia de hormônios, risada, brincadeira. Atropelam quem passa.

Nesse dia, um moleque andou 10 metros puxando o rabo de cavalo da menina, enquanto, do outro lado da rua, passava uma turma de manos: boné, camiseta larga, tênis sem marca. Muitos usavam chinelo de dedo. Metade das meninas tinha mochila cor-de-rosa nas costas. Um ti-ti-ti sem fim.

Em frente à igreja, um grupinho de amigas sincroniza o pai-nosso. Os muito pequenos são carregados pelas mãos de mulheres que, de tão jovens, poderiam ser alunas da mesma escola. O Haiti é aqui.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Semana da Consciência Negra em grande estilo

O ponto de encontro entre Brasil e África também é em Minas. De 19 a 25 de novembro, o Festival de Arte Negra irá ocupar os principais espaços culturais da cidade com cortejo, shows musicais, exposições, espetáculos de teatro e dança. Fiquei interessada pela mostra de cinema Nigeriano, que começou ontem com um debate sobre a poderosa indústria cinematográfica daquele país, já conhecida como “Nollywood”.

Para sintonizar-se com a África, no entanto, é preciso ficar de ponta cabeça. Livrar-se de esteriótipos e assumir nossa ignorância quanto à cultura desses povos. Essa urgência ficou latente ontem, durante o show da banda Tartit, da região de Timbuktu, Mali. O grupo de músicos composto por cinco mulheres e quatro homens causou grande estranhamento, tocando com tambores típicos, instrumentos de corda rústicos e... uma guitarra. Um dos rapazes arrasou, correndo e levando os braços pelo palco, em busca de impulso para voar. Uma experiência saariana, que pode ser disseminada via myspace.

domingo, 18 de novembro de 2007

Dica musical















Neste feriadão, a novidade por aqui é a mais recente descoberta musical do Eduardo, que anda feliz da vida baixando kilos de bites do blog Loronix: http://loronix.blogspot.com. Apesar de escrito em inglês, o objetivo é divulgar boa música brasileira dos anos 50 aos 70. Tem samba, bossa nova, jazz e MPB do arco da velha. Além da qualidade, o principal critério é trazer LPs não disponíveis comercialmente.

Todo dia tem um disco novo com foto da capa original, seguido do “release” com curiosidades, da “track list” e da relação de todos os músicos. Seguem alguns destaques feitos pelo especialista da casa:

- Chico Buarque de Hollanda & Ennio Morricone - Per un Pugno di Samba (1970) | Italy

Neste álbum, Chico canta versões em italiano para músicas como Umas e Outras e Quem Te Viu Quem Te Vê. Ennio Morricone foi um dos principais compositores de trilhas sonoras de cinema no século 20.

- Turma da Gafieira - Samba em HIFI (1957)

O autor do blog – pseudônimo zecalouro – alerta para o risco que a foto da capa representa: a mulher de biquíni minúsculo não tem nada a ver com a banda de gafieira dos anos 50 composta por músicos excepcionais como Sivuca, Baden Powell e Altamiro Carrilho.

- Antonio Carlos Jobim and Frank Sinatra - Sinatra Jobim, the Lost Tape (1969)

Segundo os colaboradores do blog, esta fita K7 contém a única gravação de Sinatra de Desafinado. Outras canções, como Água de beber, Samba de uma nota só, Por causa de você e Wave, foram lançadas em discos dispersos, mas a fitinha jamais evoluiu sequer para um LP.

Para facilitar a vida de quem gostou da dica, o blog tem um sistema de busca para encontrar um dos 1.511 discos já postados.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Depois que a banda passou...








Acabou a TEIA. Foram nove dias intensos de trabalho, festa e encantamento.

A oficina de jornalismo cultural independente articulou um grupo de quatro malucas e um maluco com muita vontade de pôr a mão na massa e revolucionar o “fazer jornalístico”. Como todos os 100 participantes estavam principalmente envolvidos com a cobertura via Internet, colaborando com a Agência TEIA 2007, concluímos que era urgente produzir algo para aqueles que não têm acesso a computador. Claro que boa parte dos sonhos não foi colocada em prática. Mas conseguimos rodar um informativo diário, feito em folha A4 dobrada, com tiragem de 500 exemplares, destacando as pessoas que aqui estavam, suas histórias e perspectivas. Deu certo! A reação de quem recebeu o informativo em mãos foi ótima. No terceiro número, já nos pediam os anteriores e sugeriam mil pautas...

Publicamos desde a fala de abertura do Gilberto Gil à oficina de penteado afro, passando pelos problemas na organização do evento e pela reivindicação dos índios do Ponto de Cultura Índios On Line, que formalizaram o pedido de um Cineclube para o Ministério da Cultura. Uma loucura.

Tive momentos como ouvinte, deixando a paranóia de “cobrir” tudo o tempo inteiro. Para compartilhar com os amigos de longe, recorro ao bloquinho de anotações e faço aqui um esforço de memória para registrar os melhores momentos...

Suassuna

“Em primeiro lugar, quero pedir desculpas. A minha voz é feia, baixa e rouca. Atualmente também tenho pigarro. Quando fui secretário de Miguel Arraes ele também pigarreava. E as pessoas pensavam que eu imitava o chefe. Não tem coisa pior.”

Delicia ouvir Ariano Suassuna falar. É um show-man. Se bem que chamá-lo assim seria uma ofensa. O homem é extremamente nacionalista e fervoroso defensor da cultura brasileira. A aula dele, que inaugurou o Seminário Internacional Saberes Vivos, devia ser sobre o barroco, mas até metade da manhã ele falou do pigarro e contou por que vestia aquela combinação de roupas – camisa vermelho-escuro com calça preta. Disse que, inspirado por Gandhi, resolveu não comprar vestuário dos “colonizadores”. Arrumou uma costureira chamada Edith. Mas raramente consegue uma combinação razoável. Por isso, costuma ser barrado em eventos sociais. “Não tenho cara de autoridade. Acho isso bom!”.

Em seguida, emendou com a história do dia em que ligaram da Academia Brasileira de Letras para pegar as medidas para a tal “roupa dos imortais”. Ariano quis que Edith fosse a costureira. Não deu certo. E se disse indignado com o sotaque do carioca que fez a ligação. “Aquilo não é sotaque brasileiro. É sotaque de aeroporto”, afirmou, brincando com o “a Infraero inforrrma... vôo 123, com destino a Brasiiiiliaaaa...”.

Na parte séria da aula, criticou Oscar Niemeyer – “pode ser um ótimo arquiteto, mas não brasileiro. Ele transformou Brasília num mausoléu.” – e enalteceu Aleijadinho e Gabriel Joaquim dos Santos, o arquiteto autodidata que construiu a Casa da Flor, em São Pedro da Aldeia, perto de Cabo Frio (RJ). Esse “cabra macho da peste”, como classificou Suassuna, criou uma casa sem muro, aproveitando lixo doméstico, principalmente cacos de vidro e louça. Até sua morte, em 1985, fez luminárias, molduras, estantes, mosaicos.

Apaixonado por futebol, Suassuna elogiou profissionais que fazem sua atividade como “Robinho joga”. Terminou elogiando Daiane dos Santos, “outra grande pequena brasileira”. “Ela deve ter sofrido um preconceito danado. Primeiro, porque é mulher. Segundo, porque é negra. Terceiro, porque é pobre. Mas ela faz ginástica como Robinho joga”.

Gil

A programação da TEIA foi intensa demais. Organizada em oficinas, mostras, debates e apresentações, dispersou o público muitas vezes, perdido nos diversos locais simultâneos em que tudo acontecia. Uma das atividades da programação era “Cultura digital – Que porra é essa?”. Resolvi conferir. Eis que o debatedor... é nosso ministro Gilberto Gil!! Figura, microfone estilo Serginho Groisman, conversou com a pequena multidão largada em almofadas num espaço abafado da Casa do Conde.

Além de receber críticas, apontou a dificuldade em enfrentar os interesses por trás do monopólio da radiodifusão no Brasil, pregou o compartilhamento de conteúdos na web e defendeu que o direito ao acesso à cultura deve ser mais importante que o direito autoral. [Pena que declarou recentemente a intenção de largar o Ministério....]

Ação Comunitária do Brasil

Essa ONG, que existe há quase 40 anos no complexo da Maré e em Cidade Alta, no Rio, virou Ponto de Cultura e tem feito um trabalho incrível com os jovens dessas favelas. Foram eles que coordenaram a oficina de penteado afro, procurada por brancos e negros. Também venderam roupas lindas, feitas com silk e bordados que remetem à memória dos morros.

O grupo se apresentou no teatro Francisco Nunes com um show incrível, que durou duas horas. Meu conceito de capoeira finalmente chegou ao patamar merecido. Arrasaram. Teve ainda muita dança – maculelê, jongo, samba – e música, cantada por uma baixinha arretada, dona de uma voz incrivelmente forte.

Balanço...

Fiquei feliz em constatar que o dinheiro público anda apoiando iniciativas desse porte. Com 60 mil reais por ano para Pontos de Cultura como o maracatu Leão Coroado e o projeto Vídeo nas Aldeias, parece que finalmente estamos caminhando rumo à descentralização do acesso a políticas públicas de cultura.

A sensação de que “um outro mundo é possível” é muito mais latente durante a TEIA do que nos dias das duas edições do Fórum Social Mundial que presenciei (Porto Alegre 2003 e Caracas 2006). Ao menos, é o meu registro.

Em tempo: as fotos são de Élcio Paraíso, fotógrafo oficial da TEIA. Mais imagens em http://www.flickr.com/photos/teia2007.

Informativo Nós da TEIA

Número 1 (Dia 8)





















Número 2 (Dia 9)





















Número 3 (Dia 10)


















"Núcleo duro" do Informativo: eu, Carolina Gutierrez, Clara Guimarães e Elisandra Amâncio (textos) e Guilherme Ávila (diagramação).

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Em nome da arte













Antes que a onda de atividades do TEIA ocupe todo meu tempo, precisava registrar aqui minhas duas experiências no Festival Internacional de Dança, que aconteceu de 24 de outubro a 4 de novembro em vários cantos da cidade. Com o lema “Dança para todo mundo”, pensava que o FID pudesse trazer espetáculos mais palpáveis, que colaborassem com a formação de público - os ingressos custavam só R$ 2. Ledo engano. Muitas das peças selecionadas (Brasil, Quênia, França, Dinamarca, Austrália e Argentina) trabalharam mais com idéias conceituais sobre dança do que a dança em si.

Ainda assim, gostei de fazer parte do público sempre lotado dessas apresentações. Em “Estudos para impressões”, de Denise Stutz, do Rio, cheguei atrasada no Museu Mineiro e batalhei fervorosamente por um ingresso remanescente. Consegui. Estranhei que o “palco” fosse dentro de uma das salas com obras de santos barrocos, mas lá estava a dançarina, totalmente nua, fazendo barulhos estranhos com a boca. O cenário era formado por seis lâmpadas no chão. E só. Muito lentamente, contorcia o corpo e os braços, sempre de pé. Foram 20 minutos até que ela se vestiu e saiu. As pessoas se olharam. O primeiro aplauso demorou a sair.

No dia seguinte, a reação foi bem mais radical. Com o nome “A vida enorme”, a apresentação assinada pela coreógrafa francesa Emmanuelle Huynh foi uma performance que alterou os ânimos da platéia lotada do Palácio das Artes, com capacidade para 1707 pessoas. Começou com longo atraso, mas o público de descolados, dançarinos e donas-de-casa esperou calmamente. Perfume, saltos, expectativa, risos e cochichos. Enfim, começou. Cortinas abertas, aplausos. E seis caixas de som ocupavam o centro do grande palco, sem qualquer sinal de vida humana.

Eis a cena:

As caixas de som emitem um diálogo caótico em francês. Blá, blá, blá. Depois entra uma fala rápida e também confusa em português de Portugal. Impossível entender. Volta o francês. Não há legendas. Toca um trecho de David Bowe. “We can be Heroes/ Just for one day”. Mais francês. Às vezes, frases soltas em português.

Passam-se longos 20 minutos. Uma dezena de pessoas levanta e vai embora. Aos poucos, os movimentos bruscos nas cadeiras e as conversas paralelas dão lugar a aplausos eufóricos. Todos aplaudem, ovacionam. “Dança, caixa de som!!”, alguém grita. “Bravo, bravíssimo!!”, festejam. Houvesse tomates nas bolsas de lantejoulas, com certeza teriam atingido as onipotentes caixas de som. Diante da balbúrdia, mantinham-se imóveis. E falavam francês.

Quando por fim as luzes se apagaram e em seguida dois corpos apareceram no palco, novos aplausos eufóricos tomaram conta do teatro. Por mais 20 minutos, um casal de dançarinos fez movimentos lentos entrecortados pelos mesmos trechos da musica de Bowe. Era bonito e sensível. Interessante. E acabou.

Os aplausos finais partiram de gente que preferiu ficar sentada na poltrona. Aos poucos, vendo a respiração ofegante dos franceses, parte se levantou. Na saída do teatro, a sensação de ter participado – como platéia - de um evento da Semana de Arte Moderna de 22.

Eu, que já tinha comprado ingressos para o encerramento do FID no domingo, acabei desistindo. Troquei o solo do Quênia por cerveja e mandioca frita.

domingo, 4 de novembro de 2007

Oficina sem martelo

Pensar jornalismo cultural já faz qualquer pessoa interessada por cultura e comunicação entrar em parafuso. Mas refletir (e fazer) um tal jornalismo cultural INDEPENDENTE é ainda mais pirante. Ao menos não estamos sós. São cerca de 100 pessoas reunidas neste sábado e domingo aqui em Belo Horizonte pra imaginar o que seria este troço. O bicho tá pegando. Quem comanda a oficina é o pessoal do Instituto Pensarte, que criou um site de relacionamento chamado 100 Canais.

A desculpa inicial para que esse movimento aconteça é o TEIA 2007, o encontro nacional dos Pontos de Cultura do Ministério da Cultura. Também aqui em BH, será de 7 a 11 de novembro. Vale entrar no site para ter uma idéia do caldeirão cultural prestes a acontecer. Mas a programação detalhada ainda não está on line....

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

TV Pública na Era Digital

(Texto meu publicado no site Observatório do Direito à Comunicação, do Intervozes, inaugurando também a série Frilas para o Tutu Mineiro)

Que TV queremos ter? Para a professora Regina Mota, da Universidade Federal de Minas Gerais, esse deve ser o principal questionamento de uma sociedade que começa a se preparar para ter sua primeira TV Pública. Regina, que participou por três anos do grupo de pesquisa para o Sistema Brasileiro de Televisão Digital, foi a convidada do segundo seminário da série TV Pública na Era Digital, organizado pela Rede Minas na última quarta-feira, dia 31 de outubro, em Belo Horizonte.

Também autora do livro TV Pública - A democracia no ar, Regina não trouxe respostas prontas. Pelo contrário: instigou os presentes – em sua maioria jornalistas e profissionais de televisão – a refletir sobre o que, de fato, significa uma TV a serviço do povo. Para ela, o país precisa batalhar pela constituição de uma TV efetivamente pública, que garanta um lugar para a expressão da diferença e permita a invenção do mundo.

A questão-chave por trás desses desafios, para Regina, é nossa relação com o outro. A presença deste “outro” na televisão privada brasileira é vista por ela como desigual e autoritária. “Assim como no processo de civilização branca, o jornalismo tenta civilizar para converter”, destacou. Numa exposição bastante provocativa, defendeu ainda a atualidade do Manifesto Antropofágico, de Oswald de Andrade (1928), que pregava o interesse pelo conflito, pela diferença e pela mudança. “Ainda não sabemos lidar com o outro”, reconheceu, após mostrar trechos da participação de Mano Brown no programa Roda Viva, da TV Cultura.

Para ela, a atual decisão de dar início às transmissões da TV Pública em São Paulo e nos grandes centros urbanos é equivocada, porque aumenta a desigualdade entre as cidades ricas e as mais carentes. Sua proposta é inverter essa lógica, com a criação de uma rede a partir do interior do país, que coopere inclusive com o desenvolvimento da tecnologia e da linguagem a ser adotada pela nova TV.

A Internet pode ser vista como uma referência das mudanças que estão por vir, como a produção colaborativa e não autoral. “Questões como a necessidade ou não de formação também estarão em jogo”, disse, apostando ainda que os novos sentidos para a tecnologia irão demandar um outro tipo de profissional, com habilidades de engenheiro, tecnólogo, jornalista e, especialmente, artista.