sábado, 29 de março de 2008

Com ou sem rugas?

Esperei a loja na Savassi abrir para tentar tirar uma foto 3X4 melhorzinha do que as horripilantes típicas das máquinas automáticas. O funcionário, abatido, foi logo abrindo o coração – encontrou a ex-namorada no caminho para o trabalho e ainda estava abaladíssimo.

- Quanto tempo demora a foto ficar pronta?, perguntei.
- 15 minutos. Mas se quiser sem photoshop, sai na hora.
- Como assim?

Fiquei meio desconfiada, mas sorri para a câmera digital. No computador, achei que a foto estava razoável. Ele ignorou meu comentário, deu um zoom indecente no meu rosto e começou a usar a ferramenta “carimbo” para tirar minhas velhas olheiras de guerra. Depois apagou um fio rebelde do cabelo e partiu para uma pinta do rosto. “Pode parar, isso vai ficar muito artificial!”, briguei, enquanto ele tagarelava sobre o encontro inesperado com a ex.

Antes que ele apagasse todos os furos de catapora da testa, precisei falar grosso e pedir as contas. Segundos depois, chega uma senhora na loja.

- É aqui que vocês tiram as rugas da foto?

Sim, ela estava em mãos certas.

(E eu fico devendo uma imagem da foto fake por aqui.)

segunda-feira, 24 de março de 2008

Semana santa barroca

Há dois anos começava meu périplo pelas semanas santas de Minas Gerais. Comecei de trás para frente – naquele ano, acompanhei em Mariana a procissão de páscoa, com as ruas cobertas de tapete de serragem colorido. Os desenhos variam da bandeira do Brasil ao rosto de Cristo. Mas juro que, apesar da confusão de referências, o visual é maravilhoso.

Neste feriado, foi a vez de passar pelas cidades históricas como trabalhadora: cobri celebração de lava pés em Mariana na quinta e aquela maluca encenação da Paixão de Cristo em Congonhas na sexta-feira. Uma experiência pra lá de barroca. Em Congonhas, os atores e 250 figurantes encenavam as 35 cenas bíblicas em cinco palcos ao som de música sacra cantada ao vivo pelo coral. Os figurinos são super requintados e a cena da crucificação é assustadoramente realista.

A população dessa cidadezinha vive em função dos preparativos e ensaios para a semana santa muito antes do Carnaval acabar. Coisas das Gerais.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Um Gringo bem brasileiro








Pense em todas as capas de CDs que já chamaram sua atenção. Se você lembrou dos discos de Chico Buarque (As Cidades, Paratodos), Elza Soares (Do cóccix até o pescoço), Lulu Santos (Assim caminha a humanidade), Marisa Monte (Barulhinho Bom), Cássia Eller (Com você, meu mundo ficaria perfeito), acertou na mosca: são de Gringo Cardia, o designer ou “artista multimídia” que vem definindo a cara da MPB desde o final dos anos 70.

Ainda hoje, é ele quem dá aquela aparência descolada para Vanessa da Mata na produção dos seus dois CDs, ou faz a Pitty arrasar corações adolescentes nas suas fotos bad girl. Sem Gringo cuidando inclusive das cenografias de shows, Agnaldo Timóteo não seria um brega tão resistente. Aposto que, sem as fantásticas idéias dos seus cenários, até mesmo os baixinhos roncariam no show da Xuxa.

Descobri todo esse mundo de imagens, tipografias e inspirações de Gringo Cardia na exposição caprichada que acontece no Palácio das Artes até dia 6 de abril. Logo na entrada, o próprio Gringo faz uma vitrine com os objetos que são suas inspirações – passando por discos de David Bowe, imagens de Buda, figurinhas de heróis japoneses e velhos gibis de mocinho e cowboy e da cadela Lassie. Na última sala da exposição, constata-se que o estilo do cara também está impregnado em uma boa safra de videoclipes brasileiros. Um telão exibe alguns dos 50 vídeos assinados por ele, como o instigante Manguetown, da Nação Zumbi:


Amigos turistas já têm outra passagem obrigatória na cidade, além da igrejinha da Pampulha. Ufa!

quinta-feira, 13 de março de 2008

Leia o livro!












O ônibus que peguei domingo passado, rumo ao centro de BH, estava com um grupo de gente vestida de branco da cabeça aos pés. Alguns carregavam grandes tambores - tudo gente bem simples, com jeitinho quieto de mineiro do interior. Vi o símbolo estranho estampado nas camisetas de manga comprida e custei acreditar nos dizeres: UNIVERSO EM DESENCANTO - A VERDADEIRA ORIGEM DO UNIVERSO.

Sinceramente, eu não sabia que a tal "cultura racional" divulgada por Tim Maia ainda existia. E tampouco imaginava que pessoas humildes como aquelas estivessem articuladas em manifestações e shows semanais em diversos cantos do Brasil.

Uma das moças, com quem conversei, contou que eles voltavam de uma apresentação de "músicas racionais" na barragem Santa Lúcia. [Sim, e eu perdi este furo!!] Ela tentou me explicar do que se tratava, me deu alguns folhetos (hilários!) e contou que o saudoso Tim é mesmo o grande divulgador da cultura racional. Achei bacana ela não ter falado naquele tom típico de evangelização. Pelo contrário, disse que todos ali não sabem qual o mistério da vida, mas estão à procura.

Por fim, convidou-me para assitir a outras apresentações em BH e disse que a agenda está no site http://universoemdesencanto.com.br. Bem, não encontrei a agenda por lá, mas valeu a visita. Destaque para a web rádio "A voz do raciocínio", que é "trasmitida diretamente do Retiro Racional" (??), e o espaço para encomendas do livro "Universo em Desencanto".

Para dividir minha perplexidade com o péssimo e repetitivo texto do folheto, segue um trecho:

A CAUSA DA VIOLÊNCIA
É A PARALISAÇÃO DO PENSAMENTO
A causa da desregulagem de tudo, a causa do desequilíbrio de tudo, é por ter terminado a fase do pensamento. Porque sabem perfeitamente que não há efeito sem causa. A causa desse grande desiquilíbrio mundial é o término do pensamento. E para que encontrem o equilíbrio de tudo, têm que conhecer a natureza e a fase natural da natureza, que é a FASE RACIONAL, a fase do raciocínio. O pensamento parou de funcionar, porque terminou a sua fase; pararam as mentes, parou a regulagem e ficaram desregulados e depois de resregulados, a violência.

(...)

O folheto segue o mesmo "raciocínio" em duas páginas... Mas acho que esta amostra já é suficiente.

Por coincidência, li ontem que as faixas inédias (ou os restos de estúdio) de Tim Maia, que devem sair no disco Racional - Volume 3, já caíram na rede... A notícia está aqui, para assinates da Folha.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Furo no Zé Simão 2

É que em São Paulo, em prédio recém-lançado no bairro de Perdizes, não pode mandar a madame recolher o cocô do cachorro. Tem que falar bonito!! E, ao falar do animal, é preciso ser delicadíssimo para não magoá-lo. O cãozinho também faz “necessidades”!! Eis a prova concreta!













Aqui, o Furo no Zé Simão 1!!

sábado, 8 de março de 2008

Marcha Mundial das Mulheres – Uma versão lilás*









*Texto da gaveta, sobre o 8 de março de 2006. Foto do site da SOF.

João, João, faça o seu feijão!
José, José, cozinhe se quiser!

Por Júlia Tavares, no calor do momento

Não basta cantar. Tem que apontar o dedo para os Joãos e Josés abobalhados da avenida Paulista e, claro, dar muita risada. Além desta, outras palavras de ordem entre os hits da edição paulistana da Marcha Mundial das Mulheres neste último 8 de março já caminhavam para o lado mais politizado do ato com “A nossa luta/ é todo dia/ somos mulheres e não mercadoria”, também na versão “A nossa luta é por respeito/ mulher não é só bunda e peito”. Haja coragem para sair nas ruas em plena quarta-feira gorda ou escapar mais cedo do trabalho e se juntar à formosa massa lilás.

Dona Zica, coitada, tomou chuva e entrou na dança meio assim, sem querer. Foi ao Banco Real porque eles dão, todo ano, uma rosa para as mulheres. “Quando vi o pessoal no MASP acabei ficando. Isso aqui tá lindo!”, dizia ela, já de rosa na mão e vários broches, adesivos e até um lencinho roxo alfinetado na blusa. A senhora, negra e gorda, já estava cansada da Marcha e queria chegar logo ao Sesc Consolação “pra fazer a minha natação”, mas teve que esperar na porta da Onofre Megastore. Ganhamos, as duas, um cartãozinho de flores borrifado com perfume especial da drogaria fashion. Ela tinha acabado de descobrir que o movimento feminista teria origem na resistência das mulheres tecelãs que foram mortas com o incêndio numa fábrica. [Uma das origens da data é atribuída às 129 operárias têxteis mortas queimadas em greve pela redução da jornada de trabalho, em Nova York.] “Eu fui tecelã”, orgulhou-se, minutos antes de avaliar que a chuva estava fina e partir para o Sesc.

Alguns casais não tiveram vergonha de manifestar beijos e mãos dadas: para lutar por direitos, davam elas mesmas o exemplo. Outras abusaram da criatividade, como uma mulher alta e bonita, de salto, lenço no cabelo e rolo de macarrão na mão. Posando para fotos, dava para ler a frase escrita no avental: “Sou lésbica, e daí? Sou tão mulher como a sua mãe”.

3 mil ou 12 mil?!

Segundo a organização da Marcha, 12 mil marcharam do MASP até a praça Ramos, mas a Folha de S.Paulo trouxe apenas a versão da Polícia Militar: 3 mil. A matéria de Afra Balazina também destacou apenas dois pontos de reivindicações da marcha - legalização do aborto e contra a violência doméstica, esquecendo os clamores contra o racismo, o preconceito, a guerra, o imperialismo norte-americano e os transgênicos. A questão trabalhista também foi contemplada, com cartazes exigindo um salário mínimo digno e igualdade de oportunidades entre homens e mulheres.

Marta Suplicy foi citada como “a grande celebridade” pelo jornal. De fato, causou agitação das bandeiras de mulheres do PT e muitos aplausos de quem reconhece a trajetória de militância feminista da ex-prefeita, mas mitificar uma ou outra mulher não foi, de forma alguma, a intenção da marcha. Muitas donas Zicas, Renatas e Alessandras estiveram por lá e brilharam na festa do feminismo versão 2006. Segurando suas bandeirolas, enfeitadas com fitas de chita e brincos, pulseiras e muitos colares cor-de-rosa, conseguiram, definitivamente, chamar a atenção para suas reivindicações históricas.

terça-feira, 4 de março de 2008

Pérolas aos poucos

Ontem conheci Emerson Pinzindin, um dos poucos personagens públicos dessa metrópole de anônimos. Professor de música, saxofonista e flautista, ele tocou por 12 anos na calçada em frente ao Conjunto Nacional, na avenida Paulista. No segundo semestre do ano passado, recebeu o veredicto: foi proibido, pela justiça, de voltar a tocar no local. Hoje está nos fundos do Conjunto, no quarteirão com a alameda Santos, em frente ao estacionamento Rede Park. Num cantinho entre a saida e entrada interminável de carros, dedicou-me uma valsa choro.

Emerson Pinto adotou o "Pindinzin" em homenagem a Pixinguinha. Sua história é totalmente surreal. A ação para retirá-lo partiu da sindica do condominio - a mesma que um dia o convidou para tocar dentro da galeria do Conjunto Nacional, como conta reportagem da Folha. Foi obrigado a se retirar por incomodar os lojistas com um "repertório sempre igual". Passou a tocar na calçada, mas foi expluso novamente. Em seguida, assinou acordo prometendo sair de vez em troca de 5 mil reais de indenização.

Na semana seguinte, voltou. A multa pela insistência já significa uma dívida de 7,6 mil reais. Agora, precavido, está no quarteirão de baixo. Mas a trilha sonora, definitivamente, não rima com aquele escuro e triste estacionamento.

PS. Ainda segundo a Folha, um dos mais "incomodados" com a presença de Pinzindin é o dono da civilizada Livraria Cultura, Pedro Herz.

A partir deste dia 15, o músico se apresenta com o grupo completo todos os sábados, às 15h, num bar da rua Pedroso de Moraes, número 710. No repertório, o flyer anuncia Callado, Cartola, Donga, Noel, Chico e Tom. O telefone de contato é (11) 3253-0632.