sábado, 19 de julho de 2008

Valadares News

Tive três dias e duas noites de verão na cidade que ganhou fama por seu principal produto de exportação: os próprios moradores. Ainda lembro de algum “Globo Repórter” sobre o espírito aventureiro dos mineiros de Governador Valadares, que migravam em massa para os EUA.

Aqui, cabe uma explicação. O que na verdade me levou a Valadares foi uma pomada cicatrizante a base de repolho. Mas no intervalo entre a plantação da hortaliça e a farmácia de manipulação, cacei pistas um pouco mais culturais sobre a cidade. Concretamente, só encontrei um outdoor da escola de inglês CCAA reproduzindo uma nota de 100 dólares, com letras garrafais dizendo “Aqui suas chances ficam ENORMES”.

Horas depois, uma conversa com o farmacêutico indicou que a CCAA pode estar desperdiçando com a propaganda. Segundo ele, os sonhos de grana agora se realizam na Europa – mais especificamente na Espanha e na Irlanda. Dublin anda falando mineirês by Governador Valares.

Engraçado, porque a cidade não parece ser tão pobre. O Centro, agitado e muito organizado em quadras padronizadas, tem lojas para todos os bolsos. A vista do pico do Ibituruna, que permite ver em detalhes todo o vale do Rio Doce, é exuberante. E as promessas de melhora na economia local também são altas.

Quando a única fonte de notícias é o Diário do Rio Doce, o otimismo é ainda maior. Audacioso, o jornal não dá a mínima para imparcialidade. Manchete: “Um fato histórico – ARACRUZ É DE VALADARES.” As páginas sobre a assinatura para a construção da fábrica de celulose na cidade não incluem nenhuma linha sobre os possíveis impactos ambientais que o empreendimento pode trazer. Um panfleto e tanto, com diversos anúncios pagos comemorativos por parte dos candidatos a prefeito. “A Aracruz é nossa! Mourão também!”/ “Aracruz em GV, Agora é pra valer – Compromisso Jayro Lessa”/ etc.

Uma última observação: em cidade pequena, eleições municipais devem ter mais impacto que as estaduais. É grana correndo solta. E promessa de remuneração para muitos futuros funcionários de confiança - exatamente aqueles que não precisam do emprego na Aracruz Celulose.

Aos ávidos por imagens, algumas fotos representativas no site ValadaresMG.

domingo, 13 de julho de 2008

Domingo na barragem

Foram dois domingos seguidos descobrindo melhor o bairro onde moro. Finalmente, a barragem Santa Lúcia deixa de ser um cenário de fundo no meu dia a dia mineiro. Grama verde, quadra de futebol, aparelhos de ginástica, água potável e barraquinhas com suco fresco de água de coco e abacaxi. Trata-se de um lugar bem interessante, ao pé do Morro do Papagaio, com lago artificial cercado de uma pista para caminhada de 800 metros.

A estrutura é ótima e segura, sem dúvida. Mas o principal atrativo – ao menos para mim, que definitivamente não agüento correr nem meio quilômetro – é a rara sensação de cidadania que esse lugarzinho é capaz de proporcionar. Ali, convivem a madame de calça legging cor-de-rosa, o puddle de macacão e o homem bêbado. Os meninos descalços com pipa na mão, o mano com blusa de basquete norte-americano, as meninas com shorts-calcinha e a criança na bicicleta da Barbie.

Morro e asfalto se misturam, usufruem do espaço público, curtem juntos o sol e sombra. Semana passada, em decibéis escandalosos, o moço no palco montado anunciava mais uma edição do projeto Quero Ver Meu Morro Feliz. Enquanto a policia fazia cadastramento para RG, dezenas de bandas de música do Morro do Papagaio se apresentaram das 10 da manhã até tarde da noite. Consegui pegar o grupo de rap Mente Fria – uma turminha bem esperta que olha para o futuro e traz boas-novas para os meninos do Morro.

Hoje a surpresa foi maior. Acontecia um evento de manobras [radicais?] em motocicletas. Num pequeno trecho cercado de grades, uma multidão acompanhava o vai e vem dos homens de capacete, que aceleravam ao som tecno do DJ. O anfitrião da festa implorava por palmas a cada minuto, mas a moçada não parecia tão empolgada. Parece que andar com um só pneu da moto é coisa batida.

De qualquer forma, este domingo serviu para confirmar que o espaço, ali, é mesmo de todos. Se a música ambiente não agrada, o I-Pod pode ser uma solução. Ao menos foi a saída encontrada pelo velho barrigudo de tênis Nike.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

A confábula do fim*

A dois minutos do último segundo um homem completamente bêbado acordou de seu sono profundo numa calçada da avenida olegário maciel e descobriu que não sabia mais quem era e sequer de onde viera;

A dois minutos do último segundo um casal de jovens apaixonados pulou do alto do edifício archângelo maletta numa atitude comovente de protesto contra as intituições familiares. Seus corpos foram cobertos com jornais locais que noticiavam a extinção da previdência social;

A dois minutos do último momento todas as crianças estavam dormindo e sonharam simultaneamente com um dominó formado por toda a população que percorria as autopistas e as avenidas e becos das grandes cidades;

A dois minutos do sinistro as leoas petrificadas da praça da estação rugiram pela primeira vez após séculos de silêncio e tomados por uma fome bestial devoraram os cavalos dos policiais montados que faziam a ronda noturna naquela noite;

A dois minutos do fecho um homem visivelmente transtornado levantou-se em meio a multidão atônita e acusou todas as mães pelos últimos atentados ao pudor. Foi imediatamente imobilizado e levado a uma clínica de psicanálise;

A dois minutos do gran finale os animais do zoológico municipal foram libertados por membros de uma ONG que protestava contra o aumento abusivo das passagens dos coletivos urbanos. Nesse dia foram registradas várias demissões no DETRAN;

A dois minutos do derradeiro fracasso o ribeirão arrudas começou a correr em sentido contrário;

A dois minutos da tragédia soaram juntas dos dez mil automóveis engarrafados na região central dez mil buzinas como trombetas apocalípticas anunciando uma nova crise mundial do petróleo;

A dois minutos de da catástrofe um vírus desconhecido penetrou silenciosamente na memória de todos os computadores. Nesse instante as impressoras iniciaram a impressão de equações matemáticas desconhecidas e misteriosas. Ao final da operação os computadores desligaram-se para sempre;

A dois minutos do blecaute total todos os shopping centers viraram mercados persas;

A dois minutos da hecatombe nuclear a cidade de Ouro Preto afundou e desapareceu completamente do mapa levando consigo para as entranhas da terra todo o seu acervo arquitetônico , a população nativa, os estudante e alguns turístas desavisados. No local foi descoberta uma civilização subterrânea em um estágio de desenvolvimento inacreditável;

A dois minutos do holocausto todos os presos foram libertados e a população civil em pânico refugiou-se nos presídios de segurança máxima;

A dois minutos do resto o metrô transformou-se numa grande serpente mitológica e devorou os trilhos da estação central até a estação lagoinha. Depois cavou um túnel interminável e nunca mais foi vista por olhos humanos;

A dois minutos do eclipse o monolito da praça sete de setembro foi arrancado violentamente por um grupo de guerrilheiros urbanos que, ainda não satisfeitos com a agressão impetrada ao imaginário simbólico da cidade utilizou-se da forma fálica do pirulito para violentar com requintes de crueldade a casta igreja de são josé num ritual orgiástico de profanação dos espaços sagrados. No mesmo momento uma facção dissidente decaptava o cristo redentor fazendo sua cabeça rolar morro abaixo até ser consumida pelas águas na praia de Copacabana;

A dois minutos do último segundo índios de todas as nações indígenas invadiram o senado vestidos de casaca e cartola e comeram cinco senadores e doze deputados num ritual antropofágico de caráter político partidário;

A dois parágrafos do fim deste texto foram encontrados centenas de exemplares de um livro proibido, inédito e desconhecido do poeta Carlos Drummond de Andrade num galpão abandonado da avenida Andradas. Todos os livros foram imediatamente recolhidos e incinerados pelas autoridades competentes antes que gerassem o kaos e o pânico em todo o continente;

A dois minutos dos últimos acontecimento o escritor norte-americano Dan Propper declarou ‘a Folha de São Paulo ter sido copiado e deturpado por poetas mineiros irresponsáveis. A despeito do protexto de seus editores, fez questão de deixar claro que era totalmente favorável a este tipo de iniciativa;

A cento e vinte segundos atrás todos os relógios despertaram sincronicamente causando um atraso irreversível na estrutura temporal do universo e a humanidade finalmente acordou de seu sono profundo e milenar.

* Por Makely Ka, o operário da contra-indústria que anda construindo milhares de edifícios alternativos por aí. O autor do blog Autófago participou ativamente do novo CD da Titane e estremeceu o Stereoteca com esta poesia sonora. Começo a pirataria copiando o texto por aqui.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Música + Oxigênio

















Em 2002, eu sequer imaginava conhecer a pessoa que motivaria minha mudança para Belo Horizonte cinco anos mais tarde. Naquele ano, um grupo de jovens músicos da cidade se reuniu durante o Reciclo Geral – Mostra de Composições Inéditas. Independentes em relação ao mercado musical, eles logo descobriram que unir forças era mais que necessário na batalha por condições de se apresentar e continuar a produzir.

E ontem, julho de 2008, testemunhei o quanto esse movimento já tomou conta do cenário musical mineiro e brasileiro. O referendo partiu de Titane, cantora de uma geração anterior, que lançou um CD com as canções dessa nova safra de poetas contemporâneos. As duas sessões lotadas do show no Stereoteca foram puro oxigênio.

Como Titane mesmo disse, seria impossível incluir no disco toda aquela turma do Reciclo. Desta vez, ela contemplou Renato Villaça, Makely Ka, Érika Machado, Cecília Silveira, Dudu Nicácio e Kristoff Silva. Fina estampa.


Imerso na sua quase mística inspiração, Kristoff subiu ao palco sem dar margem aos desconfiados ouvidos, dilatando as pupilas. Makely veio em seguida, sem objeto em mãos. A fala, seu mais poderoso instrumento, abalou as estruturas do teatro da Biblioteca Pública. Nos fez crer que estávamos a dois minutos do fim de todas as coisas.

Que venha, agora, o novo. Ao menos na música.

Titane, moderníssima, fez um CD para ser baixado, copiado, alterado. Só clicar em http://www.titane.com.br/ana/.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Hebe, Lílian & Eu

Foto minha publicada no Estado de Minas de ontem, dividindo página com Hebe Camargo e Lilian Witte Fibe, foi uma surpresa e tanto. Divertidíssimo. Procurei no Google e eis que a foto foi parar num site de “Mexerico”. Virei fofoca. Só espero não ser capturada para a coluna de Paulo Navarro.

Aqui, mais sobre o programa Planeta Minas, da Rede Minas, direto da fonte. [E vale lembrar que sou repórter!!] Na falta da página do jornal escaneada, segue a imagem.

Seção : Mexerico - 30/06/2008 08:59

Júlia Tavares agora está no comando de Planeta Minas

Daniela Mata Machado - EM Cultura











foto: Cláudia Sarsur/Rede Minas

O programa Planeta Minas – ciência e tecnologia, da Rede Minas, estréia segunda (dia 30), às 21h, sua nova apresentadora: Júlia Tavares (foto). Esta semana, a jornalista apresenta exemplos de invenções mineiras e sua contribuição na saúde, nas artes, na economia e até no esporte.

O programa explica a importância da patente tanto para a proteção de uma idéia quanto para a transferência de tecnologia e mostra inventores que dedicaram a vida à realização de suas idéias.