quinta-feira, 30 de abril de 2009

Turismo gastronômico











Vivo reclamando do péssimo atendimento em restaurantes e bares de Beagá. Já aprendi a deixar minha persona “lady” de lado para ter que gritar pedindo cardápio, comida, bebida, conta. Por essas e outras, é de se aplaudir os dez anos do festival Comida di Buteco, que busca profissionalizar a principal atração gastronômica – e cultural, por que não? – da cidade. A idéia é votar nos quesitos sabor do prato, temperatura da bebida, higiene do estabelecimento e qualidade do atendimento.

Entrei para o colégio eleitoral na semana passada, experimentando o petisco ENTRE TAPAS E PINTXOS, do Bar do Primo: tortilla de batatas, bolinho de bacalhau e moela com pão. Nota 7. A lista completa de outras 41 comidinhas concorrentes está no site – destaque para nomes que sintetizam “tendências” do momento, como CADA UM NO SEU QUADRADO e KAFTA MINEIRA AO MOLHO BARAK OBAMA (este deve ser o próximo da minha lista!... hummm.....)

Mais um motivo para estimular o turismo mineiro, não?

segunda-feira, 27 de abril de 2009

ET de Varginha


















Um avião? NÃO! O Super-Homem? NÃO! Um disco voador? SIM!!

O diálogo, que poderia partir de algum turista recém chegado em Varginha, é factível. O espanto, claro, pode ganhar contornos mais acentuados quando o turista é originário de outro estado do país e nunca tinha visto fotos com os destaques da paisagem local.














Queira ou não queira, você está na cidade do ET. Acho engraçado imaginar que os mineiros, tão discretos por natureza, tenham a audácia de apoiar gastos públicos na construção de ao menos cinco momentos dedicados a seres interplanetários. Além da incrível nave mãe, uma praça central da cidade preferiu ceder o pedestal normalmente dedicado a figuras ilustres da política e cultura da região a DOIS suntuosos monstrinhos de três dedos e olhos vermelhos. Um deles, coitado, foi “vandalizado” por pichadores.

A febre em torno da mitologia tem até espaço no site oficial da prefeitura. Um ícone do ET [à direita] leva a texto atribuído à assessora de comunicação do município introduzindo o relato de um conhecido ufólogo. “O aparecimento de um ser extraterrestre - visto por três garotas, presenciado por policiais e estudado por ufólogos - só não ficou comprovado porque existe interesse, por parte não se sabe de quem, de que a história seja acobertada.” GENTE!

Divertido também foi descobrir, aos poucos, os diversos estabelecimentos comerciais que usam logotipos e marcas referentes ao ilustre visitante da cidade. Uma lanchonete decidiu dar boas vindas aos clientes vestindo o bicho de garçom! Seria o que chamam de marketing agressivo?

Brincadeiras a parte, realmente gostaria de ouvir relatos por parte de moradores de Varginha sobre o peso da lenda – ou fato, claro – na formação do imaginário da cidade. Grande pólo educacional e produtor de café, aposto que não faltam elementos valiosos na composição da identidade daquela população. Resta entender o porquê da opção pelo viés alienígena....

domingo, 19 de abril de 2009

Puta, meu!

Dica exclusiva do autor de Dicas do Zeca não é qualquer dia. Adorei a letra de Balada do Paulista e, claro, repasso o vídeo aqui no blog para contrastar com meus comentários sobre o mineirês (aqui e acolá). Mó legal! Lulina nasceu em Recife e mora em São Paulo há alguns anos - o suficiente para absorver a nata das gírias paulistanas da Vila Madalena. [Mini matéria sobre o trabalho da cantora na revista RollingStone.]

Saudades da turminha da ECA; Lau (disseminadora oficial do “sussa”) e Dé (“tipo assim”) são a cara da música.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Encontro marcado

O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.
Alegria imensa topar com uma fração de texto tão consagrado no contexto original da obra. Uma entre as várias preciosidades que tenho garimpado ao longo do caminho pelas páginas do Grande Sertão de Guimarães Rosa. Jeito bom de rimar paisagens reais com relatos fictícios por esta aventura de quase um ano nas estradas de Minas.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

"Como seria o Reveillon de 2441?"



Ainda me surpreendo com o coração grande do Galpão Cine Horto. São vários projetos ao longo do ano que, na essência, mostram a vocação do espaço para o acolhimento, a residência, o experimentalismo. Foi assim durante a semana passada, em mais uma edição do Galpão Convida. Depois de uma pesquisa de dois meses no espaço, os paulistas do Grupo XIX de teatro (Hysteria, Hygiene e Arrufos) e os mineiros do Grupo Espanca! (Por Elise, Amores surdos e Congresso Internacional do Medo) criaram um espetáculo a partir da seguinte indagação: "Como seria o Reveillon de 2441?".

Os grupos fizeram questão de enfatizar que se tratava de um processo em construção. Mas, sinceramente, o resultado final é mil vezes superior a tantas outras peças que entram em cartaz com pompa e preço caro. Destaque para o cenário coberto de gelo e incrementado com aparatos multimídia – como o telão que projetava paisagens bucólicas e tempestades do lado de fora da porta do apartamento cenográfico.

Abaixo, um breve comentário pessoal sobre o trabalho – que talvez só seja compreensível aos que tiveram a chance de assistir....

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Feliz conjunção entre cenário, atores, texto e técnica, Barco de Gelo é uma alegoria convincente do futuro da espécie humana. Tão longe, tão perto: os séculos do tempo futuro apresentados em cena não mostram a evolução da inteligência do homem como idealizamos. Como protagonista da vida moderna, a tecnologia não é capaz de suprir a solidão e as dificuldades do relacionamento com o outro.

A história leva a acreditar que o excesso de estímulos tecnológicos e sensoriais aos quais seremos submetidos na sociedade ultramoderna acabam por afastar o homem de suas limitações. Como numa espécie de ditadura da alegria, não nos parece permitido refletir ou sofrer. Mas aquela festa de reveillon apresentada em cena é marcada por elementos que rompem definitivamente com esta monotonia/adormecimento na vida do grupo de amigos. O clímax está no número teatral – com o texto da peça As três irmãs, de Tcheckov, originário de uma “época em que ainda existiam galinhas”- apresentado por uma trupe de atores contratados por um dos convidados da festa.

A apresentação se diferencia de todas as outras cenas por não apresentar um “delay/atraso” entre ação e reação nos gestos e falas das personagens. Sinal para um recado do grupo: o teatro pode ser este espaço de encontro real, intenso e verdadeiro com o outro. Mas o fato é que, provocando reações diferentes por parte dos convidados da festa, a “mini peça” ganha um sentido ainda mais intenso para o personagem que descobre a metáfora do gelo. Brincando de triturar o objeto no liquidificador, experimenta-se a comunhão e a percepção de que a passagem de “estados” – sólido, liquido, gasoso – é inerente a natureza humana. Deve, portanto, ser celebrada e respeitada.

É a partir deste estalo que, enfim, a festa se consome.