segunda-feira, 27 de julho de 2009

A tal gripe...












A gripe impronunciável mata tanto quanto uma gripe comum. É bem menos perigosa do que a dengue, por exemplo, que continua sendo cultivada em vasinhos de violetas pelo país. Mas é ela que ganha manchetes, "vivos" televisivos e bate papo no sofá da loira do papagaio. É ela, portanto, que assusta. [E dá-lhe Saramago e seu Ensaio sobre a cegueira...]. O medo, mais uma vez, está entre nós. A charge de Duke, no Tempo hoje, diz tudo.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Esquina mineira

* Estranha conclusão recente: a night mineira é basicamente composta de covers – em especial aquelas que se tornam fiéis a músicas de uma única banda. Fazem sucesso estrondoso de público e têm lugares garantidos em casas noturnas. Levei um susto quando uma amiga me chamou para sair com a frase: “Vai rolar Barão.” “Barão Vermelho?!!!”, retruquei, curiosa. “É... o Carne Nua”. [Que depois de anos e anos na noite mineira começa a se apresentar com composições próprias, intercaladas com os tais covers, como eu mesma pude conferir.....] Já estou sabendo de outras bandas, com nomes que evitam o ruído na comunicação: The Doors Cover, Sargent Peppers e o Creedence Cover, só para ficar no rock'n roll. Um fenômeno que merece ser estudado com mais profundidade...

* A pracinha redonda gramada que funcionava de rotatória para carros no Luxemburgo foi extinta esta semana. Com novos semáfaros, tudo indica que o trânsito realmente vai melhorar. Mas não é que, no meio das obras públicas desta semana, o dono de uma Kombi branca ligou uma caixa de som externa ao carro para tocar Ave Maria de Franz Schubert no último volume? Eram exatamente seis da tarde.

* Em OBar, no bairro Funcionários, os clientes vão encontrar uma máquina descartável no banheiro feminino que pode ser usada anonimamente. Trata-se de projeto de um coletivo de arte que, depois de uma temporada, vai exibir as fotos mais criativas feitas dentro da cabine “privada”. [Se alguém souber o nome do coletivo e do site, me avise... Perdi o flyer!]

!Buen fin de semana a todos!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Inverno quente















Não é primeira vez que aviso no Tutu: festivais de inverno são os melhores momentos para se conhecer e visitar o circuito das cidades históricas. Minha "primeira vez" em Diamantina foi assim, em 2001. Entre Chicas da Silva, Juscelinos e Vesperatas, encontrei Wisnik e Elza Soares. De manhã, tarde e noite, era fácil trombar com alguma apresentação pública de teatro ou música, normalmente durante o encerramento das dezenas de oficinas que acontecem ao longo do mês de julho. Alunos, professores e grandes artistas sofriam juntos nas subidas e descidas das ladeiras barrocas: talvez um símbolo da "horizontalização" dos egos e da preocupação dos organizadores do festival em manter a coerência com a ênfase na formação. [Um pouco diferente do clima da FLIP, não é mesmo, Zeca??]

Meu sonho ainda é ter férias em julho para fazer oficinas e me sentir um pouco moradora nestas cidades. Conheço uma turma de pessoas ao redor dos 30 anos que, quando adolescentes, viveram exatamente isso na época áurea do festival da UFMG, ainda sediado em Ouro Preto. [Nesta matéria descobri que a Federal foi a primeira a lançar festivais de inverno, em 1967. E que a última “temporada” em Ouro Preto terminou em 1999, dando origem aos festivais da própria prefeitura municipal, da UniBH e da UFOP.]

Este estilo de organização de evento parece mesmo ter caído na graça dos mineiros. Segundo esta nota publicada no Overmundo, a onda se espalhou pelos quatro cantos do estado – até os de Juiz de Fora e de Araçuaí, que não têm lá um apelo histórico junto aos turistas, já estão consolidados.

**

Tudo isso para dizer que este post veio tarde: os festivais estão na rapa do tacho. Os principais terminam dia 30 de julho. Mas ainda dá tempo de sentir a brisa fria da cultura desses lugares. Os sites trazem toda a programação. Seguem os meus destaques:

Ouro Preto

Sexta-feira
22h - Show Marina Machado – Tempo Quente
Praça da UFOP

Sábado
20h30min - Show Kristoff Silva – O grão da voz
Teatro Ouro Preto – Centro de Artes e Convenções da UFOP

24h - Show Zé da Guiomar (Samba)
CAEM – Praça Tiradentes

Diamantina

Sábado
22h – Grupo Voz & Companhia - Circo Místico
Teatro do Instituto Casa da Glória – IGC/UFMG

Domingo
21h - Grupo Galpão - Till, A saga de um herói torto
Praça Dr. Prado

domingo, 19 de julho de 2009

E assim se fez o queijo...














Seu João e dona Maria. Uma fazendinha de trinta vacas e trinta lindos queijos amarelos por dia. Bem mineiramente, os dois receberam a equipe da TV às 6 horas da manhã – quando a lua cheia e o frio da Serra da Canastra ainda demarcavam o território da noite. Assim começava a maratona da produção do queijo – um dos poucos legalizados em todo o estado, com a certificação do IMA. Isso quer dizer que o rebanho é sadio, as instalações da fazenda estão adequadas e, claro, o queijo é feito em local higiênico.

Mas não é só isso. Para se enquadrar na única lei do país que permite a comercialização do produto artesanal a partir do leite cru, dona Maria precisa tomar vacina contra tuberculose e não pode estar gripada. Sem contar que, duas vezes por dia, ela só começa a “pôr a mão no coalho” depois de tomar banho e trocar de roupa, tendo que vestir galochas brancas, avental e máscara. Até a água usada na limpeza da bancada da queijaria agora é filtrada e tratada.

Esses são apenas alguns dos “detalhes” aos quais a propriedade de seu João precisou se enquadrar. Por lá, a antiga queijaria virou depósito de milho. Ele mesmo sente vergonha de mostrar que, por força da tradição e da falta de conhecimento, era difícil levar a higiene muito a sério.

Depois de freqüentar cursos de treinamento, a família fez as reformas que cabiam no orçamento, aos poucos. E, por incrível que pareça, eles ainda não tiveram retorno financeiro do investimento: ainda tem muito produtor rural vendendo queijo feito em péssimas condições. Para ser explicita, quase todos os queijos que encontramos no Mercado Central estão com altos índices de coliformes fecais e bactérias nocivas à saúde. Mesmo assim, diz ele, “a melhor coisa é estar em paz com a consciência”. [E claro que o queijo é uma delicia!]

***

O Planeta Minas sobre tecnologia do Leite vai ao ar só no dia 26 de julho. Mas desde já espero que os amigos passem a se preocupar bem mais com a origem do famoso queijo antes de consumi-lo: na embalagem, procurem pelo número de certificação junto ao IMA. Talvez saia um pouquinho mais caro – mas vale a pena, não?

[* Aqui, post antigo e ingênuo sobre o Mercado Central, ainda com as frescas impressões de uma recém-chegada em Minas....]

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Desarmores públicos











Lembra de um dos versos mais raivosos da carreira de Caetano Veloso? (pelo menos antes da fase “Cê”...)

Perua, piranha
Minha energia é que mantém você suspensa no ar
Pra rua, se manda,
Sai do meu sangue, sanguessuga, que só sabe sugar
Pirata, malandra,
Me deixa gozar


Agora imagine a letra inteira de Não enche lida por um funcionário do “Carro do Amor” como mensagem a uma garota, em pleno dia dos namorados, no centro de Belo Horizonte. Apesar do surrealismo, a cena aconteceu de verdade. Quer dizer, quase de verdade: a confusão foi armada como performance artística de Camila Buzelin, registrada em vídeo para a exposição Lantejoulas no meu tédio. A pobre “namorada”, que ouve o texto inteiro da música ao som meloso de Oh, I Can´t forget this feeling, ainda precisa suportar a mensagem final, lida no último volume pela voz de locutor de rádio do motorista do gol pintado de corações:

- Atenção, Luciana. Nosso namoro acabou. Espero que tenha ficado claro a mensagem e que você possa aceitar esta decisão.

A moça, claro, cai aos trampos em plena Av. Amazonas. Em cartaz no Palácio das Artes só até o final desta semana, o trabalho é acompanhado por fotos de faixas, pixações e até rabiscos em árvores que invertem as usuais mensagens de amor em frases como “Lu, eu te amava, mas prefiro sua irmã” e “Camila, Voltei para a minha ex. Descobri que nunca te amei”. Uma forma genial de ironizar a precariedade dos laços de amor na atualidade - nas palavras do professor da PUC Minas Luiz Flavio. Nas minhas palavras, uma forma de abordar a obsessão pela visibilidade nas relações amorosas – em Orkuts e Fotologs, por exemplo –, que termina por esvaziar a intimidade e destruir laços verdadeiros entre os casais.

Notas de rodapé, de Carolina Cordeiro, que está na mesma sala, também vale a pena ser vista. [Gostei mesmo foi da imagem dos pombos que devoram os pontos cardeais traçados com milho em praça pública. Como ninguém pensou nisso antes?]. Recado dado!

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Isto é Brasil












Voltei. Após três semanas e três países, trago na bagagem de memórias

um deserto
um salar
um cume de montanha inesquecível
uma capital que buzina 24 horas
um centro de cidade com semáforos eternamente quebrados
uma imagem de Jesus Cristo negro
um índio Pachacuti
duas catedrais dos séculos 16/17 repletas de espelhos no altar
um vento gelado de menos 12 graus
trinta paisagens maravilhosas

Trago também os sentimentos de indignação com a longa história de exploração econômica e simbólica comum aos países latino-americanos. Portugueses e espanhóis que arrancaram a civilidade dos povos pré-colombianos à força e, durante séculos, contaram com um arsenal de armas para impor uma visão de mundo estranha e absurda aos “ateus”.

E como o retorno é sempre uma nova chance de enxergar melhor, esses dias já propiciaram vivencias do que há de mais bonito e mais grosseiro neste caldeirão chamado Brazil.

- Como explicar a violência da apreensão e da alegria relacionada ao nosso futebol? O apito de fim de partida no jogo da Copa do Brasil foi a deixa para um disparo agressivo de xingamentos por janelas das ruas de São Paulo; buzinas insistentes; fogos sem fim. Uma “festa” que, sinceramente, custo a entender.

- Agora, o encantamento. Neste fim de semana, o Grupo Galpão estreou em BH a peça Till, a saga de um herói torto. Mais de 15 mil pessoas arrumaram um cantinho no gramado e nas escadas da praça do Papa em plena lua cheia para festejar a existência de um teatro de rua verdadeiramente comprometido com o próprio teatro. E com o público, claro.

Guiada pelo trabalho, sigo em breve pelas estradas de Minas. Aguardem novas aventuras!