terça-feira, 25 de agosto de 2009

Paraíso da Carrocracia

Tem coisas que só a experiência traz a tona. Esquecer do barulho e do trânsito pós-infernal de São Paulo pode acontecer como reação de sobrevivência a traumas do nosso organismo. Mas basta pisar em solo cinza para retomar esta memória nada afetiva. Motivo de sobra para festejar o já aclamado novo brasão da cidade de São Paulo, proposto pelo designer Thiago Neponuceno.



















Segue o manifesto, nas palavras do artista.

"Um novo brasão para uma velha cidade. No lugar do forte braço empunhando a bandeira da cruz de Cristo, a figura simbólica do soberano que há décadas tem sob suas rodas uma cidade rendida, ofendida, poluída, esgarçada, suja, segregada, barulhenta, burra e, mais que tudo, congestionada. No lugar dos orgulhosos ramos de café, a pistola de combustível que alimenta os senhores das ruas e a impiedosa motoserra, sempre pronta para tirar a vida de qualquer coisa que atrapalhe o pleno domínio do tirano poluidor. No lugar dos frutos do cafeeiro muitos cifrões, para que ninguém esqueça o que move as autoridades e os 'especialistas' a serviço da carrocracia. Por fim, substituindo a coroa de torres há o que restou das antigas, belas e cada vez mais escassas árvores paulistanas, mutiladas e assassinadas à luz do dia ou na calada da noite, maltratadas pelos próprios órgãos públicos a despeito de serem um patrimônio coletivo de valor inestimável. Igual ao antigo brasão apenas o orgulhoso e ufanista lema de outrora, hoje ainda mais atual que ontem: 'Não sou conduzido, conduzo', divisa perfeita para uma cidade que orienta suas políticas e ações em benefício dos interesses dos automóveis e em detrimento da sustentabilidade socioambiental da qual todos dependem. As árvores sobreviventes da Marginal Tietê começaram a desaparecer. Os lacaios da carrocracia estão sorrindo. A história não os absolverá."

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Gripe, minha vez de falar

Quando postei uma crítica a onda de pânico causada pela nova gripe, não imaginei que minha próxima missão como repórter seria falar, com profundidade, sobre a Gripe. Pois bem – três semanas se passaram e hoje vai ao ar o Planeta Minas Ciência e Tecnologia sobre o tema. Vamos falar como a atual pandemia tem exposto os riscos da gripe em geral e trazido à tona o despreparo da rede de saúde pública para lidar com a doença.

Entrevistamos respeitados especialistas da área medica e até uma historiadora, que fez um paralelo entre o surto da nova gripe e a gripe espanhola. Segundo a professora da UFMG, havia uma crença que a primeira capital planejada do país estaria livre do surto – mas não foi bem assim...

O programa ainda vai mostrar histórias de pessoas que tiveram suas vidas afetadas pelas diferentes formas do vírus influenza e falar dos tratamentos e novidades da pesquisa brasileira para o combate da nova gripe. Teremos até uma entrevista via skipe com uma jornalista residente no México, que contou como aquele país conseguiu controlar a disseminação do vírus e, claro, do medo.

Na Rede Minas, estréia hoje, dia 24, às 22h; com reapresentação na sexta-feira, às 13h30, e sábado, às 19h30. Até lá!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Ele está no meio de nós
















Pensei que passaria ilesa à febre de comentários, piadas e elocubrações a respeito do rei do pop: o único blog do mundo a ignorar a morte de Michael Jackson. Dois meses depois, me torno "mais uma". Culpa de um outdoor bizarro no alto da av. Nossa Senhora do Carmo, anunciando um tributo a MJ com a presença do Olodum em pleno Mineirinho. Precisei confirmar as informações na internet - e vi que ingressos já estão à venda on line. Mas juro que, se este blog fosse um site de notícias, eu teria um repórter escalado para "cobrir"o evento. Alguém se habilita?

[Repare na legenda da imagem acima: a realização é assinada por Savassi Entretenimento!]

domingo, 16 de agosto de 2009

Manifesto pelo Bar Sem TV

As palavras do sábio e boêmio Xico Sá serviram de deixa para este movimento que pretendo incentivar: CHEGA DE TELEVISÃO EM BAR! Para o colunista, o aparelho tem contaminado as ruas do mesmo mal que, há 40 anos, arruína lares e famílias: “A TV seguramente é uma das desgraças responsáveis por se conversar tão pouco e sem visgo na prosa”. Tem coisa mais chata do que testemunhar baixaria da novela das oito enquanto se toma um chopp gelado??

O mais maluco é o abismo entre esta percepção e a intenção dos donos dos estabelecimentos. Devem pensar que a TV seja condição mínima para ser descolado, chique, na moda – como verifiquei no boteco árabe onde estive ontem, em pizzarias ou em restaurantes um pouco mais caros. Outro fenômeno intrigante são os televisores de plasma que não exibem programação nenhuma, mas sim imagens aleatórias de comida, flores, paisagens e gente sorrindo. Esta é a escolha da sorveteria Alessa, inaugurada há alguns meses com este “diferencial”. Desculpem, mas se os donos pensam que aquele “power point” do tipo spam seja atraente, estão totalmente enganados. Eu quero é pegar logo a casquinha e fugir dali.

Por fim, mais um desabafo: odeio TV em fila de banco. O Santander exportou esta “determinação” de São Paulo para Belo Horizonte – com um rígido protocolo: a televisão só pode ficar ligada no Cartoon Network e similares infantis. Sem áudio. Juro. Não é um absurdo? O pobre fica duas horas esperando para ser atendido, com senha em mãos, absorto em imagens psicodélicas das Meninas Superpoderosas. Descobri isto no dia em que encerrei minha conta por lá e resolvi protocolar uma reclamação por escrito. O gerente não sabia me explicar por que não deixar a TV ligada em canais de notícias 24 horas, por exemplo. É muito descaso com os clientes! É chamá-los de burros na cara dura. Entre no banco, saia ainda mais medíocre.

[E pelo visto minha indignação já extrapolou os motivos iniciais deste pretensioso
manifesto...]

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Procura-se um sorriso



















Encarei o estranhamento frente a frente. Pela segunda vez. Agora, não posso mais me abster. Este homem, como o primeiro, sorri na foto. Ambos guardam segredos. Ambos deviam ter ao menos um motivo para sorrir. Mas, neste exato momento, são desaparecidos.

Estampadas no Jornal do Ônibus, as fotos em preto e branco sempre dizem muito pouco sobre a vida dos que saíram de casa sem deixar rastros. Mas estes homens de sorriso na cara desempenharam com louvor o papel do cego consagrado pelas epifanias de Clarice Lispector. Alegria combina com sumiço?

Hoje vi a foto de Maron José dos Santos. De concreto, uma única informação: 47 anos. Aos poucos, um mergulho na fotografia 3X4 revela o sorriso acentuado à direita e o bigode, ralo e comprido. A calvície parcial destoa do cabelo negro e volumoso nos arredores da cabeça. (Teria sido esta uma foto recente?) A larga blusa revela o gogó saliente. Noto em Maron um certo ar de leveza e malandragem.

O devaneio é logo interrompido pela realidade – hora de dar o sinal e descer do ônibus. Por pouco, corri o risco de só descer no Jardim Botânico.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A ressurreição de Stuart






















No último sábado consegui testemunhar uma das grandes audácias do teatro brasileiro contemporâneo: uma fiel montagem da peça Maria Stuart, de Schiller, em pleno solo mineiro. Parece exagero, mas não é. Pense na loucura para deslocar de São Paulo um elenco de 13 atores e equipe técnica, cenário e figurino necessários a esta montagem com três horas e meia de duração. Pense no esforço prévio da produção para angariar apoio financeiro. E, por fim, pense no atual cenário desolador do mercado de teatro no país. Loucura, não é?

Mas o esforço “herculano" valeu apena: o espetáculo estrelado por Ligia Cortez e Julia Lemmertz teve enfim um público considerável no Palácio das Artes durante o fim de semana. [A divulgação prévia incluiu até uma participação divertida das duas no popular programa de entrevistas Brasil das Gerais!]

Admito que, ironicamente, o “grande teatro” não é o local mais indicado para espetáculos de teatro deste porte: a acústica atrapalhou bastante a compreensão das falas em alguns momentos. A peça também exigiu do público bastante fôlego para o mergulho a um texto clássico e denso sobre a verdadeira história de poder e ódio protagonizada no fim do século 16 por duas rainhas - Elizabeth, da Inglaterra, e Stuart, da Escócia.

Talvez a dose de teatro tenha sido cavalar demais para algumas pessoas que abandonaram o território no intervalo para o 2. ato. Mas claro que, para mim, valeu a pena. Sem falar na atuação impecável dos atores, eu soube que esta é apenas a segunda vez que o texto ganha uma montagem profissional no país. A primeira aconteceu no longínquo ano de 1955, quando Manuel Bandeira fez a tradução do texto original em alemão escrito no ano de 1800 para montagem do histórico Teatro Brasileiro de Comédia – TBC. Á época, com atores brilhantes como Cacilda Becker (Maria Stuart) e Cleyde Yáconis (Elizabeth).

UFA! Para encerrar meu momento pseudocritica de teatro, é impossível não comparar os figurinos utilizados nas duas versões da peça. Se a primeira foi fiel ao requintado estilo de época, esta optou por roupas básicas e atuais. Quem sabe uma forma sutil de nos lembrar da atemporalidade da arte e dos grandes dilemas humanos.

E chega de Camas Quadradas e Casais Redondos!

domingo, 2 de agosto de 2009

Música [fina] para crianças










Há anos ouço o Rock da Onça e outras músicas que contam histórias protagonizadas por um elefante fanático por paçoca de urubu, um tubarão de dentes afiados e um lobisomem de capa preta. Antes que pensem que eu esteja em meio a uma regressão aos meus 5 anos de idade, anuncio com alegria que, em breve, estas canções estarão fisicamente disponíveis no disco Quando eu crescer!

Explicando: boa parte deste álbum dedicado ao público infantil foi gravada no meu apartamento pelo Eduardo, um dos integrantes do grupo Éramos Três. Depois de quatro anos, a produção independente entrou na fase final de mixagem e logo segue para a masterização e a prensagem. E, claro, para as mãos de amigos com ou sem pequenos em casa!

Como fã de Palavra Cantada e outros excelentes trabalhos voltados para crianças, sou suspeita para falar, mas digo mesmo assim: o CD está caprichadíssimo! A partir de hoje, a “amostra grátis” está disponível no recém criado My Space do grupo. Visitem e aguardem outras novidades...