sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Hoje tem Zé Totó!

Vai ao ar o terceiro quadro do Histórias da Cidade nesta sexta, nas duas edições do Jornal da Rede Minas - às 12h e às 19h. Ver o programinha do Zé Totó indo ao ar vai me deixar um pouco órfã; mãe colocando o filho no mundo... Estive umas quatro vezes na mercearia do carismático Totó. Apuração, produção, reportagem, regravação... caprichamos nas imagens e nos detalhes, no mergulho no mundo dos objetos e da fiel freguesia da rua Aporé.... Em breve quero dar o link para a reportagem, mas por enquanto replico o texto que escrevi para o blog do quadro hospedado no site da Rede Minas.

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Vende-se de tudo!

Lembra daquelas mercearias antigas, típicas de interior, onde é possível encontrar de tudo? De esmalte a queijo, de peneira a doces, de bebidas a pregos? Pois bem, desde o inicio da povoação de Belo Horizonte, esses armazéns e botequins eram os principais pontos de comércio da cidade. Aos poucos, deram lugar a supermercados, padarias, lojas, shoppings. Mas em pleno ano 2010 conseguimos encontrar uma Mercearia típica deste tempo: a do Zé Totó, no bairro Aparecida, fundada em 1943.

Aos 81 anos, seu Zé Totó é uma daquelas figuras carismáticas que conquistam à primeira vista. Um senhor agitado, competente, dedicado. Ele herdou o comando da Mercearia Aporé do pai, vindo do interior. A freguesia ultrapassa os limites do bairro - a fama de “vender de tudo” traz fregueses de todas as regiões da cidade. O comércio - com balcão de madeira e penduricalhos espalhados por todos os cantos – funciona das 8 da manhã às 9 e quinze da noite.

Em época de consumismo intenso puxado pelo clima de Natal, esta reportagem revela como a relação com os objetos pode ser diferente. E, acima de tudo, nos oferece a chance de mergulhar no acolhedor e tradicional universo de Zé Totó. Não perca!! O Histórias da Cidade vai ao ar nesta sexta-feira, dia 17, nas duas edições do Jornal Minas - às 12h e às 19h.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Você não precisa de um salão de beleza


Desde o dia 1. de dezembro, a manicure da rua de baixo começou a maratona de fim de ano. Corta cutículas, lixa unhas e pés, cheira acetona e torce a coluna para servir a suas exigentes clientes de segunda a sábado. Perdeu a segundinha de teórico descanso, na prática dedicada à idas a bancos e ao médico, compras de casa e do salão, faxina, problemas pessoais. Maria é uma guerreira, gente finíssima; mulher negra beirando os 50 anos com o sonho de montar o próprio salão, adotar uma criança e voltar para São Paulo. É de lá, veio para Minas pequena. Ficou com a ilusão.

O universo dos salões de beleza é paralelo à realidade da cidade, à realidade dos homens e de mulheres mais desencanadas. Eu mesma, que nunca liguei tanto para ter unhas pintadas semanalmente com o novo hit da Colorama, acabei mergulhando mais nesses espaços desde que virei “mulher de TV”. São lugares curiosos, de variados estilos. Gosto da Maria, mas já parei em lugares como o Essencialli, no São Bento – três reais a mais no preço da manicure se traduzem em toda uma “infra” poderosa, com água e café, poltronas individuais, TV de plasma em algum programa trash e várias profissionais disponíveis e vestidas com blusinha cor de rosa. Tem outra galeria aqui perto com espaços mais genéricos, com moças meio emburradas que costumam falar mal da patroa enquanto lixam nossa unha com força.

Em comum, esses lugares são espaços para conversas fúteis regadas a leitura dinâmica de revistas como Contigo, Caras, Nova, Minha Novela. Já levei uma CartaCapital a um desses lugares e parei de ler já primeiro parágrafo sobre o caso Satiagraha. Seria o cúmulo do “pimba” – pseudo-intelectual-metida-a-besta. Afinal, bafões sobre o fim do casamento de Pato e Sthefany Brito estavam ali do lado....

Vou a salões como quem vai a uma expedição antropológica. Por mais que eu frequente o lugar, sempre serei “de fora”. Por mais que goste de me sentir arrumada, mantenho a capacidade de me assustar com meninas de 10 anos fazendo unha e escova progressiva, adolescentes que grudam megahair na cabeleira, peruas fofoqueiras, senhoras mal educadas e preconceituosas. E com o fato de que não, não quero experimentar a nova cor verde-musgo-turmalina da Colorama. "C'est la vie".

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Tempo de novo!



Estreia amanhã, dia 3, após meses de gestação, meu novo trabalho na Rede Minas. Cá para nós, brinco que vamos dar um salto na apresentação de várias aventuras cotidianas que poderiam ser contadas neste Tutu Mineiro – agregando a opinião e o profissionalismo de muita gente interessada em contar boas histórias. É o quadro Histórias da Cidade, que passa a ir ao ar toda sexta-feira nas duas edições do Jornal Minas. Em breve, também com seu próprio blog!

A proposta é destacar personagens e lugares que muitas vezes passam despercebidos (ou quase invisíveis.....) no nosso dia a dia em Belo Horizonte. Mergulhar nesses universos, dar espaço às pessoas e seus causos. Vamos para a periferia e para o centro sem preconceitos, descobrindo as diversas faces que compõem a identidade da capital.

Para quem anda experimentando do meu Tutu, boto água no feijão e convido os amigos para esta feijoada feita no capricho! Abraços!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Dilma & Eu

UFA, ufa, ufa. Dilma lá! Durante a comemoração de ontem, a primeira frase aos amigos que encontrava era “Não acredito!!..” Mulher na presidência? Com o Brasil conservador e preconceituoso que se revelou nessa campanha?... É com felicidade que constato como a maioria dos brasileiros teve garra para enfrentar os boatos e as guerras virtuais fundadas na baixaria votando na candidata capaz de dar continuidade ao projeto político iniciado com Lula. Um projeto de desenvolvimento econômico voltado para a inclusão das pessoas, pelo respeito aos movimentos sociais e aos direitos humanos.

Ufanismos a parte, também fiquei feliz por ter tido a chance de conhecer os bastidores das notícias na reta final da eleição. Escalada para a carreata de Dilma em Venda Nova, região norte e relativamente pobre da cidade, vivenciei a loucura de estar entre dezenas de repórteres colados na candidata. Organizados por uma simpática e descolada assessora de imprensa, ficamos plantados em frente à lagoa da Pampulha em posição de ataque. Mas o atraso foi de pouco mais de duas horas. No estresse geral, acabou sobrando tempo para conversa furada (“bonito seu sapatinho!..), para alguma ginástica laboral e espiadas no texto da passagem do colega.

Até que a mulher chega. E entra pelo lugar errado, colada em um monte de brucutu – entre eles, um empurrador e cotovelador profissional. (Se eu fosse repórter da Piauí faria um perfil daquele alemão. Cara bizarro....). foi A ZONA. De nada valem as organizações amigáveis feitas anteriormente. Vira a guerra. Fui sufocada e tive que achar um espaço mínimo entre um sovaco e um pescoço. No meio da gravação - na qual a candidata fala o que quer, uma vez que dez perguntas são feitas ao mesmo tempo – passo o microfone para um colega. A mão não alcançava mais.

Repentinamente, Pimentel aparece arrancando Dilma do bolo. Seguem voando para poucos quilômetros dali, onde começaria a carreta. Vamos atrás. Fiz a loucura de subir no caminhão que vai em frente ao carro de Dilma, montado especialmente para os cinegrafistas e fotógrafos. Incrível ter saído viva de lá. Mas foi surreal. Em constantes freadas buscas, o motorista fazia a turma cair feito dominó – primeiro um, depois os outros. Os alambrados eram todos meio soltos, perigo total. Sem contar o sol escaldante.... (só um felizardo teve a ideia de levar guarda-chuva para tapar o sol). O fotógrafo da UOL cansou do caminhão e pulou de lá de cima com o bicho em movimento. Para completar, no final da carreta, o carro de Dilma virou para a esquerda e nosso motorista seguiu reto. Foi a revolta geral, com gente enxergando uma pegadinha na estratégia.

Esta é a cobertura da qual mais me arrependo por não ter gravado os bastidores.
Ainda mais sabendo que estávamos na cola da agora presidente de Brasil.

A matéria aproveitada pela TV Brasil não conta nem um segundo desta história. Mas serve de souvenir.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Humor e eleição

Muito trabalho e pouca festa, os males do Brasil são.
Em época de estresse pré-eleição, recebi uma das melhores piadas com Dilma e Serra. Compartilho!

Serra e Dilma respondem: “Por que a galinha atravessou a rua?”


Dilma Rousseff: “No que se refere ao fato de a galinha ter cruzado a rua, eu considero que este é mais um ganho do governo do presidente Lula. Eu considero que foi apenas depois que o presidente Lula me pediu para coordenar o PAC das Ruas é que as galinhas no que se refere ao cruzamento das ruas tiveram a oportunidade de poder cruzar as ruas, coisa que, aliás, só as galinhas com maior poder aquisitivo podiam no governo FHC, no qual o meu adversário foi ministro do Planejamento e da Saúde”.

José Serra: “Olha, este é mais um trolóló da campanha petista. Veja bem, as galinhas cruzam as ruas no Brasil, há anos. Eu mesmo coordenei a emenda na Constituição que permite o direito de ir e vir das galinhas. Eles ficam falando que foram eles que inventaram esse cruzamento de ruas, mas já no governo Montoro, quando eu era secretário do Planejamento, as galinhas cruzaram as ruas com maior segurança. Eu, por exemplo, criei o programa Galinha Paulistana, que permitiu que milhares de galinhas pudessem cruzar as ruas e, agora no meu governo, vou criar o “Galinha Brasileira”, em que toda galinha terá direito de cruzar as ruas quantas vezes quiser “.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Minas e a Política....

Com todos os mil discursos, boatos, blá blá furado, tenho observado como os mineiros são conscientes da relevância política do Estado na definição das eleições. Já ouvi gente dizendo que as políticas que funcionam em São Paulo ou no Nordeste não funcionariam aqui e já vi quem ainda não se conforma pela não escolha de Aécio como presidenciável do PSDB nessas eleições.... Agora acabei de descobrir um vídeo com marchinha do compositor mineiro Flávio Henrique que mostra outra faceta desse orgulho regional - desta vez, de olho em votos para Dilma, uma mineira de Belo Horizonte. Desconsiderando o mau gosto na escolha de algumas fotos, vale assistir!!

domingo, 19 de setembro de 2010

Jubileu Congonhas

Os romeiros sobem a ladeira
cheia de espinhos, cheia de pedras,
sobem a ladeira que leva a Deus
e vão deixando culpas no caminho
(...)
Os romeiros pedem com os olhos
pedem com a boca, pedem com as mãos
Jesus, já cansado de tanto pedido
dorme sonhando com outra humanidade

(Romaria, de Carlos Drummond de Andrade)

Confesso ter travado quando precisei sentar para escrever o texto da matéria sobre o Jubileu de Bom Jesus de Matosinhos - festa religiosa realizada na cidade histórica de Congonhas há mais de 200 anos. A culpa é do poeta mineiro, autor dos versos acima. Como competir com uma reportagem tão profunda e sensível como o poema Romaria? Oras – só mesmo com a compaixão da poesia pode ser possível descrever um evento que é inteiro permeado pela subjetividade da fé de gente muito simples, que chega de todos os cantos do estado em agradecimento ao Bom Jesus.

Mas, vamos lá, minha missão não era tão impossível assim. Recuperada da emoção de ter testemunhado a mesma festa relatada por Drummond na década de 30, tomei coragem para descrever o que pude presenciar em algumas horas de muito sol e tumulto. Sim, na verdade aquela era a versão moderna da celebração, com romeiros que chegam de ônibus de excursão com ar condicionado e fazem pausa nas rezas para compras de roupas e produtos chineses em feira livre lotada de ofertas.

Apesar do tempo presente, nada me pareceu mais antigo do que os chamados ex-votos: quadros, objetos, pedaços de cabelo, fotos e bilhetes oferendados por fiéis em agradecimento a uma prece alcançada. Para isso, a basílica de Congonhas abriga a Sala dos Milagres. Ali, uma exposição de ex-votos do século 18 e 19 já consagrados como obras de arte se misturam a objetos recentes, como os trazidos naquele domingo em que estive por lá. A imagem é emocionalmente muito forte – um dos bilhetes manuscritos pedia ao Bom Jesus que “meus pais encontrem harmonia e parem de brigar”. Outro quadrinho, com texo impresso de computador e foto colorida de um bebê risonho, relatava a alegria de uma mãe que passou anos e anos tentando engravidar.

Seria capaz de passar horas estudando os tais ex-votos. Mas eles não cabiam no meu tempo e tampouco na matéria. O VT de 3 minutos e pouco feito para a TV local teve que passar por uma drástica edição para caber no limite imposto pela TV Brasil. Ainda assim, segue aqui o sobrou de um cansativo e interessantissimo dia de trabalho...

http://tvbrasil.ebc.com.br/reporterbrasil/video/9639/

[Imagens: Marcelo Abreu]

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Este blog está vivo!

Amigos e seguidores – poucos, mas fiéis: não desistam do Tutu. Esta que vos fala está a mil por hora, mas pretende continuar registrando algumas histórias por aqui. Para um rápido comentário: hoje o Mercado Central de BH comemorou 81 anos e estive lá fazendo reportagem. Adorei reencontrar colegas da Cultura Racional – Universo em desencanto, integrantes da banda responsável pela música da festa. [Lembram do post relatando a minha inusitada descoberta sobre a existência do grupo?? Tá aqui.]

Ah, e foi a primeira vez que encarei um pedaço de bolo gigante de festa popular. O bolo tinha 450 kilos e foi servido para duas mil e quinhentas pessoas! Docinho recheado de frutas e massa tipo pulmman: nenhum espetáculo gourmet, mas tragável!

Até breve!

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

De volta às coletivas


“Coletiva”, para quem não é jornalista, refere-se a uma entrevista convocada por uma personalidade ou “autoridade”, normalmente às dez horas da manhã, para que a imprensa seja informada de algo supostamente importante para a sociedade. Afastada do jornalismo diário por dois anos, tive a chance de relembrar tais momentos de selvageria em duas coletivas realizadas na mesma manhã desta segunda-feira. Loucura.

*

Na primeira pauta, tranquila, acompanhamos o início do curso de treinamento aos mesários das próximas eleições. Eis que chega o juiz da zona eleitoral, que nos daria a esperada “sonora” – sem a qual não há autorização para a retirada do recinto. Repórteres de todas as espécies e veículos se entreolham, esperando o momento de “avançar”. Mas o curso está em andamento, não podemos interromper. E a presa continua na mira. Mal a moça desliga o microfone, o juiz já está acossado no bololô de microfones, luzes, gravadores, braços esticados. Primeira lesão do dia – nunca fiz musculação para sustentar o microfone por tanto tempo. Entro no sovaco de um, faço ginástica com a cabeça, ouço pedidos de “sai da frente, pessoal!!”. E reparo como as perguntas acabam saindo meio sem nexo, repetitivas, chatas. No entanto, enquanto há perguntas, paira o imaginário de que não podemos sair dali – vai que algo bombástico seja declarado..... claro que não será!!

*

“Vai ter coletiva na polícia agora sobre o caso Maioline, corre pra lá”. Júlia não sabe quem é, o que é Maioline. Implora por alguma pista junto ao apurador. Chega atrasada, posiciona microfone na mesa dos delegados e se resigna a ouvir sobre o que nada sabe. Anota palavras desconexas do policial, tenta extrair alguma lógica, mas não resiste a perguntar para uma colega com cara de competentíssima (e de repórter de jornal impresso, por não estar maquiada ou de “terninho”). “Qual a novidade da coletiva??”. Ufa, descubro então que Thales Maioline, principal suspeito de uma fraude milionária que enganava investidores em Minas, agora teve a prisão decretada e se torna oficialmente foragido da justiça.

A repórter da Globo quer saber como serão as apreensões na falsa empresa do golpista e se levanta primeiro da “plateia” de jornalistas. Todos se levantam – é dada a deixa para a “sonora”. Avanços gerais, brigas, desespero, perguntas ruins. Peixe fora d´água, quebro com minha promessa de ficar calada e já me vejo perguntando algo que penso ser importante durante as investigações da polícia. Nessa hora, é preciso gritar, falar alto e com tom de autoridade – a única lei de comum acordo para que se consiga “a vez” na hora de perguntar. Depois, é preciso paciência para perguntas e respostas picadas, para o insistência do cara da rádio, para a viagem da moça da televisão, etc...

*

A coletiva virou a primeira matéria do jornal do meio dia. E a fita chegou na redação às 11h45. Adrenalina a mil, acabou entrando. E eu não sei como tanta gente sobrevive ao infarto antes dos 40.

*

Este post foi inspirado em leitura de uma série de três crônicas escritas por Perseu Abramo na década de 60 e reeditadas em "Um trabalhador da Notícia" (ed. Fundação Perseu Abramo). Com vasta experiência e competência como repórter, Perseu descreve os tipos mais comuns e interessantes das “coletivas” de forma impagável – entre eles o Sujeito da Televisão, o locutor de rádio, o Fotógrafo Apressado, o Foca e o Repórter Subversivo. Alguns trechos:

“Repórteres os há de toda espécie e variedade. Há o Repórter Subversivo que chega e toma o melhor lugar e que usa colarinho aberto e corpo ereto. Não faz perguntas: oferece opções. “O senhor é a favor da paz ou é u imperialista sanguinário?” “O senhor é contra a bomba atômica ou é um capitalista reacionário?” “O senhor bebe pinga mesmo ou é vendido à Wall Street?” O Repórter Subversivo não deixa passar nada, não perdoa ninguém: economista ou trapezista, tenista ou musicista, o entrevistado tem de ser contra a bomba atômica ou um burguês fascista”.

“Mas o mais interessante dos repórteres é o Repórter Original. A primeira coisa que se deve dizer do Repórter Original é que ele constitui a maioria entre os repórteres: todos se consideram originais”.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A cidade é o palco!



De cara, o estranhamento é dos grandes... Um tapete vermelho em plena praça Sete? Palco montado no cruzamento mais agitado da Savassi?? Pois é... Logo soube se tratar de uma instalação do Festival Internacional de Teatro, o FIT ameçado de extinção que, pelo bem da nação e da classe artística de Minas, acabou saindo.... O trabalho é de Paulo Pederneiras, também cenógrafo do Grupo Corpo. Ainda não vi os espetáculos que devem ocorrer nestes espaços "vermelhos", mas já aplaudo a iniciativa capaz de quebrar a monotonia cinza da cidade...

Ontem de noitão estive na abertura do festival, com o trabalho K@osmos, da Espanha. Fui atraída pela mega-estrutura montada na praça da Estação, com show ao vivo estilo Bjiork e um guindaste gigante que serviu de sustentação para acrobacias feitas no ar por um grupo de artistas. Foi bonito, preciso admitir, mas passou longe de um trabalho que inspirasse o teatro. Muito deslumbre, pouco encantamento.... Os artistas convenceram como profissionais acrobatas, mas não como atores de expressão corporal ou emotiva... Mas, deixando de ser chata, claro que valeu a pena.

Devo conseguir acompanhar outras atrações internacionais programadas para o evento, mas temo que o show de pirotecnia e megalomania tire o espaço do teatro que comunica, emociona, convence. Vamos ver... (e torcer pelo contrário!)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Sotaques 3

Às vésperas de completar três anos nas Gerais, pensei que já era tempo de escrever mais um post sobre o mineirês. Afinal, por esta longa convivência com o “idioma”, já devo ter chances conseguir meu diploma nível intermediário... Enquanto “matutava” o texto, me chega este email enviado por Lud. Mesmo se tratando de uma grande cantada às mulheres mineiras, gostei das análises “semânticas” feitas pelo forasteiro, o autor anônimo do texto.

Pelas boas sacadas que seguem, replico aqui mais uma homenagem a este falar tão característico que, confesso, já vem sendo adotado em partes por uma ex-paulistana...

O sotaque das mineiras

(Autor anônimo)

(...)

Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas.
Preferem, sabe-se lá
por que, abandoná-las no meio do caminho (não dizem:
pode parar, dizem:
"pó parar").

Os não-mineiros, ignorantes nas coisas de Minas,
supõem, precipitada e
levianamente, que os mineiros vivem -
lingüisticamente falando - apenas
de uais, trens e sôs.
Digo-lhes que não. Mineiro não fala que o sujeito é
competente em tal
ou qual atividade.
Fala que ele é bom de serviço.

Pouco importa que seja um juiz de direito,
um jogador de futebol ou um
ator de filme pornô.
Se der no couro - metaforicamente falando, claro - ele é bom de
serviço.
Faz sentido...

Mineiras não usam o famosíssimo tudo bem.
Sempre que duas mineiras se encontram, uma delas
há de perguntar pra
outra: "cê tá boa?"
Para mim, isso é pleonasmo. Perguntar para uma
mineira se ela tá boa é
desnecessário.

Vamos supor que você esteja tendo um caso com uma mulher casada.
Um amigo seu, se for mineiro, vai chegar e dizer:
Mexe com isso não, sô (leia-se: sai dessa, é fria, etc).
O verbo "mexer", para os mineiros, tem os mais
amplos significados.
Quer dizer, por exemplo, trabalhar.
Se lhe perguntarem com que você mexe, não fique ofendido.
Querem saber o seu ofício.

Os mineiros também não gostam do verbo conseguir.
Aqui ninguém consegue
nada. Você não dá conta.
Sôcê (se você) acha que não vai chegar a tempo,
você liga e diz:
Aqui, não vou dar conta de chegar na hora, não,sô.
Esse "aqui" é outro que só tem aqui.
É antecedente obrigatório, sob pena de punição pública,
de qualquer frase. É mais usada, no entanto, quando você quer falar
e não estão lhe dando muita atenção: é uma forma de dizer, "olá,
me escutem, por favor".
É a última instância antes de jogar um pão de queijo
na cabeça do interlocutor.

Mineiras não dizem "apaixonado por".
Dizem, sabe-se lá por que, "pêxonado com".
Soa engraçado aos ouvidos forasteiros.
Ouve-se a toda hora: "Ah, eu pêxonei com ele...".
Ou: "sou doida com ele" (ele, no caso, pode ser você,
um carro, um cachorro).
Elas vivem apaixonadas "com" alguma coisa.

Que os mineiros não acabam as palavras,
todo mundo sabe. É um tal de
"bonitim", "fechadim", e por aí vai.
Já me acostumei a ouvir: "E aí, vão?". Traduzo:
"E aí, vamos?".
Não caia na besteira de esperar um "vamos"
completo de uma mineira. Não ouvirá nunca.

Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela,
mas prefiro, com todo respeito, a mineira. Nada pessoal.
Aqui certas regras não entram. São barradas pelas montanhas.
No supermercado, não faz muitas compras, ele compra
"um tanto de côsa".
O supermercado não estará lotado, ele terá
"um tanto de gente".
Se a fila do caixa não anda, é porque está
"agarrando" [aliás, "garrando"] lá na frente. Entendeu? Agarrar é agarrar, ora!

Se, saindo do supermercado, a mineirinha vir
um mendigo e ficar com pena,
suspirará: Ai, gente, que dó. É provável que a essa altura o leitor já esteja apaixonado pelas mineiras.

Não vem caçar confusão pro meu lado.
Porque, devo dizer, mineiro não arruma briga, mineiro
"caça confusão".
Se você quiser dizer que tal sujeito é arruaceiro, é melhor falar, para
se fazer entendido, que ele "vive caçando confusão".

Para uma mineira falar do meu desempenho sexual,
ou dizer que algo é muitíssimo bom vai dizer: "Ô, é sem noção".
Entendeu, leitora? É sem noção! Você não tem, leitora,
idéia do "tanto de
bom" que é. Só não esqueça, por favor, o "Ô" no começo,
porque sem ele não dá para dar
noção do tanto que algo é sem noção, entendeu?

Capaz... Se você propõe algo e ela diz: capaz!!!
Vocês já ouviram esse "capaz"? É lindo.
Quer dizer o quê? Sei lá, quer dizer
"ce acha que eu faço isso"? com algumas
toneladas de ironia...

Se você ameaçar casar com a Gisele Bundchen, ela dirá: "Ô dó dôcê".
Entendeu? Não? Deixa para lá.
É parecido com o "nem...". Já ouviu o "nem..."?
Completo ele fica:- Ah, nem...
O que significa? Significa, amigo leitor, que a mineira que o pronunciou não
fará o que você propôs de jeito nenhum.
Mas de jeito nenhum.

Você diz: "Meu amor, cê anima de comer
um tropeiro no Mineirão?".
Resposta: "Nem..." Ainda não entendeu? Uai, nem é nem.

Leitor, você é meio burrinho ou é impressão?
A propósito, um mineiro não pergunta: "você não vai?".
A pergunta, mineiramente falando, seria: "cê não anima de ir"?
Tão simples. O resto do Brasil complica tudo.

É, ué, cês dão umas volta pra falar os trem...
Falando em "ei...".
As mineiras falam assim, usando, curiosamente,
o "ei" no lugar do "oi".
Você liga, e elas atendem lindamente: "eiiii!!!",
com muitos pontos de
exclamação, a depender da saudade...
Tem tantos outros...

O plural, então, é um problema. Um lindo problema,
mas um problema.
Sou, não nego, suspeito.
Minha inclinação é para perdoar, com louvor,
os deslizes vocabulares das mineiras.

Aliás, deslizes nada.
Só porque aqui a língua é outra, não quer dizer que a oficial esteja
com a razão.
Se você, em conversa, falar: Ah, fui lá comprar umas coisas..
Ques côsa? - ela retrucará.
O plural dá um pulo. Sai das coisas e vai para o que.

Ouvi de uma menina culta um "pelas metade",
no lugar de "pela metade".
E se você acusar injustamente uma mineira, ela,
chorosa, confidenciará:
Ele pôs a culpa "ni mim".

A conjugação dos verbos tem lá seus
mistérios em Minas...
Ontem, uma senhora docemente me consolou:
"prôcupa não, bobo!".
E meus ouvidos, já acostumados às ingênuas
conjugações mineiras, nem se
espantam. Talvez se espantassem se ouvissem um:
"não se preocupe", ou algo assim.

A fórmula mineira é sintética. E diz tudo.
Até o "tchau" em Minas é personalizado.
Ninguém diz tchau pura e simplesmente.
Aqui se diz: "tchau procê", "tchau procês".
É útil deixar claro o destinatário do tchau.
Então...


[Leia aqui outros posts sobre o mineirês em Língua e Sotaques.]

terça-feira, 20 de julho de 2010

Criança na cidade



Foram sete dias com um pequeno de cinco anos como visita de honra em BH. Garoto esperto, chegou em casa falando de São Paulo como “lá no Brasil...”... Pudera: a primeira pessoa com quem o Cauã teve contato em Minas foi Dona Virgínia, a faxineira de casa: nascida no interior do estado, na região de Teófilo Otoni, ela tem a fala de quem mal frequentou a escola. Para dificultar ainda mais a compreensão do pequeno paulistano, a senhora tem problemas auditivos e conversa em um tom de voz bem mais alto do que a média da população.

Meu sobrinho acompanhou bem os pais jovens em bares, cervejas e torresmos pela cidade, mas também imprimiu um ritmo bem especial às programações diurnas. A rápida caminhada da praça da Liberdade à Savassi, por exemplo, virou uma maratona de caça às pedras no chão – colecionadas como verdadeiras relíquias mineirais. O aviãozinho de papel foi lançado ao ar mais de 50 vezes, obrigando paradas constantes para novas aterrizagens na rua suja.

No mais, percebi o quanto a presença de uma criança pode alterar nossa visão do cotidiano. Os pequenos servem como desculpa para programas que raramente faríamos sem elas. Meu irmão curtiu cada minuto do domingão no parque Municipal, entre brinquedos, burrinhos e patos. Na agenda, ainda entraram os bonecos incríveis do Museu Giramundo e os quatis ensandecidos do parque das Mangabeiras. Nada mal – sol gostoso, vistas espetaculares, alguma pipoca, muita risada.

Na próxima visita, talvez seja hora de escrever o guia BH para Crianças em parceria com Cauã... [Já sinto falta das fatias de doce de mocotó encontradas no tapete...]

domingo, 4 de julho de 2010

Grão Mogol



Nem Kubai Klan ou Ítalo Calvino chegaram a inventar esta cidade. Mas poderiam. Mesmo sem nome de mulher, Grão Mogol, no norte de Minas, chama a atenção do viajante por suas igrejas feitas de pedra e rio cor chá-mate. As pequenas casas coloridas da rua central, feitas de adobe, guardam histórias e cheiros de séculos atrás, quando a vila entrou no alvo da coroa portuguesa pela descoberta de diamantes na região. Espremidas, as casinhas ainda servem como vendinha para biscoitos e cacarecos ou para uma barbearia em plena atividade. Em clima de festa junina, se agitam bandeirinhas coloridas no céu.

*

Os anos 2010 parecem longe de alcançar a cidadezinha de 15 mil habitantes fincada entre o mar de eucaliptos na paisagem do Jequitinhonha. Mas a verdade é que me senti muito bem recebida por ali, numa parada estratégica rumo a Minas Novas e Turmalina. Uma atmosfera acolhedora que talvez se explique por uma bonita mística familiar.

*

Nos idos de 1920, meu avô João menino frequentou poucos anos de escola rural em Passos, no sudoeste de Minas. Garoto inteligente, descobriu imenso prazer no privilégio oferecido pela professora aos alunos que terminassem a lição mais cedo: poderia ir ao quadro negro estudar o mapa do estado. Encantado, ele corria com a tarefa e se entregava às viagens imaginárias que o faziam conhecer o mundo... (Minas não é o mundo, oras?..). E entre as centenas de cidades do mapa, uma delas chamava mais a atenção: Grão Mogol. Nome diferente, lugar bem distante, quase mágico. Desde então, cismou: queria fechar os olhos e aparecer por lá.

*



Oitenta anos depois, com a mesma lucidez de sempre e a excelente orientação espacial, meu avô ainda contava a história de Grão Mogol. Mas não chegou a visitá-la. A missão foi cumprida por mim, meio sem querer, três anos depois da sua morte. Não é a toa que nas ruas da cidade perdida e sonhada, os caminhos me parecessem marcados por diamantes...

sábado, 19 de junho de 2010

Mulheres da terra

Dona Maria tem 72 anos e um raro bom humor. Na zona rural de Turmalina, no Vale do Jequitinhonha, mora em uma casa grande e fresquinha, com duas cozinhas: na de fora, fica o maior forno à lenha que eu já tinha visto até então. Nos recebeu com os pés no chão e as mãos sujas de barro: “estava moldando agorinha mesmo”. Artesã de mão cheia, me levou ao quartinho onde estavam os vasos grandes que acabavam de ganhar forma. Logo conheci as bonecas casamenteiras e os outros potes, bules, jarras e copinhos – decorados e pintados por ela. Impossível não admirar a inspiração para a arte nascida em meio a tanta pobreza.

Dona Maria mora com mais seis pessoas da família e virou “personagem” na reportagem que gravei por ser uma das beneficiadas com o projeto Um milhão de Cisternas, coordenado pela Articulação do Semi-Árido Brasileiro. A cisterna, que coleta a água da chuva para os períodos de seca, é a única garantia de água limpa para essas famílias. [Neste caso, não era clorada... e parece que raramente há tratamento...]

Mas a participação desta grande mulher no post do Tutu Mineiro tem outro significado. Ao longo dos dez dias e dos 2.400 quilômetros rodados no Jequitinhonha, conheci histórias de outras donas e jovens Marias que, em comum, têm paixão por sua terra. Ainda que seja pobre, ainda que seja isolada, ainda que seja esquecida por nossos governantes.

Em Irapé



Entre os poucos funcionários da monstruosa usina hidrelétrica de Irapé, que exigiu o reassentamento de 1.100 famílias, conheci Ádila, a moça da foto. Tem 40 anos e aparência de 28. Enquanto nos acompanhava na visita ao polêmico reservatório, contou que morou quase um ano em São Paulo e achou horrível. Formada em História, ela foi atrás do sonho que contamina outros moradores das pequenas cidades do Vale. Saiu de Virgem da Lapa, de 13.600 habitantes, para acompanhar os irmãos que estavam fazendo a vida na grande metrópole. Conseguiu emprego como manicure, mas se sentia mais uma no meio da multidão. “Lá ninguém te dá bom dia, não olha para a sua cara. Aqui eu gosto de ser chamada pelo nome, de sorrir para as pessoas”, comparou.

Ádila é otimista com o futuro e não se ilude mais. Não pretende mudar nem para Montes Claros, nem para Diamantina: quer continuar na sua cidadezinha, próxima da família, das raízes. Por sorte, tem seu sustento.

Volto desta viagem marcante com o mesmo sonho: que mais mulheres filhas do Vale tenham a oportunidade de construir suas histórias ali mesmo, na terra ensolarada e acolhedora deste sertão brasileiro.

domingo, 6 de junho de 2010

Do Vale do Jequitinhonha















Procurei por Salinas em guias de viagem estilo Quatro Rodas. Única atração: a mardita cachaça. Mais nada. Até constrangedor.... Estou aqui desde sexta e pude ver, por poucos minutos, uma atração típica da cidade - o mercado público reúne dezenas de produtores rurais e ambulantes, com carroças carregadas de frutas e muito agito popular. Gostaria de ter aproveitado o clima, mas não tive tempo. Meu destino foi o mato próximo a um córrego do Jequitinhonha, onde parti em busca de uma nova espécie de peixe descoberta em função do monitoramento das rendondezas da gigantesca usina de Irapé. Um paiuzinho que só apareceu no segundo dia, graças à rede armada pelo nosso pescador Waldir.

Em termos de impressão geral, vejo um Vale pobre economicamente. Casinhas enraizadas no chão, ruas desertas nos povoados, famílias com crianças andarilhas nas estradas... por outro lado, parece ter muita gente ganhando dinheiro por aqui. O asfalto chega a pleno vapor, com máquinas pesadas pelo caminho; o eucalipto é uma constante na paisagem; e a usina de Irapé gera um terço da energia demandada pelo Estado. Mas ainda não sei dizer como a população da região realmente se beneficiou com a empreitada.

Eita Minas grande!!

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Para entender Tom Zé

Quero pensar, meu bom rapaz
Numa boa
Não se dá um "sim" assim à toa
Quero pensar, meu bom rapaz
Numa boa
Talvez tocando no piano
Da patroa
Finalmente sonhar
Felicidade sim, sonhar, sonhar
Feliz se dar ao sonho
No raio e na raiz
Se ao sonho contraponho
Onde ponho meu nariz
Tristeza, não, tristeza fim
Tristeza bem longe de mim


(Da música QUERO PENSAR (A MULHER DE BATH), de Tom Zé, em ESTUDANDO O PAGODE - Na Opereta SEGREGAMULHER)

Tom Zé é um gênio. Como todos da espécie, diversas vezes incompreendido. Pois bem, esta é uma boa chance para desvendar uma de suas obras: sábado e domingo agora acontecem as apresentações finais e gratuitas da peça musical Não se dá um sim assim à toa, do projeto Galpão - Pé na Rua, inspirada no disco do compositor. Imperdível, divertida e inteligente!

(Aqui, explicações do próprio Tom Zé sobre a obra original....)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Inspiração...



[Os cães sempre podem surpreender... Ainda mais os do Laerte!]

domingo, 23 de maio de 2010

Qual seu guia?



Desde a volta das férias, ainda me sinto um tanto aérea com pautas mineiras para o blog. Será um dos efeitos de já ser moradora um pouco mais veterana na cidade estranha? Será que a gente vai perdendo mesmo aquele olhar estrangeiro para as diferenças, as curiosidades, as histórias peculiares de um lugar?? Pena!...

Mas ainda queria retomar as férias incríveis para refletir sobre como nos viramos em um lugar totalmente estranho, onde não se fala absolutamente nada da língua local. Bom, o nosso roteiro pela Europa Central foi desenhado na pura raça geek. Leia-se: Eduardo, muito conectado na Internet, descobriu uma ferramenta incrível para escolher lugares bacanas e em conta para ficar: o Trip Advisor. Na verdade, uma comunidade virtual onde as pessoas avaliam hotéis/ pousadas/ albergues que conheceram. A participação é gratuita e você tem total liberdade para criticar, elogiar, destacar algo interessante do lugar... simplesmente infalível. Deu certo em todos os lugares que visitamos, bem recomendados entre os usuários.

Já a escolha dos passeios foi orientada pelo Guia Criativo para O Viajante Independente na Europa, organizado por Zizo Asnis. O guia faz sucesso por ter sido pioneiro em um filão bem tupiniquim: sugerir dicas para turistas quase sem nenhuma grana. O sucesso também está no fato de ser dedicado a brasileiros e escrito por um brasileiro. Todos os países merecem um quadrinho das “barbadas e roubadas”, com alertas sobre as famosas “tourist trap” (armadilhas para turistas). O texto é bem jovem, informal e engraçado.

Mas caímos numa armadilha bizarra. Ainda antes da viagem, comprei o Wallpaper Guide de Praga, editado pela Publifolha. Só depois “horrorizei” com o prefacio, nas exatas palavras seguintes:

Duas coisas que estão por toda a parte são a infalível agua ardente local, a Becherovka, e as hordas de turistas. De qualquer modo, foi o turismo que elevou o padrão de uma maneira geral. A iluminação das ruas ainda é fraca, mas as pedras da rua ganham agora novo brilho com os tênis dos turistas, e os habitantes de Praga têm todas as razões para serem gratos por isso.

Ou seja: uma cartilha de orientação espacial... capitalista! O tal guia é ultra elitizado, só fala de compras, design, spas... ah, um dos lugares sugeridos é um clube de tiro!! Enfim, não foi na minha mala.

Entre os guias que cruzamos no caminho - como o Guia Visual, também da Publifolha, mal traduzido e sem critério para os roteiros -, a conclusão é que o Lonely Planet é mesmo o mais completo. Detalhadissimo, oferece dicas descoladas e viáveis de onde comer, o que visitar e como priorizar os dias em uma cidade. Tem milhares de colaboradores que moram nas cidades e sugerem lugares escondidos, diferentes. Fiquei tão bem impressionada que resolvi espiar, na internet, o Lonely Planet de Belo Horizonte.... e não é que gostei?? Tem ali uma BH surpreendente e até desconhecida de alguns belohorizontinos.

O guia recomenda, por exemplo, o Museu Giramundo e o Museu de Artes e Ofícios. Inclui o charmoso Café com Letras e o Café Kahlúa Tabacaria – uma opção na Savassi, bairro mais rico, e outra no centrão, mais acessível.

E para encerrar o assunto, não posso perder a deixa de voltar a recomendar um guia bem sui generis escrito por um jornalista mineiro sobre a capital: Na Pior em BH. Trata-se de um “roteiro maldito para um turista original: pardieiros, pocilgas e assemelhados”, nas palavras do autor. O esquema é trash metal: Ranier Bragon passou a limpo seus lugares mais sujos e prediletos, com direito a sebos baratíssimos e bares para tomar o original caldo de mocotó. [Se ele está vivo, pode valer a pena experimentar...] Enquanto o projeto não vira livro, o jeito é pegar as dicas do blog.

Quem sabe, em mais um ano de paulistaneira, não escrevo meu próprio guia?

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Rios da 262

Esta é anotação de seis horas de viagem na rodovia 262, voltando de Uberlândia para Belo Horizonte. Num caso raro de dificuldade para dormir, resolvi anotar os poéticos - ou no mínimo curiosos - nomes dos rios cortados pelo asfalto. Eis o dito das placas:

- PONTE SOBRE O RIO QUEBRA ANZOL
- PONTE SOBRE O CÓRREGO COTOVELO
- RIBEIRÃO JORGINHO
- RIBEIRÃO MATADOR
- PONTE SOBRE O RIO SÃO JOÃO
- RIBEIRÃO DAS AREIRAS
- RIBEIRÃO DAS VACAS

[Vestígos das Gerais que em breve as obras do PAC podem apagar, substituindo o lirismo por nomes de doutores, desembargadores, políticos e afins....]

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Uberlândias



UberTerra me pareceu mais simpática desta vez. Estive por lá no dia da revoada tucana pela cidade – José Serra acabara de exibir seu sorriso amarelo por aquelas terras - mas não foi exatamente este o motivo da minha simpatia. Ossos do ofício, fui levada mais uma vez a descortinar o universo até então desconhecido do atletismo. Pois é: Uberlândia abriga, até agora, o único Centro Nacional de Treinamento de Alto Nível em funcionamento do país. Isso significa que 40 adolescentes de todas as regiões do Brasil moram e estudam na cidade, passando quase o dia inteiro confinados em treinamentos intensivos na Vila Olímpica do Sesi.

Estranha no ninho, não posso deixar de admirar a garra desses moleques – escolhidos entre os primeiros colocados em seletivas de atletismo pelo país. Têm 17, 18 anos e, segundo os cálculos dos técnicos, chances reais de alcançarem medalhas em 2016. Longe, mas é assim mesmo – as verdadeiras apostas no esporte são feitas a longuíssimo prazo. Por isso importamos 3 cubanos como técnicos para a turma de Uberlândia. Orlando Perez Áquila, Roberto Sanches Escobar e Ramon Cano Portal se disseram bem ambientados em Minas e parecem animados em honrar o convite. Mas, segundo Ramon, ainda estamos longe de chegar perto do avançado sistema de recrutamento de talentos do atletismo cubano. Por lá, a cadeia começa bem cedo e não se perde; e todos os estados do pais têm ao menos 4 centros de treinamento avançado como o de Uberlândia. Outra vantagem, para ele, é o sistema centralizado no estado – os cuidados com o futuro do atleta não ficam a mercê do apoio de clubes ou patrocinios.

Bom, eu já fiz minhas apostas para 2016. Vamos ver se meu olho para lançadores de dardo, de martelo e corredores começa a ser menos míope...

Abraços recém-chegados de Viçosa, a terra do melhor doce de leite do mundo!!!

domingo, 25 de abril de 2010

Música para crianças (será?)

Acho que amadureci um pouco antes da hora ouvindo as músicas tristes do disco Arca de Noé nos anos 80. "Corujinha, corujinha/ que feinha que é você", na voz de Elis Regina, ou "Lá vai São Francisco/ pelo caminho/ de pés descalços/ tão pobrezinho", por Ney Matogrosso, tocavam certa melancolia. Mas não me arrependo. As belas canções também me apresentaram a poesia de Vinicius de Morais e todo seu universo de seres fantásticos e falantes. O mesmo com o cult Saltimbancos, do Chico Buarque. Referências de peso para contra balancear a artilharia pesada da Xuxa que, confesso, também me atingiu em cheio...

Mas o que é Música para Crianças (assim mesmo, em maiúsculo) nos anos 2000? Bingo para quem disse Palavra Cantada. Ou Hélio Ziskind, em suas belas composições para os programas infantis da TV Cultura [viva o Castelo!!]. Mas cá entre nós - estas ainda são referências elitizadas. Não alcançam as massas, não chegam às crianças via TV Globo. O que chega, claro, é o pagode/ axé erotizado, com variantes no estilo Kelly Key. Caramba, que triste a sina destes pequenos...

Pois mesmo sem filhos tenho acompanhado a movimentação de artistas já consagrados no mundo, digamos, adulto, rumo ao público infantil. Adriana Calcanhoto, em sua versão Partimpim, deu gás ao movimento, agora seguido por Arnaldo Antunes em Pequeno Cidadão. Adoro o primeiro disco de Partimpim e me divirto com as tiradas psicodélicas do ex-Titã, mas sinceramente.... Não ouço nem vejo carisma ou vocação musical para lidar com um público tão especial.

Aliás, estive ontem no show Pequeno Cidadão, na programação deste ano do Conexão Vivo, em plena praça da Liberdade. Mas sai um tanto desolada. Bebês e crianças esperaram pelo atraso de quase duas horas com muita paciência; o cenário e os efeitos o video no telão são muito bem pensados; mas os adultos cantores no palco não seguram a onda na forma de conversar e brincar com o público alvo. O rock´n roll pesado (e também melancólico!!) parecia soar estranho aos ouvidos mirins. As chamadas para participação não convenciam...

De novo, reforço que estas são apenas impressões. No geral, confirmam a hipótese de que tanto Adriana como Arnaldo criam heterônimos para o experimentalismo, mas não mostram vocação para falar com as crianças. Estão certos, claro, mas a velha questão da falta de Música para Crianças de qualidade ainda permanece latente...



Depois do desabafo, parto para o jabá. Como já sinalizei aqui, meu marido Eduardo faz parte de um grupo de amigos/ músicos que desenvolve, há cinco anos, um trabalho muito dedicado ao univeso infantil. Feito de forma totalmente independente, o primeiro disco do grupo – Quando eu crescer – acaba de se tornar realidade. Com distribuição pela Tratore, o CD começou a ser vendido pela Internet e em algumas lojas do país. Está uma graça. Mas o mais importante é que as músicas, compostas por Fernanda Sander, conquistam a quem realmente se propõem a conquistar: as crianças.

Hoje entra no ar o blog do grupo, Éramos Três, onde pretendo colaborar com textos: http://eramostres.wordpress.com/. Visitem, comentem, ouçam!!! E vamos rastrear, juntos, as novas possibilidades da música brasileira que alie qualidade, carinho e vocação para tocar aos corações infantis. Abraços!

domingo, 11 de abril de 2010

Tutu com Goulash

Goulash: guisado de carne de vaca, a que por vezes se adiciona carne de porco, cortada em cubos e rapidamente alourada em gordura quente, juntando-se-lhe então farinha, cebola e especiarias, sendo depois o conjunto cozido em água. O autêntico goulash (significando em húngaro, comida de vaqueiros) era preparado pelos pastores húngaros com carne de vaca cozida, cebolas, banha de porco, pimentão (variante paprica), cominhos, sal e água, sem adição de farinha. É comum o uso de pimenta. Com origem na Hungria, o goulash é hoje popular também na Áustria e, em geral, em toda a extensão do antigo império austro-húngaro. [da Wikipedia]

Não cheguei a experimentá-lo tantas vezes assim. Mas o tal do goulash (nas versões carne bovina, inclusive) apareceu tantas vezes e em todos os países por onde passei que não poderia escolher outro símbolo alimentício para esta viagem pela Europa Central. É dele que trago o gosto apimentado do molho e o cheiro suave do cominho. Deixo-me inebriar por seus aromas exóticos para descrever algumas cenas européias desde um ponto de vista, digamos, curioso.

Budapeste – Húngaros e brasileiros devem ter raízes de irmandade a serem confirmadas por historiadores e arqueólogos. Um povo de cara solta (o inverso da “amarrada” dos alemães), simpático, educado, carismático, inteligente. Ao ponto de nos causar vergonha o fato de não saber dizer uma palavra em húngaro. Para o Tutu, trago a imagem dos senhores jogadores de xadrez em plena piscina de águas termais aquecidas a 38 graus.



Praga – cidade de sonhos, maravilhosa e mística. E tomada por hordas de turistas, literalmente. Tentem descobrir onde está o Wally abaixo e, em seguida, reparem em uma das formas mais sedentárias e bizarras de se fazer um tour guiado por uma bagatela de cerca de 150 reais o dia.



Berlim – O muro, o muro, o muro. Mesmo vendo, é difícil crer que um país e uma cidade tenham sido divididos fisicamente por quilômetros infindáveis de concreto por quase 30 anos. Mas logo descobrimos que mesmo as piores tragédias podem ser encaradas como oportunidades. Ainda hoje, entre os souvenirs mais populares da Alemanha, estão pedaços do cimento destroçado do que um dia foi visto como sucata. Vendidos por um bom preço, claro. [Tive que trazer como encomenda e ainda me pergunto se não fui enganada comprando pedras de um muro qualquer.....]



Por hora, é só.
E estou de volta!

sábado, 13 de março de 2010

Tecla Pause [temporária]

O Tutu vai entrar na geladeira por algumas semanas. Culpa desta cozinheira-blogueira, que promete voltar de férias com temperos e especiarias importadas para testar novas receitas da tradicional comida mineira.

Para expressar o sentimento de hoje sem precisar dizer muito, deixo vocês com a reprodução da charge de Duke [de quem já virei fã, do jornal de Minas O Tempo]. Outras homenagens e a repercussão da perda de Glauco reunidas no site Universo HQ.













Grande abraço!

terça-feira, 9 de março de 2010

A mulher e o vestido



















Passaram-se os meses, as emisssoras de TV, os protestos, as opiniões, o bisturi, o Carnaval. Geisy Arruda não é mais a mesma; escolheu uma entre as várias portas abertas após o escandaloso escândalo promovido pelos envergonhados alunos da Uniban. Não a condeno. Polyana e sonhadora, foi capaz de um grande feito: simbolizar o mais autêntico machismo reinante na nossa sociedade, emanado com força também pelas mulheres.

Geisy e seu vestido nos serviram de espelho para refletir o ódio do brasileiro contra a verdadeira autonomia da mulher. Por essas e outras, neste Dia Internacional da Mulher assumo trocar a bandeira lilás do movimento feminista por um ícone mais moderno e concreto da nossa atual condição social neste mundo chamado Brasil.

[O assunto rende muito mais em textos, charges e comentários afiadíssimos no blog Boteco Sujo; passe por lá!]

terça-feira, 2 de março de 2010

Teaser



Video gravado para uma passagem no Youtube do programa Planeta Minas C&T sobre Crimes Digitais! Vamos falar dos riscos e limites da Internet, das pesquisas feitas pela polícia federal e por pesquisadores da UFMG; além de contar histórias de vítimas de golpes e calúnias em sites de relacionamento...

[Serve de chamada para a próxima reprise, que vai ao ar na Rede Minas no próximo sábado, às 19h30. Até lá! ;-)]

segunda-feira, 1 de março de 2010

BH: Ame-a ou Deixe-a










“Paixão cruel, desenfreada”. Cidadão de Belo Horizonte: você precisa amar esta cidade. Mais do que isso: você precisa provar seu amor por ela. É esta a estratégia, cercada de imperativos, que um grupo de entidades privadas e comerciais ligadas ao turismo decidiu adotar este ano para “valorizar a imagem da capital mineira”. A campanha Eu amo BH radicalmente e provo é a continuidade da ideia original, de 2006, quando o slogan ainda não se estendia ao “e provo”. Notícias, cartazes e até show gratuito no Chevrolett Hall marcaram, há um mês, a chegada da nova fase.

Assumidamente, o grande objetivo é “despertar o amor do belo-horizontino pela cidade”. Mas cá entre nós: alguém já tinha ouvido falar em campanha de turismo voltada para os próprios moradores da cidade? Estaria o amor tão sonolento a este ponto? Será que surte efeito de fato?

O engraçado é que o adesivo Eu amo BH radicalmente é mesmo um sucesso em vidros de carro, estimulando versões futebolísticas ou religiosas como Eu amo o Galo radicalmente ou Eu amo Jesus radicalmente. Talvez também entrem na onda e comecem a provar tamanha dedicação com videos, fotos e wallpapers para computador, como se vê no site da campanha.

É nessas horas que ainda me sinto uma estrangeira em Minas Gerais.

[Abaixo, video com o chefe Túlio, do bar homônimo, onde estive na sexta-feira para apresentar a autêntica comida mineira de buteco a dois paulistanos. E olha que não sou filiada do Belo Horizonte Convention & Visitors Bureau...]

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Mona Lisas mineiras











Pulamos o Carnaval. Literalmente. Desta vez, nada de desfile na Via 240 ou baile no Centro Cultural da UFMG. Sequer prestigiei os blocos de rua que começam a surgir em Belo Horizonte... Enfim, o tempo passou bem aproveitado em outros canais...

Fiquei devendo por aqui um comentário sobre a criativa exposição Cem Mona Lisas com Mona Lisa, em cartaz no Palácio das Artes até 21 de fevereiro. A mostra foi organizada a partir de 100 telas com releituras do secular quadro de Leonardo da Vinci feitas por artistas mineiros. Pela grandiosidade, a iniciativa já tem lugar garantido na próxima edição do Guiness Book. (Oh!!)

Na prática, o ponto de partida para os artistas parece ter sido a liberdade. Todos os quadros foram apresentados com a mesma dimensão de moldura, mas não houve restrição de materiais a serem utilizados. Por outro lado, algumas ideias de Mona Lisas se repetem – especialmente quando a protagonista do quadro é mostrada em versão brasileira.

Os olhos renascentistas ganham roupagem mineira em Gioconda de Vila Rica (Graça Malveira), onde aparecem incorporados no colorido corpo de Marília de Dirceu. A tela Mona Lisa mineira (Ronaldo Mendes) situa a figura em cenário de igrejas e festas de congado. Tem até a Monalisa de BH: negra, de cabelo afro e túnica tricolor, com o Palácio da Liberdade, a igreja da Pampulha e o parque Municipal de fundo.

Fantasias à parte, o melhor trabalho de interpretação contemporânea, na minha opinião, é Mona Lisa já não mais tão lisa (Lélia Parreira). Genialmente, os olhos enigmáticos se conservam no corpo de uma senhora sertaneja de pele enrugada e sem dentes. Apoiada numa cerca, lembra um dos tantos personagens que encontramos com facilidade no interior de Minas. Uma bela pintura.

O lado cômico ficou por conta de uma sacada mais “globalizada”. A Mona é pop (Lamounier Lucas) reproduz a versão original do quadro na capa da revista CARAS com a seguinte manchete:

Mona lisa abre seu coração
O sorriso mais enigmático da história da arte se encanta com a Ilha de Caras e revela estar feliz no Louvre

Adorei. E ainda é possível votar na Mona Lisa que você mais gostou. Espero ter feito uma sutil boca de urna para minhas favoritas...

domingo, 31 de janeiro de 2010

Estréia na Mostra de Tiradentes
















Enrolei, enrolei e, por fim, consegui prestigiar um dos eventos mais bacanas do calendário do cinema brasileiro: a Mostra de Cinema de Tiradentes. Já com o selo de atração mineira ultra recomendada, precisamos assumir que aquele é um clima muito especial, oposto ao que encontrei no feriado de 21 de abril, por exemplo. À época, vivenciei uma mini crise de pânico - culpa da lotação absurda e do trânsito congestionado por carros e carroças com capota da Hello Kitt.

Desta vez a cidade estava cheia, claro, mas com lugares para comer e espaço para caminhar. Nessas noites sem chuva, fiquei impressionada com a qualidade das projeções em 35mm em plena praça pública e com o respeito por parte do eclético público. Sobre os dois longas vistos no fim de semana, algumas rápidas linhas:

- Herbert de Perto – Documentário que recupera a trajetória dos Paralamas do Sucesso com foco nos principais fatos da vida de Hebert: a adolescência em Brasília, a mudança para o Rio, os primeiros shows, o sucesso, o acidente trágico. Filmado por grandes amigos do cantor [Roberto Berliner e Pedro Bronz], tem uma montagem impecável que recupera vasto material original e nunca antes visto. Mas de tão parcial, chega a ser um pouco cansativo. [Ao menos valeu para cantar músicas como “Óculos” e “Alagados”, assumindo que também já fui fã dos caras....]

- Elvis & Madona – Genial. A começar pelo roteiro: lésbica entregadora de pizza chamada Elvis se apaixona por travesti chamada Madona. Apesar das cenas e situações absurdas, a história é convincente e mostra um elenco afiadíssimo – com Simone Spoladore e Igor Cotrim nos papéis principais. Engraçado, romântico e emocionante, foi aplaudido diversas vezes ainda durante a projeção. Aposta do Tutu para o melhor filme nacional de 2010 e indicação de Almodóvar Brasileiro ao diretor Marcelo Laffitte! [Entrevista com o diretor no G1!]

**

E eu vou nessa porque amanhã é segunda-feira de verdade!

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

É dia de feira

São Paulo, ainda. Em plena arrumação de fotos da pasta My Pictures, dei de cara com esses registros de agosto do ano passado. Um bom post para dar continuidade às "Paulistanices" - feira livre de rua, ocupando ao menos quatro quadras do bairro, com direito ao pastel que, infelizmente, não existe em Minas. Dezenas de recheios, versões doce e salgada, acompanhadas do indispensável caldo de cana... Delícia pura! Salivem!



segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

"É bonita porque é feia..."














São Paulo, hoje, comemora 456 anos. De longe, torço para que a minha cidade tenha alguma trégua na chuva forte; para que as marginais deixem circular melhor o sangue da metrópole; para que alguma tranquilidade tome conta do centro; e para que as pessoas possam, por alguns minutos, encontrar algum conforto naquele caótico lar.

Fiquei feliz com duas recentes homenagens descobertas na Internet. A primeira, do ex-vizinho Zeca, retratou em imagens despretensiosas o percurso do ônibus Apiacás/ Pça Ramos, meu velho companheiro do bairro-centro. A segunda, publicada na revista da Folha deste fim de semana, é um ensaio fotográfico maravilhoso feito por coletivos de fotógrafos - entre eles, os amigos da Garapa. Da matéria, roubo o título deste post e toco o presente adiante.

*Uma das fotos do Zeca. Retrato do percurso; retrato da saudade.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Arte e Protesto















Não é a toa que as imagens de uma turma de sunga e biquini na praça da Estação, centro de BH, tenham se disseminado com tanta força entre blogs e sites nacionais. Mais do que uma cena insólita, tratava-se de um protesto – e bastante sério, do meu ponto de vista. Os manifestantes alertaram muita gente sobre o decreto recém assinado pelo prefeito Márcio Lacerda que proibe a realização de qualquer evento no local. Ou seja: esqueçam tanto os megashows com Fernanda Takai, Mart´nália ou Milton Nascimento quanto as comemorações de datas festivas como a Arrial de Belô e as apresentações do tradicional Festival Internacional de Bonecos (já relatada em fotos neste Tutu).

Ué! De que serve então aquele espaço enorme e sem sombra? Será que os casos de vandalismo são realmente significativos para justificar medida tão extrema?

Confesso que, se não fosse pela divertida mobilização “praiana”, eu mesma não teria dado atenção dediva a estas questões. É por isso que também vejo o protesto do sábado como uma performance artística – na qual os “performers” são, acima de tudo, cidadãos. Desde meus áureos tempos de trabalho no Instituto Pólis, já percebia que a mobilização política efetiva não poderia abrir mão destas novas manifestações. Foi assim que artistas e militantes sensibilizaram a sociedade sobre o drama das mais de 400 famílias ameaçadas de despejo no edificio Prestes Maia [como o ACMSTC]; foi assim que os riscos da “revitalização” do centro promovida pelo subprefeito da Sé vieram a tona [como no ato de escracho em pleno Morumbi...].

O melhor de tudo é que estes atos ainda podem ser muito divertidos.

E vamos aguardar o desenrolar do destino da praça da Estação! Até lá, os artistas mineiros contiuam mobilizados para transformá-la em clube público - Clique aqui para ver o engraçadíssimo video/teaser de chamada para mais atos neste e nos próximos sábados....

sábado, 16 de janeiro de 2010

D. Francisca II

Não é qualquer dia que se conhece alguém com uma história como esta – digna de um conto (ou ramance?) Roseano. Em pleno Hemominas, referência em banco de sangue no Estado, encontrei Francisca Segunda. Tagarela e forte, ela é mãe da Neide, de 43 anos, que faz transfusão toda semana para tratar de anemia falciforme. Apesar do sobrenome, ela não tem nada de nobre. Contou que o “Segunda”, registrado na certidão de nascimento, é pagamento de promessa feita pelo pai.

Nas palavras simples da mulher pobre, o pai sofria com a doença misteriosa do primeiro filho, chamado Francisco, que o deixava sem movimento das mãos. No auge do desespero, prometeu a algum santo que, curado o filho, todos os outros seriam batizados de Franscisco. A reza funcionou. E logo vieram Francisco I, Francisco II, Franscica I, Franscisca II e Franscisca III. Ela me disse que era uma loucura. Para chamar uns aos outros, só usavam o “Primeira!”, “Terceira!!”. Hoje, que as irmãs já morreram, fica mais fácil identificar-se como Franscisca. E pronto.

Dá pra acreditar? Enquanto isso, a filha Neide, nascida com a triste doença que a faz morrer de dor nas articulações e perder a visão paulatinamente, precisa mesmo é de sangue. Promessas não levam a muita coisa.

[Em breve, posto uma foto da dona Fransisca por aqui....]

domingo, 10 de janeiro de 2010

2010: Respire fundo

Então é Ano Novo. Primeiros dias de algum tempo livre para tomar fôlego antes do longo mergulho nas profundezas de 2010. Claro, sempre é possível espiar da superficie... mas bom mesmo é assumir o risco do novo, da descoberta, da surpresa. E poder ir longe.......

**

Não estive em Belo Horizonte durante os desastres provocados pelas chuvas da virada. Passado o temporal, reina agora o calor e a paz típica de janeiro. Trânsito tranquilo, centro mais calmo, comércio esvaziado. A cidade vira outra. Mas ainda nada parecida com a antiga vida urbana da década de 40...

Parque Municipal e Palácio da Liberdade sem grades. Ruas com bondinhos e poucos automóveis. Muitos pedrestes. Complexo da Pampulha dedicado ao lazer. Grandes cinemas no centro da cidade. Essas cenas quase idílicas da primeira cidade planejada do Brasil estão registradas em um documentário de 1949 gravado pelo Escritório de Serviços Estratégicos do governo dos EUA. A fonte, claro, é suspeitíssima. Mas o conteúdo é impagável! No Youtube, o vídeo está dividido em duas partes. A primeira fala especialmente do crescimento da indústria de Minas Gerais, impulsionada pela exploração de ferro. Itabira aparece como um novo e grandioso pólo, de onde partia a construção da ferrovia (...). E as pedras preciosas também surgem como protagonistas do interesse norte americano por este “povo amigável”.

Mas a parte dois é ainda melhor. Ali, BH aparece em lindas imagens em preto e branco, com destaque para a vida boa e os lugares frequentados pela elite já consolidada da época: casas espaçosas, escolas particulares [Santo Agostinho e Colégio Arnaldo, onde Drummond estudou], o Iate Clube e a Casa de Baile, na Pampula, o Minas Tênis Clube...

Enfim, vale a pena sentir a brisa nem tão antiga daquela capital planejada e sonhada pelos “Pais Fundadores” nas enconstas da serra do Curral, então com 2,3 milhões de pessoas... São 8 minutos de uma viagem ao tempo que ainda merece ser melhor compreendida como peça de propaganda política.