sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Propaganda enganosa

Um colunista que cobra para cobrir festas e publicar notinhas tediosas e fotos de moças em sorrisos Barbie no jornal me tirou do sério na semana passada. Em meio às peripécias da high society mineira destacadas na coluna, me deparei com o seguinte texto no semanário Pampulha:

“Depois do “auê” no Rio de Janeiro, tomamos banho de civilização e Primeiro Mundo em São Paulo onde, sem a correria dos negócios, curtimos inolvidável fim de semana. Insistimos em “civilização” quando se trata de São Paulo porque não há nada melhor para definir seu metrô, seus bares impecáveis para todos os bolsos e gostos e uma livraria que merece destaque, a Cultura”.

Por mais que eu possa colher os louros da boa fama da cidade, o enaltecimento de São Paulo feito por quem não mora lá sempre me incomodou. É triste ver como a São Paulo imaginária pode ser tão distante da metrópole pesada e agressiva que faz parte da realidade dos quem encaram diariamente o trem da periferia e baldeiam no entupido metrô da Sé; dos que nunca freqüentaram a avenida Paulista, seus cinemas e lindas livrarias; dos que não sabem o que é um bar “impecável”; dos que vivem em favelas e não têm nenhum acesso à restrita área do “Trumam Show” visitada por nosso fino colunista.

Para curar tamanha miopia, uma dica é o livro “Eles eram muitos cavalos”, de Luiz Ruffato, que li recentemente. Os modernos contos traçam um mosaico de personagens bastante complexos que enfrentam 24 horas de uma dimensão nada fictícia da cidade cinza.

4 comentários:

Anônimo disse...

Julita, nada contra os colunistas sociais, mas não vejo neles nem a possibilidade de prestar serviços socialmente responsáveis. Percebo, sim, um apelo ao desnecessário e futil. Um desserviço, inclusive à língua portuguesa, com seus neologismos descartáveis.
Tenho dito.

Anderson Ribeiro

lau disse...

não vou nem comentar sobre a colunista. dá dó...

mas quero registrar que curti a dica do livro. e já vi onde comprar!!!

bjão

Unknown disse...

Júlia, ainda não nos conhecemos pessoalmente, só pela rede, mas seja bem vinda a Minas. Além de Drummond, terra de Lúcio Cardoso, Emilio Moura, Guimarães Rosa, Adélia e mais um monte de jóias. Adorei seu texto. Um beijo, Cris

Unknown disse...

O provincianismo dos nossos colunistas cosmopolitas é uma coisa impressionante Júlia! Mas você aprende a ignorá-los com o tempo...

Beijos