quinta-feira, 26 de junho de 2008

Festival dos festivais






Comparar a programação cultural nos jornais de sexta-feira de Beagá e SP é mesmo covardia. Mesmo os filmes mais bacanas off-Hollywood demoram a chegar por aqui e saem rapidinho de cartaz. Mas os mineiros levam uma grande vantagem quando o assunto é festival de cultura. E nesse campo, a dimensão reduzida da cidade é fator fundamental para o sucesso de público nas programações intensas de uma ou duas semanas que tomam conta dos principais espaços culturais. Uma contaminação festiva muito especial.

Desde que me mudei, vi espetáculos pra lá de vanguardistas no Festival Internacional de Dança, filmes do Quênia no Festival de Arte Negra e agora, mais recentemente, peças muito refinadas do Chile e Espanha no Festival Internacional de Bonecos. [Os links levam a alguns registros passados neste blog.]

Agora, chegou o esperado Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de Belo Horizonte, já na 9ª. edição. De hoje ao próximo domingo, peças de Minas e do outro lado do mundo ocupam os palcos da cidade. A novidade vai ser um espaço maior para peças da América Latina, com grupos da Argentina, Bolívia, Colômbia, Cuba, Equador e Peru.

E como sempre nem tudo são flores, testemunhei a guerra por ingressos no primeiro dia de vendas e preciso adiantar aqui que só sobrou a rapa do tacho. Ainda bem que toda noite terá intervenções e espetáculos gratuitos de rua.

E mais jabá: O [já famoso] Grupo de Coco Ouricuri encerra o FIT no domingo dia 6, no Parque Municipal, às 21h30. A programação toda está aqui. uma bela desculpa para fazer turismo em Belzonte.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Sotaques

A minha locução para TV precisa de alguns ajustes. Não é fácil dar a melhor entonação às palavras para tornar um texto com imagens mais interessante. Mas desconfio que em alguns momentos é o meu sotaque que está soando estranho para os ouvidos mineiros. De qualquer forma, uma editora brincou sugerindo que eu estude, em casa, este singelo texto. Ótimo!

Sapassado, era sessetembro, taveu na cuzinha tomano uma picumel e cuzinhano um kidicarne com mastumate pra fazê uma macarronada com galinhassada.
Quascaí de susto, quando ouvi um barui de dendoforno, pareceno um tidiguerra. A receita mandopô midipipoca denda da galinha prassá. O forno isquentô, e mistorô e o fiofó da galinha ispludiu!!
Nossinhora! Fiquei branco quinein um lidileite. Foi um trem doidimais!! Quascaí dendapia! Fiquei sensabê doncovim, proncovô, oncotô. Óiprocevê quelucura!!! Prestenção!!!!!!! Grazadeus ninguém simaxucô!

Humbração procês!!

Acabo de ler na agenda que hoje é o Dia do Migrante. E como pela primeira vez experimento esta condição, o post celebra a data.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Osso!

Quem me conhece sabe do meu interesse pelos eventos culturais populares. Gosto de aproveitar minha profissão para romper a bolha social da classe média, dar a cara a bater. Com esse espírito, já dancei forró ao som de Calcinha Preta no bairro do Bexiga e “perdi” meu celular no meio um milhão de pessoas durante a festa do 1º de Maio da Força Sindical. Só roubada, diriam meus amigos.

Só que o dividendo dessas experiências costuma ser positivo. Os dois casos acima viraram matérias voluntárias para o site Overmundo (Forró Moderno e Desempregados do mundo, uni-vos!). Mesmo a minha cobertura do pobre Carnaval de Beagá rendeu um relato divertido aqui no blog (Ambulância tira Rei Momo da avenida).

Agora, confesso que exagerei. Curiosa, fui ao Arraial de Belô no sábado, na praça da Estação. As quadrilhas, em competição, não têm nada de autêntico. São repetitivas, forçadas, sem graça. O locutor reencarna um apresentador de rodeio e faz perguntas como “Quem sabe dizer três comidas típicas da festa junina?”. [Um garoto de 10 anos incluiu feijoada na resposta.]

Enquanto isso, nada de dança com música ao vivo ou fogueira de verdade. Depois do sufoco para comer um milho verde entre os esbarrões do povo, não sobrou pique para ver o show do grupo Swing de Palha. E não fica para a próxima.

sábado, 14 de junho de 2008

Rastros de Tom Zé












Perdi essa. O Tom Zé esteve em BH no dia 7 de junho para show e pate-papo durante a Calourada da PUC. No blog do artista – que acabei de descobrir e já deixo linkado aqui no Tutu – ele propôs uma parceria com os leitores para a composição de uma “peça fic-polit-science (ficção político-científica)” sobre a invasão dos estrangeiros no Brasil. A ocupação, para ele, tem interesses aparentemente corretos, como a escassez de alimentos no mundo. Mas em breve os motivos serão cada vez menos éticos.

Pois bem, revisando essa proposta tipicamente Tom-Zeniana, vi que ele divulgou no blog a composição final da canção. As referências mineiras me obrigam a compartilhar o trabalho coletivo por aqui. Mas só quem foi ao show pode relatar se a música funcionou de fato.

PARA O SHOW ‘INVASÃO DO BRASIL’, EM BH, SÁBADO, 7/6 - DIVULGAÇÃO DE REFRÕES QUE SERÃO CANTADOS

Garantem que agora a invasão
será sem batalha e sem canhão.

Por isto é que a sobrevivência
depende da arte e da ciência.

Mas se a ciência for o truque
teremos os físicos da PUC.

Se nos atacarem pelo vento
lutaremos com Milton Nascimento.

Se quiserem roubar nosso conforto
teremos por nós o Grupo Corpo.

Se comer nosso caju
eu convoco o Pato Fu.

Mas se ainda trouxerem carabina
lutamos no Clube da Esquina.

Contra metralhadora ou carro-tanque
o Tia Nastácia ou o Skank.

Assim venceremos soberanos
com o saber dos nossos veteranos.

E pro inimigo fazer macarronada
entregamos a nossa calourada.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Jornalista caminhoneira

Do Rio para São Paulo. Em Itajubá, no sul de Minas Gerais e a 250 km de São Paulo, a influência é do Estado paulista. Nesta cidadezinha – que nem de longe parece ter seus 190 mil habitantes – o sotaque com “RR” carregado em “carne” e “porta” é o mesmo ouvido na fala interiorana de Taubaté e Caçapava. Nos botecos do pacato centrinho da cidade, o jogo do Sport e Corinthians virou atração. No Hotel Centenário (!!), o jornal da vez é a Folha.

Nem moderna, nem roça. Na terra do pé-de-moleque, prédios altos e vistosos dividem a rua com o hotel, onde o cavalo da carroça estaciona ao lado do Fiat Palio. Aliás, o Código Brasileiro de Trânsito não parece válido naquelas bandas. A bicicleta é mesmo a melhor opção e serve de transporte para muito velhinho Jeca Tatu.

Com quatro grandes universidades, entre elas a Universidade Federal de Itajubá, a cidade é um atrativo para estudantes de outras regiões. As repúblicas em casarões ficam a cinco minutos de muito mato e montanha verde. Ouvi dizer que dá para matar aula na cachoeira.

Difícil foi chegar ontem em BH, na hora do rush, e encarar um trânsito digno de São Paulo em pleno clima frenético de gente querendo namorar.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Queijo delivery

Há um mês, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional registrou a sabedoria do modo de produção tradicional do queijo mineiro como patrimônio brasileiro. Mas esse poderoso marketing não foi usado na propaganda do “carro do queijo”, que visita mensalmente a região onde moro. Os “dizeres” da estridente gravação são os mesmos desde que me mudei para cá. Ao som do forró eletrônico, claro.

Alô, você, venha aproveitar a promoção do queijo e da goiabada aqui no carro do queijo, que está passando na sua rua

Refrão (BIS)

Um queijo, só 5 reais
Dois queijos, só paga 8 reais
Três queijos, apenas 12 reais, e você ainda ganha uma deliciosa goiabada
Venha até aqui, eu estou te esperando no carro do queijo

E mais! Atenção Tele Sena
Duas tele senas valem um queijo
E aqui no carro do queijo você pode pagar com ticket alimentação

É o carro do queijo, que está passando na sua rua
Venha para cá, eu estou te esperando

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Um planeta chamado Minas

Juiz de Fora foi a primeira parada de uma fase “pé na estrada” no trabalho, que deve me levar para os quatro cantos de Minas. Não tenho como fugir de registrar, aqui, algumas primeiras impressões de canto de olho sobre esses lugares de sotaques tão diferentes.

O apelido de “cariocas do brejo” para quem nasce em Juiz de Fora é mesmo pejorativo, mas a semelhança entre esta cidade e o Rio é assombrosa. Nas ruas, o táxi é amarelo e o semáforo fica do outro lado do cruzamento. Nas bancas, encontra-se noticias quentes da criminalidade carioca nos jornais O Globo, Extra e O Dia. Os morros e montanhas trazem uma nítida sensação de que o mar está “log´ali”. Para completar, o centro da cidade – por onde circulam torcedores do flamengo, claro - é agitado dia e noite.

A grande Juiz de Fora impressiona pelo desenvolvimento urbano e comercial. Não é à toa que exerce tanta influência nos caminhos políticos de MG – Itamar Franco é uma das figurinhas que se projetaram ali. É também de JF a pioneira lei que pune com multa o preconceito aos gays. Pena que a atual projeção da cidade seja tão negativa: o prefeito Alberto Bejani foi denunciado em abril numa operação da Policia Federal que apura desvios fenomenais de uma verba enviada pelo governo federal aos municípios.

Mas se o desfecho do caso for tão vergonhoso a ponto de motivar algum cidadão a mudar de cidade, aposto que a “capital” escolhida vai ser o Rio. Eles já estão em casa.

domingo, 1 de junho de 2008

Estrelando: Belo Horizonte

Como correspondente das terras mineiras, preciso divulgar aqui o filme Cinco frações de uma quase história. Antes de ir ao cinema, li uma critica destacando que se tratava de uma rara oportunidade de ver Belo Horizonte na telona. E mais que isso: nas cinco histórias [aparentemente] independentes que compõe o filme, a cidade não é mero cenário, mas protagonista.

Seja na praça Sete, com o vai e vem de milhares de pessoas no horário comercial, seja na aparente calmaria da praça da Estação e suas fontes de água, a solidão comum aos habitantes da metrópole está muito bem retratada no filme. Na visão dos diretores, Beagá não tem nada de bucólica. É realisticamente retratada como caótica, multifacetada, agressiva, arriscada.

Alias, a palavra “risco” foi destacada jornalista Israel do Vale num belo comentário sobre o filme, republicado no blog Futuro da Música. Faz sentido vivenciar o incômodo provocado por todas as histórias (com exceção da aventura com a noiva abandonada, que, de tão insólita, é o "momento relax" do filme). E talvez um dos grandes diferenciais desta produção tenha sido arriscar na linguagem para desnudar as angústias bastante contemporâneas de quem vive, hoje, numa grande cidade. Que – ufa - não precisa ser São Paulo ou Rio de Janeiro.