quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Grafite: Marginal?













(Imagem de Galo de Souza, de Recife)


Belo Horizonte terá sua primeira Bienal Internacional de Graffiti (assim mesmo, com essa grafia). A notícia é pra lá de bem vinda. Pena que eu tenha me tornado um pouco cética quanto a eventos deste porte. Mesmo no caso da glamourosa Bienal de Arte de SP, sei que muitos interesses da curadoria nem sempre se limitam a parâmetros artísticos. A Bienal do Livro é outro exemplo.

De qualquer forma, não deixa de ser interessante imaginar que os responsáveis por esta arte - marginal por excelência - agora estejam articulados numa Bienal. Entre os artistas brasileiros, haverá destaque para a produção local de Minas. Também participam grafiteiros da Inglaterra, Holanda, Japão, Alemanha, Chile, Porto Rico e EUA. De 30 de agosto a 7 de setembro, a Bienal ocupa a Serraria Souza Pinto com shows, exposições e seminários. [Aliás, um deles parece especialmente interessante: “Vandalismo, arte marginal ou nova estética?”, no dia 5, às 16h.]

Apesar de todo o agito prometido, confesso que meus interesses estão mais voltados para uma mostra paralela e independente de arte de rua chamada Kréu Krio. Sem patrocínio de mega empresa ou apoio de leis de incentivo, coletivos mostram trabalhos de grafite, lambe-lambes, instalações e sticker (vulgo “adesivo”) no Mercado Novo, de 30 de agosto a 5 de setembro. O Pixelando traz mais informações.

[PS do post - Meu olhar sobre o grafite começou a mudar no sábado passado, quando fui parar de penetra na inauguração de uma exposição coletiva da Mini-Galeria com David Flores (Los Angeles), Tristan Eaton (Nova Iorque), CALMA (Brasil), 123Klan (França) e Kid Acne (Inglaterra). O espaço interno é um charme: de tão pequeno, passa como porão artístico dos sete anões. Ainda bem que este tipo de arte pode ocupar paredes e muros do quintal... Visita recomendadíssima!]

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Política Leite com Leite

Num ato heróico de civismo, consegui transferir meu titulo de eleitor para BH no último dia. Por esta ação, alias, já fui taxada de patologicamente politizada. Agora, o jeito é me situar no meio de tantos rostos inéditos no horário eleitoral que acaba de começar. Uma atração e tanto para esta paulistana que, pela primeira vez, não precisa encarar o rosto do Maluf numa campanha para prefeito.

É claro que ando me divertindo. A avalanche de vereadores na TV raramente diz alguma coisa séria. E cada candidato tem seu método de guerrilha para mandar algum recado. Alguns se definem logo no nome: Hamilton Cabeleireiro, Cabo Adriana, Renato da locadora, Pelé do Vôlei, Eduardo da Ambulância, Ângela do Girassol, Paulão Butum da Creche.

“Eu tenho um projeto para você. Ligue 9123-4567 e saiba o que não pude falar agora”, afirma um deles, do PMDB. Já o candidato Amigão, do PSB, arrumou um bordão estilo mala sem alça: “Confie no amigão, sou amigo de todos”. Outros partidos preferem fixar uma única mensagem ao longo dos escassos segundos aos quais têm direito. São mantras como “O PSC acredita em Deus e coloca o ser humano em primeiro lugar”, repetido por 10 pessoas diferentes; e “Se você quer vereadores e vereadoras comprometidos com o nosso país, vote 50”, narrado cinco vezes na voz de Heloisa Helena, do PSOL.

No programa dos candidatos a prefeito, é curioso ver como quase ninguém se arrisca a criticar uma das gestões municipais mais bem avaliadas no país. Mas a surpresa foi ver como a aliança entre PT e PSDB está escancarada em torno de Marcio Lacerda (PSB). Fernando Pimentel e Aécio Neves são só elogios para o empresário que entrou na vida política como ministro do governo Lula e hoje atua como secretário de governo de Aécio. Jô Moraes, do PCdoB, que aparece como líder nas pesquisas de intenção de voto, fica no meio termo entre criticar a atual prefeitura e propor mudanças.

Tenho milhões de outras observações a fazer, mas guardo o fôlego para a longa jornada que teremos pela frente até o 1. turno...

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Diamante do Jequitinhonha

O gato pardo passeia docilmente no telhado dos casarões
Três séculos de história abaixo de quatro patas
O IPHAN não encontrou formas de calçar meias macias nos bichanos de Diamantina
*
A namoradeira de barro nas janelas já foi clonada
São centenas delas nas lojinhas de artesanato
Noivinhas e daminhas. Batom vermelho e buquê de sempre-vivas
Querem mesmo é casamento com turista
Vai pagar quanto?
*
Por essa, a danada da Chica da Silva não esperava
Nos anos dois mil, ainda provoca inveja com seu casarão na rua do Carmo
Das janelas com entreliças, a vista mais linda do sol refletido na serra
O chão de madeiras largas, os quartos espaçosos e iluminados
Ao fantasma da ex-escrava, só devem causar desgosto os vários quadros de Juscelino na parede
*
Ser bixo em Diamantina é osso duro de roer
É andar pintado de verde, com placa pendurada no pescoço, correndo feito doido nas ladeiras de pedra
[O DCE Pé Rachado denunciou que os veteranos jogaram creolina nos calouros deste semestre]
A senhora mineira da cidade, a caminho da velha igreja, custa a entender o ritual macabro
*
O Hotel do Niemeyer é um monolito na paisagem
Cadê a consciência histórica do arquiteto?
Os hóspedes da caixa de concreto agora convivem com o luxo fora de época
Penteadeira redonda, abajour francês, tapete vermelho na escadaria
Alguns elegem o espaço para uma barulhenta festa de casamento
Para tudo, há mesmo um gosto

sábado, 2 de agosto de 2008

No Triângulo

Sem Internet em casa e sem tempo, acabei abandonando meus registros tutuísticos. Mas de forma alguma deixo de colecionar histórias a serem contadas por aqui. Desde quinta-feira vivo uma aventura pelo Triângulo Mineiro, com direito a cenas de (quase) pânico no meio de um canavial, perdida com a equipe de TV. à noite, no chão de terra batida sem sinalização, com tanque de gasolina na reserva, encontramos o caminho da pequena Pirajuba por milagre.

A notícia do risco que passamos correu solta na cidade de 3 mil habitantes. Era parar num bar e ouvir um consolo. Aliás, um desses consolos caiu melhor: é muito comum errar o caminho ou querer cortar caminho pelo canavial. Como a usina de cana fica ativa durante a madrugada, por sorte conseguimos informações mais ou menos seguras com funcionários não alcoolizados.

Eis que agora falo de um hotel na plana Uberlândia - a ponta mais rica do Triângulo, composto ainda por Araxá e Uberaba. As impressões, apesar de muito cruas, não são exatamente positivas. O jeito é dar mais uma voltinha por ai.