quarta-feira, 28 de maio de 2008

Palácio Rooselvet

Da praça Roosevelt, em São Paulo, para o Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Os cenários são antagônicos em diversos aspectos. A praça, no topo da lista de monumentos que devem ser derrubados na opinião de “urbanistas” chapa branca, mantém o ar marginal apesar do recente assédio por parte de artistas e público descolado. O agito foi provocado pela presença de grupos de teatro alternativos que ali se instalaram, com destaque para Os Satyros e Os Parlapatões.

Já o Palácio das Artes, fundado em 1971, é o espaço mais nobre de BH para apresentações de óperas e orquestras. Com capacidade para toda a high society mineira, fica fácil imaginar o clima formal do espaço do Grande Teatro.

A fusão desses mundos aconteceu há duas semanas, quando Os Satyros apresentaram a contemporânea versão de Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, para uma platéia lotada no Palácio das Artes. A atriz Norma Bengell – convidada especial como Madame Clecy, papel que já interpretou em 1976 – parece ter percebido a dimensão quase histórica da curta temporada em BH. Por um problema de saúde, foi proibida de viajar. Mas, como não podia ser diferente, transgrediu a ordem médica. Na hora dos aplausos, chorou de emoção.

Apesar dos vídeos, da música de Bjork e da seqüência frenética de cenas desta superprodução bancada pelo Itaú Cultural, a história foi respeitada. O frio na espinha também é o mesmo que senti com a montagem do Grupo Tapa, dos idos dos anos 90, no teatro da Aliança Francesa. À época, eu e minha prima, pré-adolescentes, tivemos pesadelos diários com vestidos de noiva e custamos a perdoar nossas mães bicho-grilo pela inconseqüência de nos “obrigar” a assistir a peça. Pura bobagem. Agora sei que, independentemente da idade, ninguém escapa do choque provocado por Nelson Rodrigues. Aliás, não deve escapar.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Onde estão os gays?







Na Folha de hoje, a foto da avenida Paulista lotada com os simpatizantes da causa GLBT me fez pensar na falta de gays nas ruas de Belo Horizonte. Claro que a Parada em Sampa é também um dia de “A Banda” no coração da cidade – o preconceito volta a tomar seu lugar na segundona gorda. No entanto, qualquer paulistano que passa pelo centro da cidade – a pé ou de ônibus e Metrô - convive diariamente com casais gays de mãos dadas, que vez ou outra trocam beijos apaixonados.

Paulista, Frei Caneca, Augusta, Espaço Unibanco. Em bares, cinema, shoppings ou danceterias, os gays freqüentam a mesma tribo dos modernos e descolados. Já em BH, eles estão camuflados. Casais de meninas? Nem pensar. Minha conclusão, assumidamente precipitada, é que mesmo os “modernos” da sociedade mineira não costumam incluir os homossexuais no seu circulo de amigos.

A homofobia que dificulta a militância gay na cidade é culpa da tradicional família mineira, disse Danilo Oliveira, do Clube Rainbow de Serviços, para o jornal O Tempo, em 2001, nesta entrevista. Para quem olha de fora, a afirmação faz sentido. O jeito vai ser engrossar o caldo da próxima Marcha do Orgulho Gay de Belo Horizonte.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Tim, tim!

A notícia ficou velha, mas não poderia passar em branco. O grupo de coco Ouricuri, dos amigos de Beagá, recebeu duas belas indicações para o prêmio Tim deste ano! Vale mostrar quem são os concorrentes:

CATEGORIA REGIONAL - MELHOR DISCO
- Qual o assunto que mais lhe interessa... (Elba Ramalho)
- Os Cocos (Grupo de Coco Ouricuri)
- Toda vez que dou um passo o Mundo Sai do Lugar por Siba (Siba e a Fuloresta)

CATEGORIA REGIONAL - MELHOR GRUPO
- Grupo de Coco Ouricuri
- Meninas de Sinhá
- Trio Virgulino

A premiação será dia 28 de maio, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Foi interessante acompanhar como a divulgação dos finalistas serviu de mote para um olhar mais atento da imprensa mineira. O frisson fez com que a Globo convidasse o grupo para um programa inteiro dedicado a eles. O primeiro bloco está no site do Globo Horizonte, neste link. [Momento tiete: o Eduardo participa da primeira música tocando violão!]

Aqui, o primeiro registro deste Tutu sobre o Coco. E ainda vale entrar no Myspace para ouvir com clareza o som dos tamancos.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Bienal do Livro nº Zero

Acesso difícil, longo trecho de caminhada a pé, sol na cabeça, nenhum sinal de verde. Trocando a areia pelo concreto, temos o cenário típico dos mega galpões construídos para sediar as “exposições” que movimentam muita grana nas capitais brasileiras. Livros - definitivamente - não combinam com tamanha aridez. Mas, enfim, o Expominas foi escolhido para abrigar a primeira Bienal do Livro de Minas.

Mesmo sem camelo, encarei o mar de concreto até o oásis (e labirinto) de livros. Gostei de testemunhar a edição de estréia da Bienal, que deixou de ser uma feira realizada na Serraria Souza Pinto para ganhar um “status” mais oficial no calendário da cidade. Estive por lá no segundo dia do evento e a coisa ainda estava devagar. Pouco público, poucos títulos, poucos descontos.

Consegui acompanhar um bate-papo com o titulo A cyberlinguagem se tornará uma língua falada?. Com todo respeito aos convidados – Pasquale Cipro Neto, Kiko Ferreira e Juliana Samapaio, as opiniões eram muito parecidas entre eles. Todos se mostraram descrentes com o potencial anárquico da rede. Ouvi saudosismos como “antigamente um editor avaliava o seu texto e só era publicado algo de qualidade. Hoje qualquer adolescente pode jogar uma mentira na rede.” Oras, mas não é o máximo pensar que este mesmo adolescente agora pode soltar a voz no mundo? Falar com os amigos, criar a própria linguagem, brincar/ mentir à vontade?

Outras impressões da recém nascida Bienal de Minas:

- Se você procura por livros em baciada, com preço de banana, é bom gostar de auto-ajuda ou leitura religiosa. São os carro-chefe dos stands, com grandes posters de Jesus e vídeos (em alto e bom som) sobre o Salmo da Montanha.

- Pela quantidade de propaganda e mulheres bonitas vestidas com roupas de astronauta, o patrocínio empresarial parece sustentar a Bienal. Todas as “arenas” de debate são também um outdoor gigante. Discuta cyberlinguagem, matricule-se na Universidade Fumec.

- Os vendedores de assinaturas de revistas são uma nova modalidade de ciganas urbanas. Insistem chamando quem passa com um “psiiiiiu, psiiiiiu” agressivo, derivando para um tom desesperador com “moça, moça, vem cá, vem cá!”. Mesmo quem ouve a proposta de grego e leva um constrangedor chaveiro da revista Veja de brinde não escapa do assédio na próxima volta pelo stand. Um saco.

Ontem soube que os maiores descontos nos livros de editoras comerciais está no stand da Submarino. Você entra, acessa o computador, identifica a imagem minúscula da capa e clica com o mouse. O frete sai de graça. Mas cá entre nós: não é bizarro desprender tanta energia para chegar ao Expominas e comprar um livro sem folheá-lo, checar a edição, o tamanho da letra, a cor da página? Pelo visto, a economia acaba servindo de prêmio de consolação. Perdi a boiada!

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Ensaio sobre o medo

Quase nove meses de BH e algumas coisas custam a passar despercebidas. Entre meus estranhamentos mais constantes, estão as cercas elétricas, os alarmes ativados com códigos e as placas com caveira que dizem bom dia para a visita que chega à porta. Todos os dias, o alarme me dá a tolerância de três minutos do portão da rua até o portão interno do prédio. É pior que gincana de TV. Demorou, dançou.

Não é preciso morar em bairro de classe alta para constatar a paranóia que toma conta da cidade e faz a festa das empresas de segurança. As fotos - todas do meu bairro - podem provar a loucura das prisões voluntárias que marcam nossos anos 2000.











































terça-feira, 6 de maio de 2008

Rápidas

Trabalho no feriado e uma visita especial no fim de semana renderam algumas reflexões:

- Torcer por um time é tão obrigatório quanto ter carteira de identidade, especialmente em época de decisão de campeonato. Dias atrás, eu explicava que era de São Paulo e não torcia para ninguém, mas meus interlocutores não mostravam disposição para a resposta. Resolvi adotar a persona atleticana e os ruídos na comunicação diminuíram. O taxista, arrasado com a derrota no domingo, ficou feliz em transportar uma camarada de time e deu um desconto de dez centavos na corrida. Despediu-se de mim com um sonoro “amanhã é outro dia!”.

- A excursão feita para Ouro Preto com a CVC em 1996 (vixi, será que é isso mesmo?) não valeu quase nada em termos de desenvolvimento intelectual. À época, tive a famosa overdose de Aleijadinho e visitei todas as igrejas possíveis. De concreto, no entanto, restou apenas um relógio de sol feito em pedra sabão. No bate e volta que fizemos neste sábado, visitamos somente a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar, construída em 1733. Mas a amostra foi suficiente para superar todo o meu conhecimento prévio de barroco e rococó made in Brazil. Pedi uma referência de um guia bacana e valeu a pena. O carismático Taquinho não tinha simplesmente “decorado” nenhuma ladainha. Pelo contrário: falava com paixão dos detalhes das capelas, dos anjos, das pinturas. Tirou dúvidas cabeludas no âmbito arquitetônico, histórico e químico - explicando o processo de colagem da folha de ouro na madeira. Finalmente, posso dizer que não é justo desqualificar o trabalho desses guias.