Acesso difícil, longo trecho de caminhada a pé, sol na cabeça, nenhum sinal de verde. Trocando a areia pelo concreto, temos o cenário típico dos mega galpões construídos para sediar as “exposições” que movimentam muita grana nas capitais brasileiras. Livros - definitivamente - não combinam com tamanha aridez. Mas, enfim, o Expominas foi escolhido para abrigar a primeira
Bienal do Livro de Minas.
Mesmo sem camelo, encarei o mar de concreto até o oásis (e labirinto) de livros. Gostei de testemunhar a edição de estréia da Bienal, que deixou de ser uma feira realizada na Serraria Souza Pinto para ganhar um “status” mais oficial no calendário da cidade. Estive por lá no segundo dia do evento e a coisa ainda estava devagar. Pouco público, poucos títulos, poucos descontos.
Consegui acompanhar um bate-papo com o titulo A cyberlinguagem se tornará uma língua falada?. Com todo respeito aos convidados – Pasquale Cipro Neto, Kiko Ferreira e Juliana Samapaio, as opiniões eram muito parecidas entre eles. Todos se mostraram descrentes com o potencial anárquico da rede. Ouvi saudosismos como “antigamente um editor avaliava o seu texto e só era publicado algo de qualidade. Hoje qualquer adolescente pode jogar uma mentira na rede.” Oras, mas não é o máximo pensar que este mesmo adolescente agora pode soltar a voz no mundo? Falar com os amigos, criar a própria linguagem, brincar/ mentir à vontade?
Outras impressões da recém nascida Bienal de Minas:
- Se você procura por livros em baciada, com preço de banana, é bom gostar de auto-ajuda ou leitura religiosa. São os carro-chefe dos stands, com grandes posters de Jesus e vídeos (em alto e bom som) sobre o Salmo da Montanha.
- Pela quantidade de propaganda e mulheres bonitas vestidas com roupas de astronauta, o patrocínio empresarial parece sustentar a Bienal. Todas as “arenas” de debate são também um outdoor gigante. Discuta cyberlinguagem, matricule-se na Universidade Fumec.
- Os vendedores de assinaturas de revistas são uma nova modalidade de ciganas urbanas. Insistem chamando quem passa com um “psiiiiiu, psiiiiiu” agressivo, derivando para um tom desesperador com “moça, moça, vem cá, vem cá!”. Mesmo quem ouve a proposta de grego e leva um constrangedor chaveiro da revista Veja de brinde não escapa do assédio na próxima volta pelo stand. Um saco.
Ontem soube que os maiores descontos nos livros de editoras comerciais está no stand da Submarino. Você entra, acessa o computador, identifica a imagem minúscula da capa e clica com o mouse. O frete sai de graça. Mas cá entre nós: não é bizarro desprender tanta energia para chegar ao Expominas e comprar um livro sem folheá-lo, checar a edição, o tamanho da letra, a cor da página? Pelo visto, a economia acaba servindo de prêmio de consolação. Perdi a boiada!