terça-feira, 20 de julho de 2010

Criança na cidade



Foram sete dias com um pequeno de cinco anos como visita de honra em BH. Garoto esperto, chegou em casa falando de São Paulo como “lá no Brasil...”... Pudera: a primeira pessoa com quem o Cauã teve contato em Minas foi Dona Virgínia, a faxineira de casa: nascida no interior do estado, na região de Teófilo Otoni, ela tem a fala de quem mal frequentou a escola. Para dificultar ainda mais a compreensão do pequeno paulistano, a senhora tem problemas auditivos e conversa em um tom de voz bem mais alto do que a média da população.

Meu sobrinho acompanhou bem os pais jovens em bares, cervejas e torresmos pela cidade, mas também imprimiu um ritmo bem especial às programações diurnas. A rápida caminhada da praça da Liberdade à Savassi, por exemplo, virou uma maratona de caça às pedras no chão – colecionadas como verdadeiras relíquias mineirais. O aviãozinho de papel foi lançado ao ar mais de 50 vezes, obrigando paradas constantes para novas aterrizagens na rua suja.

No mais, percebi o quanto a presença de uma criança pode alterar nossa visão do cotidiano. Os pequenos servem como desculpa para programas que raramente faríamos sem elas. Meu irmão curtiu cada minuto do domingão no parque Municipal, entre brinquedos, burrinhos e patos. Na agenda, ainda entraram os bonecos incríveis do Museu Giramundo e os quatis ensandecidos do parque das Mangabeiras. Nada mal – sol gostoso, vistas espetaculares, alguma pipoca, muita risada.

Na próxima visita, talvez seja hora de escrever o guia BH para Crianças em parceria com Cauã... [Já sinto falta das fatias de doce de mocotó encontradas no tapete...]

domingo, 4 de julho de 2010

Grão Mogol



Nem Kubai Klan ou Ítalo Calvino chegaram a inventar esta cidade. Mas poderiam. Mesmo sem nome de mulher, Grão Mogol, no norte de Minas, chama a atenção do viajante por suas igrejas feitas de pedra e rio cor chá-mate. As pequenas casas coloridas da rua central, feitas de adobe, guardam histórias e cheiros de séculos atrás, quando a vila entrou no alvo da coroa portuguesa pela descoberta de diamantes na região. Espremidas, as casinhas ainda servem como vendinha para biscoitos e cacarecos ou para uma barbearia em plena atividade. Em clima de festa junina, se agitam bandeirinhas coloridas no céu.

*

Os anos 2010 parecem longe de alcançar a cidadezinha de 15 mil habitantes fincada entre o mar de eucaliptos na paisagem do Jequitinhonha. Mas a verdade é que me senti muito bem recebida por ali, numa parada estratégica rumo a Minas Novas e Turmalina. Uma atmosfera acolhedora que talvez se explique por uma bonita mística familiar.

*

Nos idos de 1920, meu avô João menino frequentou poucos anos de escola rural em Passos, no sudoeste de Minas. Garoto inteligente, descobriu imenso prazer no privilégio oferecido pela professora aos alunos que terminassem a lição mais cedo: poderia ir ao quadro negro estudar o mapa do estado. Encantado, ele corria com a tarefa e se entregava às viagens imaginárias que o faziam conhecer o mundo... (Minas não é o mundo, oras?..). E entre as centenas de cidades do mapa, uma delas chamava mais a atenção: Grão Mogol. Nome diferente, lugar bem distante, quase mágico. Desde então, cismou: queria fechar os olhos e aparecer por lá.

*



Oitenta anos depois, com a mesma lucidez de sempre e a excelente orientação espacial, meu avô ainda contava a história de Grão Mogol. Mas não chegou a visitá-la. A missão foi cumprida por mim, meio sem querer, três anos depois da sua morte. Não é a toa que nas ruas da cidade perdida e sonhada, os caminhos me parecessem marcados por diamantes...