sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Mato Dentro, a missão

Ano novo de 2007 estivemos eu e Du em Conceição do Mato Dentro, coração da Serra do Espinhaço. A época de chuvas não é indicada para conhecer todas as cachoeiras, mas pegamos a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, entre o dia 31 e 1º - linda demais. Nesta virada, não seremos muito criativos – rumamos para Itambé do Mato Dentro, na Serra do Espinhaço. É mato que não acaba mais... Vamos passar pelo povoado Cabeça de Boi – quer nome mais “roseano” que esse?

Feliz ano novo!!

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Não é brincadeira

Adesivo colado na janela de carro que ontem saía da Prudente de Morais em direção à ladeira do Colégio Pitágoras (sim, o "império educional" do ex-ministro Walfrido dos Mares Guia):

O POVO QUER
O BRASIL PRECISA
AÉCIO PRESIDENTE

Susto!

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Minas sem montanha

Com 23 mil habitantes, Ibiá revela muito mais sobre o interior de minas (e do Brasil) do que as famosas cidades do circuito do ouro mineiro. Fica a 320 quilômetros de BH, próxima a Araxá – já integrante do Triângulo Mineiro. Engraçado, mas é fato: Minas é tão grande, que cidades ricas como Uberaba, Uberlândia e Araguari se relacionam economicamente é com São Paulo.

Estive em Ibiá neste Natal por pouquíssimo tempo. Nem o Quilombo do Ambrósio, marco do povoamento local, consegui visitar. Minha câmera fotográfica imaginária captou uma decoração de natal com luzes, estrelas e renas nas duas principais praças da cidade – entre elas a da Igreja da Matriz, que foi pintada recentemente, mas já está com o gesso interno do teto despencando.

Nas ruas, crianças estreavam felizes a bicicleta, os patins e a boneca ganhos na noite anterior. Os poucos bares de parede azulejada abertos na manhã do dia 25 eram pouco convidativos – só homens, já na cerveja, jogando sinuca e papo furado. Música mesmo só se ouvia dos carros dos playboys que rodeavam a mesma praça tocando funk carioca no último volume.

Também chama a atenção a limpeza da cidade. As duas únicas pixações nos muros diziam “Diretas para Presidente!”, causando dúvidas sobre a atualidade do protesto, e “Xerox", no muro da papelaria que provavelmente oferece o serviço de cópia. Além dos anúncios da prefeitura, um único outdoor comercial causava estranhamento na paisagem. Ao menos souberam “capitalizar” aquela placa gigante com dois modelos sorridentes vestindo blusas Hering – um cartaz em folha sulfite, no cantinho direito, lembrava o nome e o telefone da loja onde se encontra a malha.

Agora, caso precisasse apontar um único atrativo turístico da região.... é o QUEIJO! Maravilhoso. Melhor ainda acompanhado de um levíssimo doce de leite... (Dizem que já estou meio mineira, mesmo....)

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Churrasco de boi com arte

Arte é bruxaria. Ao menos a arte contemporânea. Ou ao menos a arte produzida por uma turma especial de artistas plásticos de São Paulo. Esse foi meu estalo ao passar, no dia 9 de dezembro, pelo ateliê da Vila Madalena que recebeu o Projeto MIL971.

Cerca de 30 artistas invadiram o espaço entre 7 e 16 de dezembro com exposições e muitas performances surreais. Três deles, nascidos em 1971 – Túlio Tavares, Marcos Vilas Boas e Eduardo Verderame – convidaram os amigos para articular uma intensa “semana de experiências”. Ao meu ver, a pretensão do projeto esteve na liberdade total que os artistas convidados tiveram para expor seus trabalhos.

Naquele final de domingo, presenciei um churrasco com três corações de boi no quintal do ateliê. Enquanto a carne assava, DJs faziam um som muito louco acompanhado pela voz ao vivo – e quase eletrônica, gutural - de uma garota. Um vídeo no telão mostrava alguém fazendo milhares de cigarros de maconha, numa edição frenética da imagem. Ao mesmo tempo, acontecia uma performance de dança em volta do churrasco, com direito a pandeiro, gente enrolada em folhas de plástico e escalada na parede...

Catarse total. Da parte mais “careta” do Projeto, seguem alguns trabalhos. Eles podem ser vistos em tamanho maior clicando com o mouse na imagem.

Mariana Cavalcante e sua versão de “Feliz Natal”










Túlio Tavares e fotografias em grande dimensão produzidas com recursos digitais



















Antônio Brasiliano e fotos de performances durante ameaça de reintegração de posse na ocupação Prestes Maia










Mais sobre a proposta do MIL971 e portfólio dos artistas no blog http://mil971.wordpress.com.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Sinal de fumaça

A autora deste blog não comemorou os 110 anos de Belo Horizonte ao vivo. Por duas semanas, abandonou o tutu mineiro no cardápio. Anda consumindo pizza de calabresa e marguerita, dividindo a calçada das ruas com admiradores de Papai Noel no Bank Boston e atravessando a Rebouças congestionada dentro de algum ônibus lotado da SPTrans. Já contraiu um resfriado, mas procura não se deixar contaminar pelo estresse frenético do vírus natalino – tão presente na cidade cinza.

Enquanto isso, já participou de um evento sobre Jornalismo Cultural no Itaú Cultural, com relato registrado no site Cultura e Mercado.

....

Para afastar as moscas por aqui, aproveito essa rápida passagem para postar um trecho de trabalho estampado na edição de novembro do Suplemento Literário, uma publicação mensal da Secretaria de Estado de Cultura de MG. O autor e artista plástico Marcos Benjamin verbaliza algumas percepções minhas sobre o mundão que existe além deste núcleo paulistano.


A USP não é o meu país
A Folha de S.Paulo não é o meu país
Nenhuma universidade é o meu país
Nenhuma curadoria
Nenhum Novaiorque
Define o perfil do meu país
O meu quintal é o meu país

--

A universidade bebe leite
do caminhão
Eu vou direto na vaca.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Furo no Zé Simão

Atenção atenção! Direto do país da piada pronta! Mais um exemplo irado de tucanês!! É que o Eduardo, dirigindo em BH, deu de cara com a propaganda da loja MULTIFORM- Moda Corporativa. Tucanaram o uniforme!! E quem disse que a copeira e o pedreiro não podem estar na moda em pleno serviço? Tá certíssimo!!!

Hoje só amanhã. Que eu vou comer pão de queijo com leite de soda!!

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Campus é campus

Pense numa ECA (Escola de Comunicações e Artes) misturada com a FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) e com o Instituto de Psicologia, da Universidade de São Paulo. Aqui na Universidade Federal de Minas Gerais, todas essas escolas estão reunidas num só lugar, a popular Fafich, ou Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Dá para imaginar a loucura?

Mesmo sem conhecer o dia a dia do campus, já me senti em casa. O oásis de verde e ar puro na cidade esconde cenas muito familiares para quem freqüentou a velha USP por cinco anos. Há ali o Movimento dos Sem Carro pedindo carona, o banheiro estilo Bagdá sem tranca e sabonete, a cantina com atendentes mal pagos e de mau-humor, a biblioteca anos 70 com quadros de reitores na parede e alguém batendo a cabeça de sono na mesa de estudos.

O “DataCartaz” me informou que a Fafich está em fase de campanha para as eleições do Diretório Acadêmico, ali chamado de “DA”. Foi divertido ver como os companheiros da classe internacional dos estudantes de universidades públicas vive dramas parecidos. Seguem algumas reivindicações. Os destaques são meus.

CHAPA 3 – “MUDANÇA DE ATITUDE”: Contra a apatia e a omissão

Frases do jornalzinho: A última gestão foi marcada por várias sabotagens internas aos que queriam realmente fazer um DA diferente. Duas consepções foram colocadas em jogo (...) (Assim mesmo, com erro de ortografia. Alguém da oposição grifou em amarelo todas as “consepções” do texto.)

Propostas: Contra o amento de preço do bandeijão. Pelo meio passe. Defesa do milharal. (?) Luta na justiça contra taxas. I Olimpíada da Fafich.

CHAPA 2 – “BARRAGEM”

Frases estampadas em duas folhas sulfite amarela: Pela revitalização da sinuca!!! Por Calouradas de arromba! Vote: chapa 2

CHAPA 1 – “MuD.A.”

Propostas em letras minúsculas no cartaz amassado: Preservar o milharal. Regulamentação do buteco da Fafich.

Ao que parece, a coisa anda disputada. Como correspondente em MG, tentarei cobrir os desdobramentos da eleição. Ou ao menos descobrir que milharal tão importante é esse.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Não tem japonês trás de mim

Minas não foi a terra eleita pelos orientais que aportaram no Brasil. Não há bairros ou comunidades de japoneses ou chineses. A cena de uma turma de Exatas no cursinho Etapa, na Vergueiro, é inimaginável por aqui. Uma visita ao bairro da Liberdade deve ser, por esses motivos, imperdível aos mineiros turistas em Sampa.

Entre os poucos orientais que dizem “uai”, está a família responsável pelo disputado restaurante San Ro, no bairro Funcionários. Os sites de Guia de BH dizem que a casa é “especializada em culinária taiwanesa”, mas aposto que os donos não se incomodam em ampliar o menu com itens como creme de abóbora com milho, arroz integral, salada, frango xadrez, sushi...

O fato é que a visão do dragão feito com cenoura crua somada ao paladar a la shoyo, ao cheiro de chá de jasmim e à música instrumental satisfazem plenamente os sentidos de uma paulista ávida por olhinhos puxados.

sábado, 24 de novembro de 2007

Outros quilombos

São 17h de mais uma sexta-feira. A rua Iraí fica tomada por filas de meninos e meninas – dos pitocos aos adolescentes. São quase todos negros. Ou quase pretos, de tão pobres. A aula acaba e o formigueiro de camiseta azul explode em trilhas para os quatro cantos da cidade. Ocupam as calçadas e um pedaço do asfalto numa euforia cheia de hormônios, risada, brincadeira. Atropelam quem passa.

Nesse dia, um moleque andou 10 metros puxando o rabo de cavalo da menina, enquanto, do outro lado da rua, passava uma turma de manos: boné, camiseta larga, tênis sem marca. Muitos usavam chinelo de dedo. Metade das meninas tinha mochila cor-de-rosa nas costas. Um ti-ti-ti sem fim.

Em frente à igreja, um grupinho de amigas sincroniza o pai-nosso. Os muito pequenos são carregados pelas mãos de mulheres que, de tão jovens, poderiam ser alunas da mesma escola. O Haiti é aqui.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Semana da Consciência Negra em grande estilo

O ponto de encontro entre Brasil e África também é em Minas. De 19 a 25 de novembro, o Festival de Arte Negra irá ocupar os principais espaços culturais da cidade com cortejo, shows musicais, exposições, espetáculos de teatro e dança. Fiquei interessada pela mostra de cinema Nigeriano, que começou ontem com um debate sobre a poderosa indústria cinematográfica daquele país, já conhecida como “Nollywood”.

Para sintonizar-se com a África, no entanto, é preciso ficar de ponta cabeça. Livrar-se de esteriótipos e assumir nossa ignorância quanto à cultura desses povos. Essa urgência ficou latente ontem, durante o show da banda Tartit, da região de Timbuktu, Mali. O grupo de músicos composto por cinco mulheres e quatro homens causou grande estranhamento, tocando com tambores típicos, instrumentos de corda rústicos e... uma guitarra. Um dos rapazes arrasou, correndo e levando os braços pelo palco, em busca de impulso para voar. Uma experiência saariana, que pode ser disseminada via myspace.

domingo, 18 de novembro de 2007

Dica musical















Neste feriadão, a novidade por aqui é a mais recente descoberta musical do Eduardo, que anda feliz da vida baixando kilos de bites do blog Loronix: http://loronix.blogspot.com. Apesar de escrito em inglês, o objetivo é divulgar boa música brasileira dos anos 50 aos 70. Tem samba, bossa nova, jazz e MPB do arco da velha. Além da qualidade, o principal critério é trazer LPs não disponíveis comercialmente.

Todo dia tem um disco novo com foto da capa original, seguido do “release” com curiosidades, da “track list” e da relação de todos os músicos. Seguem alguns destaques feitos pelo especialista da casa:

- Chico Buarque de Hollanda & Ennio Morricone - Per un Pugno di Samba (1970) | Italy

Neste álbum, Chico canta versões em italiano para músicas como Umas e Outras e Quem Te Viu Quem Te Vê. Ennio Morricone foi um dos principais compositores de trilhas sonoras de cinema no século 20.

- Turma da Gafieira - Samba em HIFI (1957)

O autor do blog – pseudônimo zecalouro – alerta para o risco que a foto da capa representa: a mulher de biquíni minúsculo não tem nada a ver com a banda de gafieira dos anos 50 composta por músicos excepcionais como Sivuca, Baden Powell e Altamiro Carrilho.

- Antonio Carlos Jobim and Frank Sinatra - Sinatra Jobim, the Lost Tape (1969)

Segundo os colaboradores do blog, esta fita K7 contém a única gravação de Sinatra de Desafinado. Outras canções, como Água de beber, Samba de uma nota só, Por causa de você e Wave, foram lançadas em discos dispersos, mas a fitinha jamais evoluiu sequer para um LP.

Para facilitar a vida de quem gostou da dica, o blog tem um sistema de busca para encontrar um dos 1.511 discos já postados.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Depois que a banda passou...








Acabou a TEIA. Foram nove dias intensos de trabalho, festa e encantamento.

A oficina de jornalismo cultural independente articulou um grupo de quatro malucas e um maluco com muita vontade de pôr a mão na massa e revolucionar o “fazer jornalístico”. Como todos os 100 participantes estavam principalmente envolvidos com a cobertura via Internet, colaborando com a Agência TEIA 2007, concluímos que era urgente produzir algo para aqueles que não têm acesso a computador. Claro que boa parte dos sonhos não foi colocada em prática. Mas conseguimos rodar um informativo diário, feito em folha A4 dobrada, com tiragem de 500 exemplares, destacando as pessoas que aqui estavam, suas histórias e perspectivas. Deu certo! A reação de quem recebeu o informativo em mãos foi ótima. No terceiro número, já nos pediam os anteriores e sugeriam mil pautas...

Publicamos desde a fala de abertura do Gilberto Gil à oficina de penteado afro, passando pelos problemas na organização do evento e pela reivindicação dos índios do Ponto de Cultura Índios On Line, que formalizaram o pedido de um Cineclube para o Ministério da Cultura. Uma loucura.

Tive momentos como ouvinte, deixando a paranóia de “cobrir” tudo o tempo inteiro. Para compartilhar com os amigos de longe, recorro ao bloquinho de anotações e faço aqui um esforço de memória para registrar os melhores momentos...

Suassuna

“Em primeiro lugar, quero pedir desculpas. A minha voz é feia, baixa e rouca. Atualmente também tenho pigarro. Quando fui secretário de Miguel Arraes ele também pigarreava. E as pessoas pensavam que eu imitava o chefe. Não tem coisa pior.”

Delicia ouvir Ariano Suassuna falar. É um show-man. Se bem que chamá-lo assim seria uma ofensa. O homem é extremamente nacionalista e fervoroso defensor da cultura brasileira. A aula dele, que inaugurou o Seminário Internacional Saberes Vivos, devia ser sobre o barroco, mas até metade da manhã ele falou do pigarro e contou por que vestia aquela combinação de roupas – camisa vermelho-escuro com calça preta. Disse que, inspirado por Gandhi, resolveu não comprar vestuário dos “colonizadores”. Arrumou uma costureira chamada Edith. Mas raramente consegue uma combinação razoável. Por isso, costuma ser barrado em eventos sociais. “Não tenho cara de autoridade. Acho isso bom!”.

Em seguida, emendou com a história do dia em que ligaram da Academia Brasileira de Letras para pegar as medidas para a tal “roupa dos imortais”. Ariano quis que Edith fosse a costureira. Não deu certo. E se disse indignado com o sotaque do carioca que fez a ligação. “Aquilo não é sotaque brasileiro. É sotaque de aeroporto”, afirmou, brincando com o “a Infraero inforrrma... vôo 123, com destino a Brasiiiiliaaaa...”.

Na parte séria da aula, criticou Oscar Niemeyer – “pode ser um ótimo arquiteto, mas não brasileiro. Ele transformou Brasília num mausoléu.” – e enalteceu Aleijadinho e Gabriel Joaquim dos Santos, o arquiteto autodidata que construiu a Casa da Flor, em São Pedro da Aldeia, perto de Cabo Frio (RJ). Esse “cabra macho da peste”, como classificou Suassuna, criou uma casa sem muro, aproveitando lixo doméstico, principalmente cacos de vidro e louça. Até sua morte, em 1985, fez luminárias, molduras, estantes, mosaicos.

Apaixonado por futebol, Suassuna elogiou profissionais que fazem sua atividade como “Robinho joga”. Terminou elogiando Daiane dos Santos, “outra grande pequena brasileira”. “Ela deve ter sofrido um preconceito danado. Primeiro, porque é mulher. Segundo, porque é negra. Terceiro, porque é pobre. Mas ela faz ginástica como Robinho joga”.

Gil

A programação da TEIA foi intensa demais. Organizada em oficinas, mostras, debates e apresentações, dispersou o público muitas vezes, perdido nos diversos locais simultâneos em que tudo acontecia. Uma das atividades da programação era “Cultura digital – Que porra é essa?”. Resolvi conferir. Eis que o debatedor... é nosso ministro Gilberto Gil!! Figura, microfone estilo Serginho Groisman, conversou com a pequena multidão largada em almofadas num espaço abafado da Casa do Conde.

Além de receber críticas, apontou a dificuldade em enfrentar os interesses por trás do monopólio da radiodifusão no Brasil, pregou o compartilhamento de conteúdos na web e defendeu que o direito ao acesso à cultura deve ser mais importante que o direito autoral. [Pena que declarou recentemente a intenção de largar o Ministério....]

Ação Comunitária do Brasil

Essa ONG, que existe há quase 40 anos no complexo da Maré e em Cidade Alta, no Rio, virou Ponto de Cultura e tem feito um trabalho incrível com os jovens dessas favelas. Foram eles que coordenaram a oficina de penteado afro, procurada por brancos e negros. Também venderam roupas lindas, feitas com silk e bordados que remetem à memória dos morros.

O grupo se apresentou no teatro Francisco Nunes com um show incrível, que durou duas horas. Meu conceito de capoeira finalmente chegou ao patamar merecido. Arrasaram. Teve ainda muita dança – maculelê, jongo, samba – e música, cantada por uma baixinha arretada, dona de uma voz incrivelmente forte.

Balanço...

Fiquei feliz em constatar que o dinheiro público anda apoiando iniciativas desse porte. Com 60 mil reais por ano para Pontos de Cultura como o maracatu Leão Coroado e o projeto Vídeo nas Aldeias, parece que finalmente estamos caminhando rumo à descentralização do acesso a políticas públicas de cultura.

A sensação de que “um outro mundo é possível” é muito mais latente durante a TEIA do que nos dias das duas edições do Fórum Social Mundial que presenciei (Porto Alegre 2003 e Caracas 2006). Ao menos, é o meu registro.

Em tempo: as fotos são de Élcio Paraíso, fotógrafo oficial da TEIA. Mais imagens em http://www.flickr.com/photos/teia2007.

Informativo Nós da TEIA

Número 1 (Dia 8)





















Número 2 (Dia 9)





















Número 3 (Dia 10)


















"Núcleo duro" do Informativo: eu, Carolina Gutierrez, Clara Guimarães e Elisandra Amâncio (textos) e Guilherme Ávila (diagramação).

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Em nome da arte













Antes que a onda de atividades do TEIA ocupe todo meu tempo, precisava registrar aqui minhas duas experiências no Festival Internacional de Dança, que aconteceu de 24 de outubro a 4 de novembro em vários cantos da cidade. Com o lema “Dança para todo mundo”, pensava que o FID pudesse trazer espetáculos mais palpáveis, que colaborassem com a formação de público - os ingressos custavam só R$ 2. Ledo engano. Muitas das peças selecionadas (Brasil, Quênia, França, Dinamarca, Austrália e Argentina) trabalharam mais com idéias conceituais sobre dança do que a dança em si.

Ainda assim, gostei de fazer parte do público sempre lotado dessas apresentações. Em “Estudos para impressões”, de Denise Stutz, do Rio, cheguei atrasada no Museu Mineiro e batalhei fervorosamente por um ingresso remanescente. Consegui. Estranhei que o “palco” fosse dentro de uma das salas com obras de santos barrocos, mas lá estava a dançarina, totalmente nua, fazendo barulhos estranhos com a boca. O cenário era formado por seis lâmpadas no chão. E só. Muito lentamente, contorcia o corpo e os braços, sempre de pé. Foram 20 minutos até que ela se vestiu e saiu. As pessoas se olharam. O primeiro aplauso demorou a sair.

No dia seguinte, a reação foi bem mais radical. Com o nome “A vida enorme”, a apresentação assinada pela coreógrafa francesa Emmanuelle Huynh foi uma performance que alterou os ânimos da platéia lotada do Palácio das Artes, com capacidade para 1707 pessoas. Começou com longo atraso, mas o público de descolados, dançarinos e donas-de-casa esperou calmamente. Perfume, saltos, expectativa, risos e cochichos. Enfim, começou. Cortinas abertas, aplausos. E seis caixas de som ocupavam o centro do grande palco, sem qualquer sinal de vida humana.

Eis a cena:

As caixas de som emitem um diálogo caótico em francês. Blá, blá, blá. Depois entra uma fala rápida e também confusa em português de Portugal. Impossível entender. Volta o francês. Não há legendas. Toca um trecho de David Bowe. “We can be Heroes/ Just for one day”. Mais francês. Às vezes, frases soltas em português.

Passam-se longos 20 minutos. Uma dezena de pessoas levanta e vai embora. Aos poucos, os movimentos bruscos nas cadeiras e as conversas paralelas dão lugar a aplausos eufóricos. Todos aplaudem, ovacionam. “Dança, caixa de som!!”, alguém grita. “Bravo, bravíssimo!!”, festejam. Houvesse tomates nas bolsas de lantejoulas, com certeza teriam atingido as onipotentes caixas de som. Diante da balbúrdia, mantinham-se imóveis. E falavam francês.

Quando por fim as luzes se apagaram e em seguida dois corpos apareceram no palco, novos aplausos eufóricos tomaram conta do teatro. Por mais 20 minutos, um casal de dançarinos fez movimentos lentos entrecortados pelos mesmos trechos da musica de Bowe. Era bonito e sensível. Interessante. E acabou.

Os aplausos finais partiram de gente que preferiu ficar sentada na poltrona. Aos poucos, vendo a respiração ofegante dos franceses, parte se levantou. Na saída do teatro, a sensação de ter participado – como platéia - de um evento da Semana de Arte Moderna de 22.

Eu, que já tinha comprado ingressos para o encerramento do FID no domingo, acabei desistindo. Troquei o solo do Quênia por cerveja e mandioca frita.

domingo, 4 de novembro de 2007

Oficina sem martelo

Pensar jornalismo cultural já faz qualquer pessoa interessada por cultura e comunicação entrar em parafuso. Mas refletir (e fazer) um tal jornalismo cultural INDEPENDENTE é ainda mais pirante. Ao menos não estamos sós. São cerca de 100 pessoas reunidas neste sábado e domingo aqui em Belo Horizonte pra imaginar o que seria este troço. O bicho tá pegando. Quem comanda a oficina é o pessoal do Instituto Pensarte, que criou um site de relacionamento chamado 100 Canais.

A desculpa inicial para que esse movimento aconteça é o TEIA 2007, o encontro nacional dos Pontos de Cultura do Ministério da Cultura. Também aqui em BH, será de 7 a 11 de novembro. Vale entrar no site para ter uma idéia do caldeirão cultural prestes a acontecer. Mas a programação detalhada ainda não está on line....

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

TV Pública na Era Digital

(Texto meu publicado no site Observatório do Direito à Comunicação, do Intervozes, inaugurando também a série Frilas para o Tutu Mineiro)

Que TV queremos ter? Para a professora Regina Mota, da Universidade Federal de Minas Gerais, esse deve ser o principal questionamento de uma sociedade que começa a se preparar para ter sua primeira TV Pública. Regina, que participou por três anos do grupo de pesquisa para o Sistema Brasileiro de Televisão Digital, foi a convidada do segundo seminário da série TV Pública na Era Digital, organizado pela Rede Minas na última quarta-feira, dia 31 de outubro, em Belo Horizonte.

Também autora do livro TV Pública - A democracia no ar, Regina não trouxe respostas prontas. Pelo contrário: instigou os presentes – em sua maioria jornalistas e profissionais de televisão – a refletir sobre o que, de fato, significa uma TV a serviço do povo. Para ela, o país precisa batalhar pela constituição de uma TV efetivamente pública, que garanta um lugar para a expressão da diferença e permita a invenção do mundo.

A questão-chave por trás desses desafios, para Regina, é nossa relação com o outro. A presença deste “outro” na televisão privada brasileira é vista por ela como desigual e autoritária. “Assim como no processo de civilização branca, o jornalismo tenta civilizar para converter”, destacou. Numa exposição bastante provocativa, defendeu ainda a atualidade do Manifesto Antropofágico, de Oswald de Andrade (1928), que pregava o interesse pelo conflito, pela diferença e pela mudança. “Ainda não sabemos lidar com o outro”, reconheceu, após mostrar trechos da participação de Mano Brown no programa Roda Viva, da TV Cultura.

Para ela, a atual decisão de dar início às transmissões da TV Pública em São Paulo e nos grandes centros urbanos é equivocada, porque aumenta a desigualdade entre as cidades ricas e as mais carentes. Sua proposta é inverter essa lógica, com a criação de uma rede a partir do interior do país, que coopere inclusive com o desenvolvimento da tecnologia e da linguagem a ser adotada pela nova TV.

A Internet pode ser vista como uma referência das mudanças que estão por vir, como a produção colaborativa e não autoral. “Questões como a necessidade ou não de formação também estarão em jogo”, disse, apostando ainda que os novos sentidos para a tecnologia irão demandar um outro tipo de profissional, com habilidades de engenheiro, tecnólogo, jornalista e, especialmente, artista.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Mercado Central

Gerente executivo do Banco do Brasil, quando entra em seu local de trabalho, pode reclamar de tudo, menos de monotonia. Em seu percurso diário até a sala com ar condicionado da agência instalada dentro do Mercado Central, o homem engravatado pode se distrair com o cacarejo ritmado de uma galinha histérica, o piar inspirado do canário amarelo e o latido balbuciado do filhote vira-lata. Nos corredores do Mercado, pode tomar o café da manhã, almoçar e ainda beber e petiscar as mais procuradas comidas de boteco da cidade.

O Mercado Central, construído em 1929, é uma Babel, como todo mercado municipal. Mas parece mais inusitado do que os outros pelo contraste radical entre os elementos da cultura popular mineira e os da modernidade urbana. Além do Banco do Brasil, tem CVC Turismo e banca de revistas próximas a açougues que martelam a importância da vida vegetariana. No sábado passado, meu pânico foi ter encarado, a contragosto, um leitão inteiro, peladinho da silva, pronto para venda.

Há por fim artesanato, [muito] queijo, roupa, frutas, temperos, ervas milagrosas, louça, lembrancinhas. Há coisas que só se encontra por lá, como coalhada. Com uma qualidade muito boa de produtos e de atendimento, o Mercado é passagem garantida de gente fina, atrás de requintados docinhos de nata e de abóbora, e de gente muito simples, à procura da folha de babosa que, entre suas várias “propriedades”, é recomendada para prisão de ventre, como explicou uma das compradoras da planta.

Mas atenção: nem tudo são flores. No Centro de Mídia Independente, soube que o Mercado Central é sinônimo de maus tratos a animais. Neste link, é possível ver as fotos dos animais em situação degradante, com legendas como “Esta galinha estava semi-morta, doente e estática”.

PS. O The New York Times publicou no domingo uma reportagem sobre BH. Traduzido pelo UOL, o texto Belo Horizonte, uma cidade onde o mundo é um bar destaca as várias ofertas etílicas da cidade e procura mostrar que tais atributos deviam ser suficientes para tornar a capital mineira mais conhecida no exterior. (...)

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Alquimista da dor

Ferreira Gullar esteve ontem em BH numa passagem meteórica. Convidado do projeto Ofício da Escrita, do Museu de Artes e Ofícios, começou a conversa com uma constatação pontual: “Tudo é inventado”. Para Gullar, esta é uma certeza comum a todo artista. Ele acredita que para melhorar tudo o que nos cerca, o homem cria o mundo constantemente. Por isso inventou Deus. Por isso inventou as cidades. Por isso inventou a arte.

Fiquei impressionada com a contundência de sua critica à arte contemporânea, que deu o tom de boa parte do debate. Ao contrário de todas as outras linguagens artísticas, que souberam evoluir a partir de movimentos de vanguarda, as artes plásticas ficaram paralisadas. Apresentadas como obras de arte, “areia dentro de uma garrafa” e “larvas na banana” são exemplos de extremo niilismo, opinou. São obras que não ensinam, não compartilham, não encantam.

Gullar, que foi poeta parnasiano no início da carreira e por fim pregou a liberdade de experimentação no movimento do Neoconcretismo, não vê a falta de limites com bons olhos. Seu limite é a palavra. É por meio dela que ele reinventa o mundo e procura “dizer o indizível”, traduzindo experiências únicas como o cheiro do jasmim ou a surpresa do bater de ossos do próprio corpo.

Antes do fim da conversa, Gullar recitou dois poemas. No site oficial, também é possível ouvir alguns. Compartilho aqui meu encantamento.

Barulho

Todo poema é feito de ar
apenas:
a mão do poeta
não rasga a madeira
não fere
o metal
a pedra
não tinge de azul
os dedos
quando escreve manhã
ou brisa
ou blusa
de mulher.

O poema
é sem matéria palpável
tudo
o que há nele
é barulho
quando rumoreja
ao sopro da leitura.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Três anos de ponte rodoviária












Pelos meus cálculos, acabo de completar três anos de viagens noturnas no ônibus convencional da Viação Cometa, poltrona 13. Nesta volta do feriado prolongado, o esforço mental foi grande para lembrar que a velha rodoviária do Tietê é agora destino de ida, não de volta.

Nesses três anos de ansiedade, medo, (muita) alegria e tristeza, acompanhei diversos ciclos da rodoviária. Uma grande reforma já transformou o espaço em shopping. São 74 lojas, incluindo tabacaria, Bob´s, Café Ritazza e muitos pontos que vendem Dunkin' Donuts. Na época do auge da crise aérea, vi o velho Tietê sendo freqüentado por gente bem mais abastada, disputando cadeiras na ala VIP da Cometa e da 2001.

Também acompanhei a invasão publicitária por ali, onde a Lei Cidade Limpa ainda não deu as caras. Desta vez, foi assustador: em quatro minutos de caminhada, cruzei com seis outdoors nos corredores do Terminal e da plataforma dos ônibus. Lacta, Kaiser e Sol disputam a atenção dos passageiros com propaganda atenta ao público-alvo: “Aproveite que você não vai dirigir e peça a sua bem gelada”, dizia um dos anúncios.

Já a decoração durante as festas e feriados nacionais é algo mais tradicional. O Terminal cresceu, mas o canteirinho com coelhos na páscoa, com bonecos pulando fogueira em junho e com o trono do Papai Noel made in Paraguai é sempre o mesmo. Levei um susto quando o pseudo-velho estava de fato na cadeirinha, aguardando crianças corajosas que quisessem abraçá-lo.

Freqüentando o espaço, descobri que o banheiro gratuito é bem mais distante da saída do Metrô e pouquíssimo sinalizado. Fica próximo ao Habib´s e à lan house. Por perto está um mundo a parte, com posto de saúde e assistência social pública.

Mas as melhores histórias deste percurso são mesmo a bordo do Cometa. Dividi a poltrona com muitas figuras interessantes: marido que trabalha em SP de segunda a sexta e volta para BH todo o fim de semana. Solteira desiludida com o ex-namorado que aceitou convite da tia para largar tudo em Minas. Jovem que abdicou da vida pessoal para ser missionária católica. Homem que dormia caindo no meu ombro. Mulher que insistiu para que eu aceitasse um pedaço do seu cobertor.

Na minha penúltima viagem de volta para BH, uma moça trazia um cachorrinho enrolado numa manta. O motorista não quis aprovar o embarque, preocupado em ser denunciado por algum passageiro. Ela insistiu, dizendo que sempre viaja com o animalzinho, bastante comportado, negando-se a sair da poltrona. A turma do ônibus, irritada com o impasse que só atrasava a saída, votou pela permanência do bicho.

Cheguei com três horas de atraso uma única vez. O caso foi sério e começou quando dois playboys deram falta da câmera digital após a segunda parada. Quando o motorista estacionou na delegacia para a revista, outro cara constatou que tinha sido roubado. Levaram 10 mil reais em dinheiro vivo, embrulhados num pacote de papel pardo...

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Diamantina











































Diamantina é minha cidade histórica favorita em Minas Gerais. Diferente do circuito de Ouro Preto, é aberta, clara, alegre. Tem vida própria.

Subindo os morros de chão de pedra, os nativos (já meio mineiros, meio baianos) olham desconfiados para os turistas e seguem caminho mais adiante. Só mesmo o turista deslumbrado respira fundo o ar das montanhas da Serra do Espinhaço e acha novidade poder desfrutar da mesma vista que um dia a ex-escrava Chica da Silva escolheu para fincar sua casa. Forasteiro, quer entrar na máquina do tempo e vivenciar o cenário da rica e próspera cidade do circuito do diamante e da rota certa dos escravos que trabalhavam na mineração.

Outro símbolo turístico da cidade, a Casa da Glória, de 1750, já foi moradia do primeiro bispo de Diamantina e abrigou o colégio das irmãs Vicentinas: para que as internas não tivessem contato com os reles mortais da rua, foi construído um passadiço fechado entre os dois prédios. Gostei de lembrar que por ali estudou a Luisinha, irmã de Helena Morley, em 1895... Helena foi neta de ingleses que viveram em Diamantina. O diário da menina virou o livro e o filme “Minha vida de menina”.

Entre as atrações mais “recentes”, está a casa onde nasceu Juscelino Kubitschek – suas camas, mesas e cadeiras, todas simples, lembram miniaturas dignas dos sete anões. Desta segunda vez que estive por lá também consegui ver uma vesperata – ou o inverso de serenata. Quem fica na janela são os músicos. Os maestros se revezam num palco no meio das mesas de bar e da multidão para reger a banda empoleirada nas sacadas dos casarões da vila. O repertorio é bastante variado e, cá entre nós, nem sempre prima pelo bom gosto. [Não acho "Besame mucho" uma escolha acertada...] Mas não deixa de ser um espetáculo imperdível...

Minhas fotinhos, de cima para baixo: Casa do Glória, Igreja de São Francisco de Assis e algumas sacadas para músicos da vesperata.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Pingado e pão na chapa

Não imaginei sentir tanta falta de sentar num balcão de padaria que sirva café com leite e pão na chapa. Ainda que o café esteja aguado e o pão amanhecido, não há nada melhor para um fim de tarde.

Ontem andei alguns quarteirões, faminta, em busca deste lanchinho tão trivial. Na padaria mais próxima de casa – com catraca para entrar, que vende sabão em pó, bananas, azeite e... pão – sequer havia balcão. Uma barata beirando uma prateleira de produtos me fez desistir de levar ao menos alguns pães de queijo. Passei ainda por uma sorveteria, uma casa de massas congeladas, um bar que só vende cachaça e terminei parando na confeitaria MOMO.

A MOMO é fina estampa. Tem doces que servem as festas mais badaladas da cidade. As trufas e os mousses são de dar água na boca. Por lá, consegui um café expresso com leite numa xícara de porcelana e uma coxinha que precisou de bastante katchup para descer. A fome não passou. Dá-lhe pão de queijo.

Amigos, preparem-se. Na próxima visita à Sampa, vai ser fácil (e barato) me agradar.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Muita música













Procurava uma definição convincente de música independente e por fim gostei do conceito da Associação Brasileira de Festivais Independentes: “Criação autoral, com divulgação por meio de shows, CDs e veículos de comunicação (principalmente a internet) sem o amparo das grandes gravadoras”. Em outras palavras: para sobreviver e tocar, “te vira, nego”. Minas Gerais é berço de produção cultural de primeira, mas não consome. Mas vejo que em BH esse pessoal tem tido um apoio razoável, principalmente por meio de projetos que captam recursos da prefeitura e das leis estaduais e nacionais de incentivo à cultura.

Domingo passado, no Museu de Mineralogia (mais conhecido como “Rainha da Sucata”), em plena praça da Liberdade, assisti um show da cantora Elisa Paraiso. Ela interpretou canções de Joyce, Teresa Cristina e do mineiro Kristoff Silva, que apareceu como convidado especial. De arrepiar de bom. Kristoff lançou “Em pé no porto”, seu primeiro CD, com participações de Ná Ozetti e Luiz Tatit. [Vale a pena ouvir!!]

Amanhã é o ultimo dia do projeto Stereoteca, que tem a ambição de “capturar” movimentos da cena de Belo Horizonte em pleno vôo. Os holofotes do teatro da biblioteca municipal estarão focados na intérprete de MPB dona Jandira, nascida em Maceió, que é artesã, comanda um coral de crianças e adolescentes e começou a cantar profissionalmente aos 66 anos. O convidado é Vítor Santana, compositor daqui. Ele também tem um CD recém-lançado em parceria com a companheira Mariana Nunes (“Abra Palavra”). Além de músicas próprias, os dois resgatam afro-sambas, toadas e baiões.

O Stereoteca, já no segundo ano, tem sido bastante elogiado pela abrangência do projeto: o site, super produzido, fala um pouco sobre cada artista e permite baixar MP3. Nos shows, ainda são distribuídos exemplares gratuitos de um álbum ilustrado de figurinhas, com duas páginas para cada músico. Da minha parte, estou curtindo a regressão: não colecionava figurinhas desde a década de 1990. Aposto que a idéia vai servir como case de sucesso para os publicitários de plantão... Pena que estou longe de completar o álbum. E nem sei jogar bafo para ganhar na raça.

sábado, 29 de setembro de 2007

Tutti Maravilha

Locutor da rádio Inconfidência (100,9 FM), ligada ao governo de Minas, Tutti Maravilha comanda um programa diário que completou 20 anos no ar essa semana, o Bazar Maravilha. Nas longas duas horas que tem a seu dispor (14h às 16h), conversa com ouvintes, lê e-mails elogiando o próprio programa, manda beijos para aniversariantes do dia e faz piadas do tipo “O que é, o que é?”, valendo brindes para quem acertar as respostas. Não à toa, a vinheta do Bazar é “A hora do recreio da rádio mineira”.

Parece brincadeira, mas é dele programa mais bem avaliado entre jornalistas mineiros. Toca raridades de Nara Leão e Gal Costa, Elis Regina, Rita Lee e Clube da Esquina, claro. Durante o recreio, entrevista artistas convidados num longo bate-papo, divulgando eventos bacanas ligados ao mundo da música e da dança. Dá até para imaginar que tomam café e comem pão de queijo, tão boa a prosa. Para ter uma idéia da abertura para o que há de mais variado na cena musical mineira, Tutti recebeu o grupo de coco Ouricuri dias antes da apresentação no teatro Francisco Nunes e divulgou os shows de abertura do Festival Garimpo de Música Independente.

Aliás, pela primeira vez estou ouvindo/ lendo muito sobre música independente. Fica para a próxima...

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Programa de índio












Prédio em bairro bacana de BH tem uma quadra de peteca. Não serve para praticar outros esportes. Tem rede dividindo o campo, mas o tracejado não funciona sequer para o vôlei.

Peteca aqui é coisa séria. Segundo a Wikipedia, o objeto de madeira com penas de aves era bastante comum nas tribos da região do atual estado de Minas Gerais. A primeira federação que consolidou a peteca como esporte, em 1975, também é mineira.

O pai do Eduardo joga peteca de três a quatro vezes por semana no clube do interior. Teve uma contusão séria no pulso e topou suspender o hábito em troca de muita fisioterapia – não deixou os exercícios com bolinhas terapêuticas sequer aos domingos. Ficou bom em seis meses e hoje exibe feliz o bronzeado moreno jambo das tardes nas quadras de Timóteo.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

As mulheres mineiras

Ainda mal freqüento ambientes corporativos, mas o passeio à pé ou de ônibus nas ruas circulares da cidade já revelam mulheres pra lá de vaidosas. Brincos, colares, unhas feitas (mão e pé), sandálias altas e blusas decotadas contrastam com a deselegância discreta das meninas de Sampa.

domingo, 16 de setembro de 2007

É amanhã!























Rabeca, pifes e tamancos fazem o som irresistível de dançar-pular marcante do coco, ritmo tradicional presente em vários cantos do Brasil. O trabalho de reunir mais de 200 cocos diferentes no país foi de Mário de Andrade, entre 1928 e 1929, mas o show que irá recriar com fidelidade 18 dessas canções pode ser visto em BH amanhã, no Teatro Francisco Nunes, às 20h30. O CD Os Cocos é o primeiro trabalho do grupo Ouricuri, formado por Poliana Cruz, Nara Magalhães, Aryane Paola, Tereza Moura, Yuri Lisboa, Negoleo e André Salles-Coelho. O encarte do disco está lindo, com desenhos muito delicados em aquarela pintados po r Tereza Moura.

Gosto especialmente da forma como as músicas são cantadas, mantendo o jeito certo de falar do caboclo:

- Coco dendê, Trapiá
Fai´um jeitinh´d´imbolá!
Imbola pai
Imbola mãi, imbola filha,
Eu também sô da família
Eu também quero imbolá!

Entre os convidados especiais do show, estarão Tavinho Moura (voz) e Eduardo Borges (violão). Mais sobre o grupo no myspace.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Lampião no poste

Á noite, o belo horizonte daqui é inteiro pintado de pequenas luzes amarelas. O céu de São Paulo me parece muito mais branco - luz fluorescente, fria, economizando energia nos escritórios de plantão. O amarelo-fogo das ladeiras de BH é quente, feito lampião à óleo. Faz o morro da favela simular incêndios pontuais.

As margens da alegria

O primeiro conto que abre as Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa, fala do Menino que se deslumbra ao conhecer Brasília com o Tio e a Tia. Agora que começo minha jornada em Belo Horizonte, na terra mineira do próprio Rosa, as pequenas grandes descobertas do Menino se parecem um pouco com as minhas. Aceito o risco da visão ingênua para não perder a chance de registrar o encantamento.

"O Menino via, vislumbrava. Respirava muito. Ele queria poder ver ainda mais vívido - as tantas novas coisas - o que para os seus olhos se pronunciava."