terça-feira, 11 de agosto de 2009

Procura-se um sorriso



















Encarei o estranhamento frente a frente. Pela segunda vez. Agora, não posso mais me abster. Este homem, como o primeiro, sorri na foto. Ambos guardam segredos. Ambos deviam ter ao menos um motivo para sorrir. Mas, neste exato momento, são desaparecidos.

Estampadas no Jornal do Ônibus, as fotos em preto e branco sempre dizem muito pouco sobre a vida dos que saíram de casa sem deixar rastros. Mas estes homens de sorriso na cara desempenharam com louvor o papel do cego consagrado pelas epifanias de Clarice Lispector. Alegria combina com sumiço?

Hoje vi a foto de Maron José dos Santos. De concreto, uma única informação: 47 anos. Aos poucos, um mergulho na fotografia 3X4 revela o sorriso acentuado à direita e o bigode, ralo e comprido. A calvície parcial destoa do cabelo negro e volumoso nos arredores da cabeça. (Teria sido esta uma foto recente?) A larga blusa revela o gogó saliente. Noto em Maron um certo ar de leveza e malandragem.

O devaneio é logo interrompido pela realidade – hora de dar o sinal e descer do ônibus. Por pouco, corri o risco de só descer no Jardim Botânico.

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