terça-feira, 4 de março de 2008

Pérolas aos poucos

Ontem conheci Emerson Pinzindin, um dos poucos personagens públicos dessa metrópole de anônimos. Professor de música, saxofonista e flautista, ele tocou por 12 anos na calçada em frente ao Conjunto Nacional, na avenida Paulista. No segundo semestre do ano passado, recebeu o veredicto: foi proibido, pela justiça, de voltar a tocar no local. Hoje está nos fundos do Conjunto, no quarteirão com a alameda Santos, em frente ao estacionamento Rede Park. Num cantinho entre a saida e entrada interminável de carros, dedicou-me uma valsa choro.

Emerson Pinto adotou o "Pindinzin" em homenagem a Pixinguinha. Sua história é totalmente surreal. A ação para retirá-lo partiu da sindica do condominio - a mesma que um dia o convidou para tocar dentro da galeria do Conjunto Nacional, como conta reportagem da Folha. Foi obrigado a se retirar por incomodar os lojistas com um "repertório sempre igual". Passou a tocar na calçada, mas foi expluso novamente. Em seguida, assinou acordo prometendo sair de vez em troca de 5 mil reais de indenização.

Na semana seguinte, voltou. A multa pela insistência já significa uma dívida de 7,6 mil reais. Agora, precavido, está no quarteirão de baixo. Mas a trilha sonora, definitivamente, não rima com aquele escuro e triste estacionamento.

PS. Ainda segundo a Folha, um dos mais "incomodados" com a presença de Pinzindin é o dono da civilizada Livraria Cultura, Pedro Herz.

A partir deste dia 15, o músico se apresenta com o grupo completo todos os sábados, às 15h, num bar da rua Pedroso de Moraes, número 710. No repertório, o flyer anuncia Callado, Cartola, Donga, Noel, Chico e Tom. O telefone de contato é (11) 3253-0632.

6 comentários:

Unknown disse...

Não me digas que estás na São Paulo desvairada!?

SaintCahier disse...

Essa questão da ocupação das "ondas" é das mais espinhosas --- hertzianas ou sonoras, elas dão muito o que falar.

É a velha discussão do espaço público e sua ocupação.

Luiz Antônio Navarro disse...

será que o repetório é mesmo sempre repetido? se não, às vezes o dono da tal civilizada livraria não se incomode com ele...

ZECA LEMBAUM disse...

É Julim, e por falar em Conjunto Nacional, tenho um amigo que afirma que este local já adquiriu “mitologia própria”. Você sabia que o restaurante mais grã-fino, mais fresco, da nossa Paulicéia, o Fasano, já habitou o CN antes de ir pros Jardins? Isso foi de 1959 a 1969. Dizem que este período foi o de maior glamour, tornando o espaço sinônimo de elegância, luxo e modernidade. Reza a lenda de que pelo Fasano, que funcionava no terraço, circularam as personalidades mais chiques e importantes da época. Nat King Cole, Ginger Rogers, David Niven. Até o Príncipe de Gales e o presidente dos EUA, Eisenhover, estiveram por lá. Muito recentemente descobri que o el comandante (ou ex-comandande, sei lá) Fidel Castro também já pisou o enorme piso de entrada do CN. E por falar no piso, sempre que ando pela primeira vez com alguém sobre aquele mosaico de pedras do CN, eu não perco a oportunidade de informar o amigo de que quem inaugurou o piso foi (a alemã mais famosa e formosa do século 20) Marlene Dietrich. E quem inaugurou a bagaça toda (em 1958) foi o Juscelino Kudijegue.

Fora o imbróglio que rolou com o saxofonista/flautista, a última lambança que repercutiu foi a do imenso painel luminoso do Itaú sobre o CN. O “trem” é o seguinte: a Lei Cidade Limpa do Kassab determinou a retirada de toda propaganda produzida em painel sobre qualquer edifício de São Paulo. Só que a administração do CN, mais o Itaú, não removeram o famoso luminoso alegando que o mesmo fora tombado conjuntamente com o edifício – ou seja; o Condephaat de São Paulo, pela primeira vez no país, tombou um anúncio. É mole?!

Beijo nocê, vizinha.

Anônimo disse...

É, Julita. Ser expulso até da calçada é f............ fato a ser comentado mesmo. ainda mais um música que já 'habitou devidamente' o local. Fiquei com vontade de saber mais. Tipo aqueles textos imensamente descritivos, em que vc se sente 'nele'.
Um beijo de muito sol e cerveja bem gelada a beira da praia. (hehehehe. Sacanagem, né?)

Júlia Tavares disse...

Zeca, seus comentários valem mais que um post. Gracias por compartilhar tanta cultura!