quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Colírio realidade








Posologia: Pingar dez gotas de Linha de Passe em cada olho. Dose única. Medicamento de ação imediata. Ao persistirem os sintomas de cegueira, recomenda-se descer no ponto final do ônibus Jardim Perifa em São Paulo.

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Eis a São Paulo sem máscaras no cinema. Linha de Passe, de Walter Salles e Daniela Thomas, revela as sutilizas e as brutalidades da vida da massa que integra esta complexa e múltipla civilização.

O céu cinza, o tempo chuvoso, a pia entupida. O ônibus lotado, o trânsito na Marginal, o risco de morte constante. Os manos, os evangélicos, o futebol de várzea. Personagens e símbolos de uma metrópole atrofiada, dona de humores próprios.

Interessante como o colírio-filme também surte efeito em morador de qualquer cidade. Logo ao sair da sala de exibição, enxerguei com nitidez o menino cheirado de cola entrando no McDonald´s da Savassi. O catador que buscava valor no lixo do Subway e o motoboy estacionando na avenida. Traços marcantes do Brasil que não quero tirar de vista.

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