segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Paulistanices














Já me disseram que o termo “mineirice” pode soar pejorativo. O bonito, por essas bandas, é cantar a “mineiridade”. Bom lembrar que, ao menos no conceito deste espaço virtual, mineirice não tem nada de ruim. Pelo contrário: serve para traduzir peculiaridades, traços marcantes, curiosos, únicos. Por essas e outras, tenho encontrado uma verdadeira paixão como “caçadora de mineirices”.

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Desta vez, inverti a ótica do binóculo. Neste rápido e frenético fim de semana em São Paulo, identifiquei algumas “paulistanices” que começam a ganhar nitidez...

- Só numa mega capital como São Paulo há tanto dinheiro em jogo a ponto de transformarem a decoração de Natal da av. Paulista na competição “Quem ilumina mais?”. Vejo claramente a inveja empresarial correndo solta – do prédio da Fiesp ao Banco Real, o discurso da sustentabilidade vai por água abaixo no gasto de energia com milhões de lâmpadas formando designs variados. Do brega ao chique, o que vale é ostentar. O extremo disso é constatar o trânsito da 1 da madrugada no domingo. Filas de carros e muita gente nas calçadas faz visita aos vários papais-noéis moradores de bancos. Estranhos tempos.

- Já viu três, quatro ou cinco seguranças vestidos de terno preto e munidos de radio-comunicadores em frente a prédio de classe média? A obsessão pela “segurança” pode mesmo não ter limites. Mesmo quando o salário do condômino não é lá essas coisas, ter homens de preto na porta do prédio virou padrão. [Enquanto isso, em BH a preferência é pelo sistema de alarme.... Lembra do post mais polêmico deste Tutu?]

- Shopping é praia de paulista e ponto final. Ao invés da tradicional praça de alimentação, os novos shoppings têm espaço para verdadeiros restaurantes internos, onde o ambiente simula um conforto distante da caustrofóbica realidade externa. Mas a ilusão dura pouco. Acabado o almoço, é hora de pegar fila para o elevador panorâmico e, em seguida, fila para pagar o tíquete do estacionamento. Pensando bem, as filas não acabam mais...

[Foto do Estadão, que acompanha matéria sobre o novo turismo de Natal em tempos de crise...]

4 comentários:

Anderson Ribeiro disse...

'mineirices' tão mais bela que 'mineiridades'...

Júlia Tavares disse...

Então venha bancar o termo aqui comigo! Aliás, quando vens? Beijo grande, querido Anderson! Obrigada pela preciosa visita ao Tutu!

disse...

Oi Júlia, aqui é o Zé, tudo bem. Vi seu blog por indicação do Jorge. Falando sobre o seu texto a respeito dos seguranças, a Célia, minha companheira, quando os viu numa tarde nas portas dos bares na Vila Madalena reparou que, em sua maioria, eram negros ou pardos. Estavam "elegantemente" engravatados e suando às bicas, num calor absurdo. Enquanto isso, os clientes estavam a vontade, de bermuda e muitos de boné para se proteger do sol. Ela, que já militou no Movimento Negro, com um tom de ironia, soltou uma frase que nunca me esqueço: "Os 'manos' se vestem de 'playboys' para os 'playboys' poderem se vestir de 'manos.'"

Júlia Tavares disse...

Oi, Zé, seja bem vindo ao blog! Brilhante o comentário da Célia. Quando morava em Perdizes costumava conversar com esses manos engravatados - como é triste vê-los de pé o dia inteiro, "representando" alguma segurança... enfim.... um lado fake de São Paulo que, aqui por Minas, alguns colunistas sociais costumam chamar de "banho de civilização".... Abraços grandes!!
(Veja o pot http://tutumineiro.blogspot.com/2008/02/propaganda-enganosa.html)