Fiquei impressionada com a contundência de sua critica à arte contemporânea, que deu o tom de boa parte do debate. Ao contrário de todas as outras linguagens artísticas, que souberam evoluir a partir de movimentos de vanguarda, as artes plásticas ficaram paralisadas. Apresentadas como obras de arte, “areia dentro de uma garrafa” e “larvas na banana” são exemplos de extremo niilismo, opinou. São obras que não ensinam, não compartilham, não encantam.
Gullar, que foi poeta parnasiano no início da carreira e por fim pregou a liberdade de experimentação no movimento do Neoconcretismo, não vê a falta de limites com bons olhos. Seu limite é a palavra. É por meio dela que ele reinventa o mundo e procura “dizer o indizível”, traduzindo experiências únicas como o cheiro do jasmim ou a surpresa do bater de ossos do próprio corpo.
Antes do fim da conversa, Gullar recitou dois poemas. No site oficial, também é possível ouvir alguns. Compartilho aqui meu encantamento.
Barulho
Todo poema é feito de ar
apenas:
a mão do poeta
não rasga a madeira
não fere
o metal
a pedra
não tinge de azul
os dedos
quando escreve manhã
ou brisa
ou blusa
de mulher.
O poema
é sem matéria palpável
tudo
o que há nele
é barulho
quando rumoreja
ao sopro da leitura.
Um comentário:
Querida, que texto adulto. Suas letras estão te acompanhando.
Já saudades!
Djau
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