sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Três anos de ponte rodoviária












Pelos meus cálculos, acabo de completar três anos de viagens noturnas no ônibus convencional da Viação Cometa, poltrona 13. Nesta volta do feriado prolongado, o esforço mental foi grande para lembrar que a velha rodoviária do Tietê é agora destino de ida, não de volta.

Nesses três anos de ansiedade, medo, (muita) alegria e tristeza, acompanhei diversos ciclos da rodoviária. Uma grande reforma já transformou o espaço em shopping. São 74 lojas, incluindo tabacaria, Bob´s, Café Ritazza e muitos pontos que vendem Dunkin' Donuts. Na época do auge da crise aérea, vi o velho Tietê sendo freqüentado por gente bem mais abastada, disputando cadeiras na ala VIP da Cometa e da 2001.

Também acompanhei a invasão publicitária por ali, onde a Lei Cidade Limpa ainda não deu as caras. Desta vez, foi assustador: em quatro minutos de caminhada, cruzei com seis outdoors nos corredores do Terminal e da plataforma dos ônibus. Lacta, Kaiser e Sol disputam a atenção dos passageiros com propaganda atenta ao público-alvo: “Aproveite que você não vai dirigir e peça a sua bem gelada”, dizia um dos anúncios.

Já a decoração durante as festas e feriados nacionais é algo mais tradicional. O Terminal cresceu, mas o canteirinho com coelhos na páscoa, com bonecos pulando fogueira em junho e com o trono do Papai Noel made in Paraguai é sempre o mesmo. Levei um susto quando o pseudo-velho estava de fato na cadeirinha, aguardando crianças corajosas que quisessem abraçá-lo.

Freqüentando o espaço, descobri que o banheiro gratuito é bem mais distante da saída do Metrô e pouquíssimo sinalizado. Fica próximo ao Habib´s e à lan house. Por perto está um mundo a parte, com posto de saúde e assistência social pública.

Mas as melhores histórias deste percurso são mesmo a bordo do Cometa. Dividi a poltrona com muitas figuras interessantes: marido que trabalha em SP de segunda a sexta e volta para BH todo o fim de semana. Solteira desiludida com o ex-namorado que aceitou convite da tia para largar tudo em Minas. Jovem que abdicou da vida pessoal para ser missionária católica. Homem que dormia caindo no meu ombro. Mulher que insistiu para que eu aceitasse um pedaço do seu cobertor.

Na minha penúltima viagem de volta para BH, uma moça trazia um cachorrinho enrolado numa manta. O motorista não quis aprovar o embarque, preocupado em ser denunciado por algum passageiro. Ela insistiu, dizendo que sempre viaja com o animalzinho, bastante comportado, negando-se a sair da poltrona. A turma do ônibus, irritada com o impasse que só atrasava a saída, votou pela permanência do bicho.

Cheguei com três horas de atraso uma única vez. O caso foi sério e começou quando dois playboys deram falta da câmera digital após a segunda parada. Quando o motorista estacionou na delegacia para a revista, outro cara constatou que tinha sido roubado. Levaram 10 mil reais em dinheiro vivo, embrulhados num pacote de papel pardo...

3 comentários:

Anônimo disse...

Ainda não tive a oportunidade de fazer a rota São Paulo-Belo Horizonte, espero fazê-la até o final do ano, para visitar minha amiga querida que acaba de casar. Por ora, só posso deixar o relato de uma viagem feita pelo litoral brasileiro. Infelizmente pegamos os últimos lugares do ônibus, bem ao lado do agradável e confortável banheiro, em que as pessoas não acertam o vaso sanitário em virtude das curvas da estrada. o cheiro era, de fato, insuportável. Por sorte, tenho a incrível capacidade de dormir em todos os meios de transporte. Eu e minha amiga ficamos com panos enrolados na cabeça, bem no fundo do ônibus, parecíamos duas múmias embalsamadas. Esta talvez tenha sido a viagem mais longa de 2 horas...
Cris Emy

Anônimo disse...

Olha... e nem divulga, humpf! É, viajar de ônibus é sempre uma aventura. Lá se vão alguns anos de idas e vindas... Juca, ainda não li tudo, mas já adorei... logo logo vou praí te dar um abraço ok? prometo.
(e poltrona 13 é bem simbólico...)
Beijo!!!

ZECA LEMBAUM disse...

Acredite, Julim... eu não sou jurássico, embora tenha freqüentado por cerca de dois anos o antigo terminal rodoviário da Luz, que era localizado próximo da famosa estação de trem paulistano de mesmo nome. Isso foi de 80 a 82 do século passado, e eu era um gurizinho de 13 anos, contente pra cacete por fazer minha primeira viagem sem os pais (mas na companhia do irmão mais velho).
Se dizem que o terminal do Tietê é congestionado, insuficiente para a demanda atual, o que dizer então do antigo?! Naquela época, não era preciso ser um Luciano Hulk para ter seu relógio de pulso surrupiado por “trombadões”, que eram especialistas nesta modalidade devido ao tamanho, pois só um meliante de estatura considerável podia alcançar as janelas dos Cometas pra “faturar” os Citizens, Orients e Seikos, os modelos de marca da época. Imagine a situação: o sujeito embarcava no ônibus e na hora do tchauzinho, bye bye seu relógio – isto porque nas plataformas da rodoviária da Luz entrava todo mundo; não havia segurança alguma, igualzinho ao terminal do Jabaquara.

O Tietê pra mim é simbólico. Nele passei a melhor parte que vive nas décadas de 80 e 90. Me lembro com carinho de quando, verdadeiramente, fiz minha primeira viagem solo, em 85, com uma barraca canadense que ainda possuo em perfeito estado. Julim, alguma coisa acontece no meu coração quando estou na rodoviária do Tietê – eu não canto Caetano; canto Renato Teixeira...(“...tantas idas e vindas, meu deus tanta volta... viajar é preciso, é preciso...”).
Beijins.