domingo, 25 de outubro de 2009

A primeira Mostra...

Difícil esquecer! Segundo ano de faculdade, poucas responsabilidades sérias, muito tempo de sobra. Em 2004, mergulhei no mundo dos cinéfilos, fiz boas descobertas e, claro, também engoli alguns sapos verdes. Este ano, meu restinho de outubro vai passar longe Mostra Internacional de Cinema de São Paulo – a fase atual é de outras prioridades, outra cidade. Mas não deixo de homenagear o evento.

Dos arquivos confidenciais para o mundo, eis um texto datado de outubro de 2004 com as impressões de uma saudosa edição.

As várias facetas da 27a. Mostra de Cinema de São Paulo

Luz. Câmera. Ação. Uma vez iniciada, a mostra tem a capacidade de provocar uma espécie de comichão-não-identificado que realmente pode causar sérios problemas de ordem física e psicológica.

Chamada pela mídia de “maratona”, o apelido para a mostra talvez tenha certo fundamento. Seus participantes precisam de preparação, disposição e tempo. Muito tempo. A diferença é que essa maratona dificilmente terá um vencedor conhecido do público. Nunca se sabe quem foi o recordista em numero de filmes assistidos. E para quem pensa que quantidade vale mais que qualidade, os números podem ser exorbitantes. Na verdade, essas pessoas raramente terminam a maratona satisfeitas. Querem mais.

Um exemplo desse tipo de maratonista é uma senhora que confessava a uma amiga, na saída do Cinesesc, ter contabilizado 140 filmes. Ou seja, como a mostra teve 15 dias, ela deve ter assistido a 9,33 filmes por dia. Na verdade ela estava contanto com filmes da mostra do Rio de Janeiro, mas ainda assim podemos concluir que a pobre mulher simplesmente abandonou outros hábitos irrelevantes tais como tomar banho ou comer.

Tem também aquele outro que tirou férias para poder viver dentro de uma sala de cinema, ou muitos que saem do trabalho no horário do almoço e não voltam nunca mais.

Estranho? Bom, se você procura por “normalidade”, seja lá o que isso significa, não irá encontrá-la durante a mostra. Num raio de 2km ao redor das salas de cinema – principalmente se você estiver na Augusta - as pessoas terão roupas e cabelos muito coloridos, piercings e óculos grossos estilizados.

Mas para todas as modalidades de apreciadores do evento, ficam algumas certezas:
1) Por duas semanas, o guia da Folha ou o livrinho da mostra serão sua leitura exclusiva.
2) Após horas de quebra-cabeça para escolher um filme em determinado horário, ainda é possível não conseguir ingresso, mesmo chegando na bilheteria com nove horas de antecedência, e querer bombardear o Arteplex.
3) Você encontrará sempre as mesmas pessoas, incluindo, claro, os carinhas de Audiovisual da ECA.
4) Encontrará também amigos cinéfilos e os professores para cujas matérias você deveria estar estudando.
5) Por mais que não saiba o nome de nenhum diretor, acabará aprendendo um pouco sobre nomes esdrúxulos como István Szabo, Babak Payami, Jim Jarmush.
6) Seus amigos e familiares podem nunca compreender porquê você os abandonou por tanto tempo.

Quanto às incertezas.... Essas são mais profundas. Afinal, freqüentar a mostra é alienação ou engajamento? Vontade ou imposição social? Lazer ou catarse coletiva? Sanidade ou loucura? Será que, já vítimas do consumismo capitalista, as pessoas descobriram que a cultura pode ser um fetiche de fácil acesso?

O fato é que, após ter visto a uma porção de filmes, pelo menos um deles terá sido tão lindo ou tão incrível que você finalmente reconhece que tenha valido a pena. E então fará seus planos e esperará ansiosamente pelo próximo ano...

3 comentários:

stripolias disse...

E você acredita que eu, moradora de SP, ainda não fui ver nenhum filme? É de condenar.
Não sou do Rumos.. sou colega do Leo (Leandro Lopes), que me deu a dica de seu blog e eu gostei. bj!

Anônimo disse...

Bacana demais seu post, Júlia, é verdade, depois de descoberta, cultura meio que vira fetiche. Em alguns vício ( seu Blog causa uma certa dependência)apesar de que eu quase nunca comento, e acredito também que muitas pessoas querem ser descobertas nesses locais, daí tantos óculos, cabelos coloridos...
Virou meio "camiseta" do CHE... E já que falou em Jarmusch, quase tudo que ele fez, param nessas mostras. Ai tem o amigo que baixou... e se comete o crime...o que já gera outro assunto... Abraços. Marcelo de Paiva . Varginha MG

Júlia Tavares disse...

Gabi, não sofra. Às vezes não fazer nada em SP é que é o grande barato.. rs... Marcelo, não acho que ninguém queira ser descoberto, não! Acho que é mais uma questão de tribo, mesmo. Eles são bem parecidos com o público que encontrei no festival de cinema de Juiz de Fora dia desses... Descolados que falam UAI! :-)
Abraços!