sexta-feira, 2 de novembro de 2007

TV Pública na Era Digital

(Texto meu publicado no site Observatório do Direito à Comunicação, do Intervozes, inaugurando também a série Frilas para o Tutu Mineiro)

Que TV queremos ter? Para a professora Regina Mota, da Universidade Federal de Minas Gerais, esse deve ser o principal questionamento de uma sociedade que começa a se preparar para ter sua primeira TV Pública. Regina, que participou por três anos do grupo de pesquisa para o Sistema Brasileiro de Televisão Digital, foi a convidada do segundo seminário da série TV Pública na Era Digital, organizado pela Rede Minas na última quarta-feira, dia 31 de outubro, em Belo Horizonte.

Também autora do livro TV Pública - A democracia no ar, Regina não trouxe respostas prontas. Pelo contrário: instigou os presentes – em sua maioria jornalistas e profissionais de televisão – a refletir sobre o que, de fato, significa uma TV a serviço do povo. Para ela, o país precisa batalhar pela constituição de uma TV efetivamente pública, que garanta um lugar para a expressão da diferença e permita a invenção do mundo.

A questão-chave por trás desses desafios, para Regina, é nossa relação com o outro. A presença deste “outro” na televisão privada brasileira é vista por ela como desigual e autoritária. “Assim como no processo de civilização branca, o jornalismo tenta civilizar para converter”, destacou. Numa exposição bastante provocativa, defendeu ainda a atualidade do Manifesto Antropofágico, de Oswald de Andrade (1928), que pregava o interesse pelo conflito, pela diferença e pela mudança. “Ainda não sabemos lidar com o outro”, reconheceu, após mostrar trechos da participação de Mano Brown no programa Roda Viva, da TV Cultura.

Para ela, a atual decisão de dar início às transmissões da TV Pública em São Paulo e nos grandes centros urbanos é equivocada, porque aumenta a desigualdade entre as cidades ricas e as mais carentes. Sua proposta é inverter essa lógica, com a criação de uma rede a partir do interior do país, que coopere inclusive com o desenvolvimento da tecnologia e da linguagem a ser adotada pela nova TV.

A Internet pode ser vista como uma referência das mudanças que estão por vir, como a produção colaborativa e não autoral. “Questões como a necessidade ou não de formação também estarão em jogo”, disse, apostando ainda que os novos sentidos para a tecnologia irão demandar um outro tipo de profissional, com habilidades de engenheiro, tecnólogo, jornalista e, especialmente, artista.

Um comentário:

Elisandra Amâncio disse...

Ei Júlia! Muito legal sua matéria! Quando crescer, quero escrever bonitinho assim, que "nem" você!
Espero vê-la na reunião de pauta amanhã a noite ok?

beijos minha nova amiga!